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A produção animal e a sociedade

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 11/08/2010

7 MIN DE LEITURA

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Em junho último, dei uma palestra sobre a importância da comunicação na difusão dos conceitos de sustentabilidade nas propriedades. Na verdade, esse era o título que me foi sugerido, mas resolvi adaptá-lo e foquei muito mais na comunicação do setor para a sociedade, por entender que é aí que reside hoje o principal problema nessa questão.

Essa realidade pode parecer ainda distante da cadeia do leite, ao menos aqui no Brasil. Lá fora, é um dos dois itens prioritários na agenda das lideranças setoriais, ao lado das questões nutricionais do leite, com o teor de gordura e de gordura saturada. Aliás, é interessante notar que os dois principais itens da pauta não estejam exatamente relacionados à produção de um produto de qualidade à custo competitivo, o que seria de se esperar em se tratando de um alimento, mas sim ao comportamento do consumidor e à preservação dos recursos naturais, mostrando que há a necessidade de um diálogo diferente com o consumidor.

A cadeia da carne, não há dúvida, está bem mais exposta às questões ambientais, seja pelo número de animais bem superior, seja pelo dilema amazônico, seja pela área ocupada, muito maior e, de forma geral, pouco eficiente. As recentes campanhas levadas à cabo pelo Ministério Público Federal, a respeito da ilegalidade ambiental, trabalhista e fiscal, dão uma mostra do que pode vir por aí:
 

 


Nesse caso, a ação é do MPF, mas via de regra há ONGs com grande espaço na mídia e poder de mobilização por trás de algumas propostas que são prejudiciais ao setor.

Não acho que a presença de ONGs seja negativa a princípio - muitas vezes elas conseguem mudar realidades que precisam ser alteradas de forma mais eficiente até do que governos, principalmente quando atuam em cima de marcas globais. Em maior ou menor grau, representam os anseios da população ou de parte dela e, em última análise, fazem parte do jogo democrático. Justamente por ter estas nobres credenciais, muitas vezes há abusos que passam incólumes, ganhando o apoio da mídia e da população.

Mas a produção animal é, de fato, vilã do aquecimento global? Faz sentido, como querem alguns extremistas, deixar de consumir proteínas animais, sob o risco de criar o caos ambiental caso isso não seja feito?

A questão é bem mais complexa do que isso. Primeiro, é preciso lembrar que a sustentabilidade envolve três vertentes: ambiental, social e econômica. Cerca de 20% da população mundial, ou 1,3 bilhão de pessoas, dependem hoje da produção animal, predominantemente nas regiões mais pobres do globo, onde 36% da população vive da produção animal, o que confere enorme importância social. Economicamente, a importância é menor: 1,4% do PIB mundial, de fato desproporcional aos 10-12% do total de gases de efeito estufa emitidos (trabalho recente realizado pela FAO em parceria com a Federação Internacional de Lácteos indica que a cadeia do leite é responsável por 4% das emissões de gases de efeito estufa pelo homem). No caso da produção animal, portanto, não se pode analisá-la ambientalmente sem avaliar a vertente social. Assim, propostas no sentido de reduzir o consumo de proteína animal são não apenas inviáveis, como socialmente perversas, tanto em função da questão social de quem produz, como do acesso a essas proteínas por parte de quem nunca teve (e, agora, com o aumento da renda, começa a ter). O que se pode discutir é que, dados os níveis de obesidade nos países desenvolvidos, principalmente na América do Norte, faça sentido uma reeducação alimentar que pode passar pelo consumo mais moderado de gordura saturada.

Outra análise superficial e em geral equivocada refere-se à competição por grãos entre os animais e seres humanos. Nos sistemas mais intensificados (e na exploração de monogástricos), pode-se argumentar nesse sentido, mas não quando se analisa a produção animal como um todo: afinal, segundo a FAO, cerca de metade da área de pastagens é imprópria para a agricultura e a produção animal nestas condições é a maneira de transformar celulose em proteína animal de alta qualidade, alimentando bilhões de pessoas. Aliás, o metano, o principal gás emitido pelos bovinos, é resultado da fermentação da fibra nesse processo - o ônus que permite essa conversão, sem a qual a fibra não seria aproveitada pela população humana.

