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A vez do queijo

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 26/01/2011

6 MIN DE LEITURA

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Ao se analisar o mercado de leite no Brasil, é comum a separação dos blocos "produtor", "indústria" e "varejo". Porém, essa análise bastante agregada nem sempre é a melhor maneira de analisar os preços e margens em cada elo. Um produtor de leite de, digamos, 5.000 litros, com constância e qualidade, em uma bacia leiteira onde há grande competição, está em um negócio totalmente diferente de um produtor de 100 litros diários, com problemas de qualidade e localizado em uma bacia onde há poucos compradores, ainda que os movimentos de mercado afetem logicamente a ambos.

No caso da indústria, algo semelhante ocorre. Uma indústria que possui produtos de alto valor agregado e marcas fortes estará competindo em um mercado bastante distinto de uma indústria focada no segmento de commodities. Mesmo no caso dos principais derivados do leite, há uma diferenciação relevante; nem sempre os principais produtos se comportam de maneira semelhante. A tônica deste artigo é justamente comparar os principais produtos - leite UHT, queijos e leite em pó, tendo como base o leite ao produtor, em relação ao comportamento dos últimos 3 anos.

O gráfico 1 mostra a evolução dos preços no atacado e ao produtor, desde janeiro de 2007, corrigidos pelo IGP-DI. Janeiro de 2007 marcou o início da elevação das cotações externas e o aumento da volatilidade (na verdade, isso ocorreu alguns meses antes, mas há um intervalo de tempo até que os efeitos fossem sentidos por aqui). Note que, no caso de leite em pó, só temos os dados disponíveis até junho, o que prejudica a análise até o final de 2010. De qualquer forma, o pó não variou tanto após esta data, de forma que um eventual prolongamento do último registro não incorreria em erro tão significativo.

Percebe-se, pelo gráfico, refletindo os preços corrigidos pela inflação, que a variação de preços é significativa e que, no geral, os derivados têm tido picos mais altos do que o preço ao produtor, assim como vales mais baixos. O pó teve seu momento melhor em 2007, seguindo as fortes altas do mercado mundial e quando a oferta desse produto era menor no país. Com o investimento em novas fábricas, na expectativa de um novo patamar de mercado que, durante 2008, 2009 e parte de 2010 não se tornou realidade, aliado a um câmbio continuamente desfavorável, a oferta interna cresceu e, com ela, o espaço para elevações na cotação do leite em pó foi bastante reduzido. O período pior, contudo, envolveu o final de 2008, 2009 inteiro e uma parte de 2010, trazendo dificuldades para o segmento.

Queijos e longa vida tiveram comportamento muito semelhante entre si ao longo do tempo, exceto a partir de março de 2010, quando o segmento queijeiro descolou do UHT, apresentando forte elevação e terminando o ano com valores quase 30% mais altos do que em janeiro de 2007, em valor real.

Ao final de 2010, o leite UHT reportava um aumento menor do que o preço ao produtor. Na média do período até novembro de 2010, os valores são: 124 para queijos, 116 para UHT e 122 para o produtor. Pó, com base até junho, apresentou o valor de 122.

Nota-se, ainda no gráfico 1, que o movimento nos preços ao produtor guarda uma defasagem de 1 a 2 meses em relação ao comportamento do leite UHT, principal determinante dos preços ao produtor nos últimos anos.

Clique na imagem para ampliá-la.

Mas a análise pura e simples dos preços não conta toda a história em relação à atratividade dos segmentos. Dentro disso, procuramos analisar a margem bruta de cada derivado, subtraindo do valor médio do atacado o custo da matéria-prima a cada mês, aplicando logicamente o rendimento industrial médio necessário para a produção de cada um dos derivados (utilizou-se 9 para 1 para queijos e 8,2 para leite em pó). Por fim, deflacionamos para permitir a comparação no tempo e indexamos novamente em base 100-janeiro de 2007, para permitir a comparação entre os produtos.

Uma maneira de explicar essa informação é o quanto sobra para a indústria após pagar a matéria-prima, que é o principal e mais variável custo nos produtos mais comoditizados. Desta forma, é um indicador da rentabilidade de cada segmento, sempre lembrando que outros itens de custo podem ter variado no período, de forma que se trata de um indicador e não da rentabilidade real do setor.

O gráfico 2 traz estes dados.

Clique na imagem para ampliá-la.