Mas é outro fator que, definitivamente, tem o potencial de transformar a produção pecuária de vilã em mocinha dessa história. No caso do leite, dados recentes indicam que a produção de um kg de leite corrigido para gordura gera entre 1,3, e 7,5 kg de CO2 equivalente - uma variação significativa, portanto. Em geral, quando menos intensivo é o sistema, maior a emissão de gás carbônico por kg produzido, Considerando que a produção pecuária nos trópicos em geral apresenta baixa produtividade, é possível reduzir em muito as emissões através de práticas que envolvam o aumento da eficiência do sistema: maior produtividade por animal, maior produtividade por área, etc. Comparativamente, a tarefa é muito mais inglória nos países com produção intensificada, pois as melhorias tendem a ser graduais, visto que o grosso já foi feito. É de certa forma irônico, mas é a realidade.

Essa é uma força e, ao mesmo tempo, uma fraqueza da produção nos trópicos. Força porque, como já colocado, talvez seja a atividade com maior possibilidade de geração de impactos positivos no que se refere à redução da emissão de gases de efeito estufa entre todas as atividades antropogênicas, sem que haja necessidade de se reduzir a produção. Fraqueza porque, enquanto isso não ocorrer, pode virar vidraça. Dados da FAO (2010) indicam, por exemplo, que a América Central e do Sul emitem o dobro de gases de efeito estufa para produzir seu leite em comparação a América do Norte, apesar de produzir cerca de 25% menos leite. Com efeito, as regiões mais eficientes em relação aos gases de efeito estufa são a América do Norte, a Oceania e a Europa. As menos eficientes, a América do Sul e Central, a África e o Sul da Ásia.

A discussão, enfim, não é se deve haver ou não produção animal, mas sim quais sistemas são mais eficientes para, ao mesmo tempo, alimentar uma população crescente, que atingirá 9 bilhões de pessoas, e preservar o clima e os recursos naturais. E essas pesquisas ainda estão em seu início, representando enorme potencial futuro.

Para complicar, não há uma relação evidente entre eficiência ambiental e custos de produção. Tirando a Oceania, eficiente nas duas vertentes, em geral os países com maior eficiência ambiental são os que produzem o leite mais caro. Há, desta forma, um trade-off.

O contexto é, sem dúvida, complexo. De uma lado, tem-se uma população cada vez mais urbana e distante da realidade do campo; do outro, tem-se a questão climática, que ganhará importância cada vez mais maior. No centro disso, a produção pecuária. O que fazer?

Há várias abordagens possíveis para o setor. A primeira, ignorar o problema adotar uma postura defensiva, não é recomendável, pois o efeito será evidentemente alimentar as desconfianças da sociedade e aguçar o faro dos tubarões. Evidentemente, se os ataques forem pesados, é preciso reagir. Mas apenas reagir não basta. A postura mais vencedora é:

- acompanhar ativamente o marco legal, participando dos grupos de trabalho nacionais e internacionais;
- acompanhar o que diz a mídia, o que fazem as OGNs, como pensa o consumidor a esse respeito;
- investir no levantamento de informações científicas junto aos órgãos responsáveis, como fez a FIL-IDF junto a FAO;
- implantar linhas de pesquisa aplicadas;
- preparar porta-vozes capacitados a conversar com a mídia e governos;
- dialogar com os stakeholders, incluindo ONGs;
- mostrar que há convergência de interesses;
- reconhecer a relevância da produção animal na questão da emissão dos gases de efeito estufa, mas ao mesmo tempo mostrar i) a importância social e nutricional da atividade no mundo; ii) as amplas possibilidades de melhoria, tornando a produção pecuária potencialmente a "mocinha" dessa história; iii) o que já vem sendo feito de bom nesse sentido*.