Em linhas gerais, o comportamento já verificado no gráfico 1 se repetiu aqui, porém em maior intensidade. A média do período até junho de 2010 indica valores próximos na margem bruta do UHT, do pó e do queijo, com alguma desvantagem para o UHT: 112, 122 e 126. Já os dados referentes a 2010 mostram a mudança de patamar do segmento de queijos, cuja margem relativa foi 46% maior do que a de janeiro de 2007, contra apenas 107 do segmento UHT.

Certamente, além do segmento de iogurtes, não analisado, o aumento de renda das classes C, D e E tem exercido no segmento de queijos seu efeito mais pronunciado. Alguns dados indicam aumento de 16% nas vendas em 2010. Os dados da Pesquisa do Orçamento Familiar de 2008/09, do IBGE, mostram claramente o efeito renda no consumo de queijo das famílias, como pode ser visto no gráfico 3. O gasto mensal em R$ aumenta quase 18 vezes ao se comparar a faixa mais baixa com a mais alta. Considerando que a renda deve continuar a crescer, principalmente nos segmentos mais baixos da pirâmide, o futuro do consumo de queijos no país é bastante promissor.

Para efeito de comparação, o gráfico 4 traz os dados da POF 2008/09 relativos ao leite em pó. Percebe-se que, à exceção da faixa de renda mais alta, que representa muito pouco da população, o consumo familiar pouco varia com o aumento da renda. O consumo de leite em pó pode aumentar indiretamente, através dos diversos usos na indústria de alimentação e no food service, mas mesmo assim o potencial de consumo é bem inferior ao esperado para os queijos (e iogurtes). Assim, se não houver competitividade para exportação, novos investimentos em plantas de secagem são difíceis de se justificar.





O ano de 2010 parece sinalizar um novo momento para o setor de queijos em relação a potencial de crescimento. No entanto, há que se fazer algumas ressalvas. A primeira é que, dada a elasticidade-renda, a taxa de crescimento do mercado depende fundamentalmente da continuidade do crescimento da renda per capita. Ainda que, no longo prazo, pouca gente duvide dessa tendência, no curto prazo podem haver períodos menos atraentes. O novo governo iniciou um ciclo de alta dos juros, por exemplo, que pode afetar o consumo e, nesse caso, produtos como queijos e iogurtes tendem a ser mais afetados do que leite, por exemplo.

A segunda é que, acompanhando a elevação do consumo, tivemos importações recordes de queijo em dezembro: 5.000 toneladas, quase a totalidade proveniente do Mercosul, que nesse momento negocia com a Europa acordo comercial envolvendo lácteos. Vale lembrar que é no segmento de queijos que a Europa deposita suas principais esperanças de ser competitiva no cenário global de lácteos. Desta forma, tanto os eventuais acordos intra-Mercosul como os deste com outros players revestem-se de importância crescente no que se refere ao desenvolvimento da indústria queijeira.

O terceiro e último aspecto é que, com as expectativas de crescimento, virá o capital. Não será surpresa - pelo contrário - se os investimentos neste segmento vierem a crescer nos próximos anos, atraindo inclusive novas empresas para o mercado, o que representa oportunidades para os mais preparados e, de outro lado, ameaças para os que estão apenas focados no bônus proporcionado pelo presente.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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EMMANUEL MARTINS

JUSSARA - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 09/03/2011

Parabéns Marcelo esse artigo revela o que um bom conhecedor do mercado já sabia que isso
ia acontecer, mas devemos cuidar para que todos da cadeia sejam beneficiado.
Abraço;
JAVIER SANDRONE

TRADER

EM 24/02/2011

Parabens Marcelo Pereira de Carvalho pelo artigo! A dinamica de fusoes e concentracao da industria de laticinios no Brazil, e uma realidade certa... O fluxo do dinheiro que acompanha essas fusoes, tem que ter um objetivo certo e definido: transformar a nova empresa numa empresa de competencia internacional (investimentos em tecnologia de po ou produtos secos..) ou converte-la num player forte dentro do mercado interno (tecnologia de queijos ou produto frescos...). Po ou queijo? Voce abriu o jogo... Agora a industrias tem que fazer suas apostas... Novamente, parebens....
MOSHE DAYAN FERNANDES DE CARVALHO

GARANHUNS - PERNAMBUCO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 15/02/2011

Caro Marcelo parabens pelo artigo.
HIGOR DONIZETE SOLER

MONTE APRAZÍVEL - SÃO PAULO - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 06/02/2011