Um posicionamento como esse gera credibilidade e possibilita o resgate do apoio da população à produção animal.

Tudo isso envolve um comportamento que tem sido escasso no setor rural brasileiro, até porque a conjuntura anterior não o demandava. É preciso, nesse novo contexto, um forte esforço de comunicação transparente com a sociedade, tomando a iniciativa, ao invés de apenas se defender diante das críticas, muitas vezes - mas nem sempre - infundadas.

Assistiremos, nos próximos anos, à intensificação do debate em torno das questões ambientais e será fundamental que saibamos encarar a realidade e organizar nossas ações, transformando esta potencial ameaça em uma grande oportunidade.

*Diversas entidades do setor lácteo mundial criaram um documento vivo chamado "Green Paper", com o intuito de documentar progressos em itens como redução da emissão de gases de efeito estufa; aumento da eficiência do uso de energia; aumento da eficiência no transporte, processamento e acondicionamento de leite, e avaliação da Análise do Ciclo de Vida do leite (LCA).

 

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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MARCELLO DE MOURA CAMPOS FILHO

CAMPINAS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 18/08/2010

Caro Marcelo

Continuação

Já manifestei minha opinião em discussões sobre sistemas de produção que não tem sentido comparar teóricamente se a melhor opção para o produtor de leite produzir em confinamento ou utilizando pasto com suplementação de volumoso e concentrado no cocho, pois a ecolha depende defatores como capacitação técnica e possibilidades de recursos próprios e/ou financiamentos do produtor, da possibilidade de assistência técnica que o produtor poderá receber e das condições da propriedade onde ele irá produzir leite. A todo um caminho a percorrer, que poderá até começar de uma forma e ao longo do tempo evoluir para outra. Cada caso é um caso, e o mais importante é o produtor ter assistência técnica que lhe permita evoluir de forma sustentavel na pecuária.


Na Fazenda Moura, em Botucatu - SP, começamos a produzir leite a 47 anos atrás, com umas vacas de baixa produtividade, que tinham finalidade mais de leite para consumo na propriedade e produzie esterco para misturar com a palha do café, que era nossa produção. Eram umas 40 vacas, mantidas em pastos na área que não tinhamos café, em lactação produzindo uma média de 200 litros dia. A partir daí começamos a aumentar gradativamente a produção de leite a medida que diminuiamos a produção de café, melhorando o gado, o pasto, começando usar concentrado para atender a necessidades de produção, compramos animais gir e holandeses e passamos a usar insiminação artificial com bois selecionados dessas raças.

Hoje produzimos leite com vacas mestiças de holandês e gir leiteiro, selecionadas a anos com melhoramento genético através de insiminação e transferência de embrião, com um grau de sangue holendês que varia entre 50% e 87,5%, que produzem sem bezerro ao pé e com elevada persistência leiteira. São 80 vacas em lactação, com uma média de 22,5 litros/vaca e 1.800 litros/dia, que utilizam 10 hectares de pastagem irrigada e 20 hectares para produção de silagem, o que representa uma produtividade de 21.900 litros por ha/ano, o que está compatível co padrões de produtividade de paises da Europa, da Nova Zelândia, dos USA e do Canadá.

Esse caminho foi função das nossas possibilidades de recursos e da evolução da nossa capacitação com produtores de leite, e sem dúvida representa uma evolução significativa tanto na produtividade leiteira como na redução de emissão de gases por litro de leite produzido. Sabemos que temos que continuar a evoluir, buscar continuadamente o nosso aperfeiçoamento em temos de produtividade, custos competitivos e da preservação ambiental, e isso poderá ou não mudar nosso sistema de produção.

O importante é que o Governo, a indústria e os produtores se empenhem para que, independentemente do sistema de produção, a pecuária leiteira nacional possa evoluir para atender as expectativas da sociedade em termos de produtividade, a competitividade e necessidades ambientais.

Grandre abraço

Marcello de Moura Campos Filho

MARCELLO DE MOURA CAMPOS FILHO

CAMPINAS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 18/08/2010

Marcelo

Parabens pelo editorial,bastante oportuno para a reflexão dos produtores de leite. Não resisti a antes de sair de viagem para o exterior de fazer alguns comentários.

Naturalmente que vemos colocações de "ambientalistas" totalmente absurdas, mas sem dúvida é preciso trabalharmos para proteger o meio ambiente. O que é preciso é encontrar o equilibrio entre a necessidade de produzir alimentos e de proteger o meio ambiente, ambos fundamentais para a preservação da raça humana.

Sendo que a emissão de gase por uma vaca pode ser considerada como um valor fixo, o valor váriavel por litro de leite produzido depende da produção da vaca. Assim tudo endica que as vacas mais produtivas são as que apresentam menor emissão de gases por litro de leite.

O Roberto Yank Jr. chama a atenção que enquanto europeus, neozelandesee, norteamericanos e canadenses produzem com produtividade ente 7.000 a 15.000 kg de leite por ha/ano. no Brasil temos uma produtividade de apenas 1.300 kg de leite por ha/ano para produzir os nossos 28 bilhões de litros anos.

A pecuária de leite brasileira é realmente um absurdo em termos de produtividade, de forma que não tenho dúvidads que precisamos de trabalhar muito para aumentar a produtividade e reduzir a emissão de gases por litro de leite produzido. Nesse sentido um trabalho dos lacticínios e importante, no sentido de valororizar o leite com menor emissão de gases, ou seja dos produtores que trabalham com animais de alta produtividade.

O amigo Clemente, que radicaliza dizendo que trabalhar com pasto é burrice sem precedentes, e afirma que a maneira mais fácil de baixar custos, aumentar a renda e calar a boca de "ambientalistas" é produzir lrite em confinamento.

O que não podemos admitir mais é produzir leite de forma extensiva com está sendo feito no Brasil, e a burrice maior talvez seja não de quem produz dessa forma, mas de quem compra esse leite e de nossos Governantes que nada fazem para mudar essa situação.

Mas leite a pasto com suplementação de volumoso e concentrado no cocho, de forma a assegurar a produção de vacas leiteiras produtivas e persistentes me parece uma solução muito boa para quem não tem recursos e possibilidades de financiamento para implementar o elevado investimento que representa produzir leite num sistema de confinamento.

Continua na carta seguinte

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 16/08/2010

Caros Clemente e Roberto,

Obrigado pelos comentários, que como sempre trazem visões complementares e úteis à análise inicial.

abraços,

Marcelo
ROBERTO JANK JR.

DESCALVADO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 15/08/2010

Marcelo,
Concordo com sua análise e com a importância do tema.
Nos países com virtudes agropecuárias e em crescimento econômico como é o nosso caso, onde certamente a produção vai ter que crescer para suportar a demanda futura, sugiro que a tônica de nosso discurso esteja baseada na intensificação da produção.
Em primeiro lugar porque produzir mais por ha é a melhor maneira de suprimir a abertura de novas áreas na fronteira agrícola ou na Amazônia legal; segundo porque essa é a forma mais racional de economizar recursos naturais como terra e água por unidade produzida.
Os Norteamericanos já comprovaram que a "pegada de carbono" de sua atividade leiteira por unidade produzida nos anos 2000 é apenas um terço da praticada nos anos 1960; a principal razão foi a intensificação da produção somada a boas práticas na dispersão dos dejetos.
Temos tudo para isso; enquanto Europeus, NZelanders, Canadenses e Norteamericanos produzem entre 7 e 15 mil kg de leite por ha/ano, nós ainda estamos na casa dos 1,3 mil kg/ha/ano, utilizando mais de 21 milhões de hectares para produzir nossos 28 bilhões de litros de leite.
Intensificar a produção Brasileira seria um jogo de ganha-ganha com ambientalistas, produtores, consumidores e até mesmo com ongs mais radicais. Também não é difícil verificar ganhos na qualidade da matéria prima, logística e eficiência sistêmica que a intensificação certamente traria para os segmentos industrial e varejista.
Sugerir um viés com esse conceito nas políticas governamentais seria muito importante atualmente, principalmente através do MDA, já que o hoje investimento no setor lácteo é expressivo e crescente por essa via.