Parabéns, pelo artigo um abrço
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 31/01/2011

Obrigado a todos pelos comentários!
NIVALDO SILVA

GOVERNADOR VALADARES - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 28/01/2011

ola!!!!
parabens marcelo pelo o artigo!
como ja dizia meu querido avó, qui DEUS o tenha, quem dera ser 30 por cento de nos produtores de leite tivessemos acesso a artigos como esse, aqui vc possa nos trazer sempre informaçao como estas, qui DEUS te ilumine sempre, um grande a braço..
FÁBIO HENRIQUES DE BARROS PIMENTEL

OUTRO - SÃO PAULO - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 28/01/2011

Parabéns. Texto objetivo e detalhado.
WILDOMAR JOSÉ DE OLIVEIRA

UBERABA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 27/01/2011

O produtor de leite que fornece a matéria prima para produção de queijos deveria também ser beneficiado pela onda e participar dos lucros. Afinal no mercado moderno todas as etapas da cadeia produtiva tendem a participar dos lucros. Porque não contemplar o produtor de qualidade com preços mais condizentes com a qualidade?
Assim estimularia o produtor a trabalhar mais os sólidos. Talvez esses acontecimentos citados pelo Marcelo é um prenuncio de que as coisas estão mudando também no conceito de como produzir leite no Brasil.

Wildomar
JEFFERSON BRISON BRASIL

PONTE NOVA - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 27/01/2011

Marcelo, parabéns pela matéria!
Importante ressaltar a importância do crescimento da renda per capita para o setor de queijos e devemos ficar sempre atentos à distribuição da renda. Recentemente o país concilia um período de crescimento econômico com uma melhor distribuição de renda, mas temo que com o aumento menor do salário mínimo e o aumento da taxa básica de juros dificulte a continuação das melhorias na distribuição de renda, levando a uma estagnação do mercado de queijos e outros derivados que apresentam elasticidade de renda.
JOSUE DA CONCEIÇÃO SILVA

RIO DE JANEIRO - RIO DE JANEIRO

EM 27/01/2011

Esta de parabéns, Marcelo Pereira de Carvalho e Milkpoint e por este artigo bem elaborado pois este grafico indica a valorização dos derivados em sua segmentaçao
JEFFERSON LEDERER

CASTRO - PARANÁ

EM 27/01/2011

BOM DIA. SENHORES.

ESPERO QUE MEMBROS DO GOVERNO NÃO INTERFIRAM NO CONSUMO DE QUEIJO E OUTROS, JA QUE ESPERAMOS UMA MELHOR ESTABILIDADE DE VALORES PARA ESTE ANO, POIS ALGUM SANGUI-SUGA PODE TRAZER PRODUTOS DERIVADOS DE OUTROS PAISES VIZINHOS E ALEM DE GANHAR MUITO DINHEIRO COM TRANSAÇÃO COMERCIAL VAI ACARRETAR BAIXA NO VALOR DA MATERIA PRIMA PAGA AO PRODUTOR.

*OBS. MUITO BOA MAERIA DO SR. MARCELO PEREIRA.
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 27/01/2011

Olá Frederico e Paulo,

Obrigado pelos comentários!

Abraço,

Marcelo
PAULO

CAMPINAS - SÃO PAULO - DISTRIBUIÇÃO DE ALIMENTOS (CARNES, LÁCTEOS, CAFÉ)

EM 27/01/2011

EXCELENTE.

O Marcelo é um grande conhecedor deste mercado!

Acrescentando, a influencia de uma grande multinacional na compra do leite,facilita ou agrava toda cadeia produtiva.

Paulo
FREDERICO FLAUZINO

XINGUARA - PARÁ - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 27/01/2011

Texto objetivo, que deixa claro o quanto os varios segmentos da cadeia, associados a fatores economicos, podem alcançar posição de destaque que a anos não se via. No caso dos queijos, principalmente o queijo mussarela, que quase sempre esteve na gangorra do pequeno lucro ou na luta por perder o menos possivel. Aliado ao aumento no consumo, acredito que as plantas continuem em processo de modernização, melhorando a relação " litros por kilo ". E de suma importancia para a atividade, que mais derivados alcancem e se mantenham em patamares interessantes, e que as medias de preços para comercialização permaneçam firmes.
> Parabens ao Marcelo Pereira de Carvalho e a equipe Milkpoint por mais este artigo.

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