CLEMENTE DA SILVA

CAMPINAS - SÃO PAULO

EM 11/08/2010

Marcelo, na minha opinião esse vídeo do MPF é a maior palhaçada dessess caras que não sabem onde têm o nariz e querem se fazer conhecidos através de um documento político sem respaldo e sem fundamento. Se no Brasil existe carne ilegal, isso sim seria da alçada do Ministério Público e cabe a eles tomarem as devidas providências a fim de acabar com a ilegalidade, assim como o tráfico de drogas e a entrada desses produtos no Brasil no entanto, eles nada fazem. Os depoimentos dos deputados, Giovani Queiróz Ronaldo Caiado e do Abelardo Lupion, cheios de indignação, não seria para menos diante de tamanha idiotice, é muito oportuno, mas eles tampouco apresentam uma alternativa para o "controle do desmatamento na amazônia e também do serrado central" e a coisa é de certa maneira muito simples, bastaria obrigar o produtor de bois de corte a se adequar a uma realidade que até hoje só se fala, mas, ninguem tem coragem para por em prática para valer, que é a ocupação ociosa das terras, sem controle zootécnico e reprodutivo dos animais em grandes propriedades. Em 1986 eu fui convidado por uma dessas propriedades a por ordem na casa que com seus 60.000 Alqueires goianos de terra, eles estimavam que possuiam 50.000 cabeças de vacas de cria e uns 1500 touros. Eu quiz saber quantos bezerros desmamados eles estavam tirando por ano e fiquei boquiaberto com as respostas. 15.0000 a 18.000, no máximo. Perguntei sobre os retiros e a infraestrutura. 12 retiros com troncos e balança, bem distribuidos, gente, de montão. Salário, o mínimo dos mínimos. Pergunta mais difícil de se fazer: qual o salário do administrador? Quatro salários mínimo! Ah que ótimo! 60.000 alqueires dobrados de terra, 50.000 vacas, mais de quarenta famílias para cuidar, a 200 kms da cidade mais próxima... desculpem, mas isso explica porque tantas vacas vazias e outras coisas também. Não vou nem perder o meu tempo fazendo uma visita a propriedade. É assim Marcelo em grande parte do Brasil. Há verdadeiros latifundios onde o objetivo primário foi a extração da madeira de boa qualidade e hoje, mantêm uma falsa produção que eu diria ser mais ocupação precária do solo. Numa propriedade dessa dimensão, pode-se criar muito bem cinco vezes mais animais, em menos de 20% da propriedade, desde que se faça a coisa certa.
O Brasil sofre de dois males crônicos: um é o tal boi Branco e o outro é a Brachiaria. Enquanto persistir essa mentalidade, os problemas só se avolumarão.
A vaca Nelore por exemplo, foi a maior dádiva que Deus deu a esse nosso país, já que atraves dela, podemos deitar e rolar em termos de avanços tacnológicos em bois de corte, mas, infelizmente é preciso um pouco mais de trabalho e dedicação e isso, não é bem oque o pessoal que se diz produtor de carne pensa; é lamentável. Abraços.
CLEMENTE DA SILVA

CAMPINAS - SÃO PAULO

EM 11/08/2010

É Marcelo, eu tenho que parabenizá-lo mais uma vez, por este excelente relato.
Há mais de trinta anos passados, o saudoso professor Mário Henrique Símonsen já dizia que o Brasil andava sempre na contra mão do progresso e eu, acrescento: Além de andar ainda hoje na contra mão, o brasileiro vive também, querendo reinventar a roda. Oque se ouve de blá blá blá, sobre temas que não merecem duas palavras, é de deixar a gente com alguma coisa muito sensível, arrastando no chão. Quando estrangeiros em visita por nosso país retornam a seus países de origem e emitem seus pareceres sobre nós, ficamos fulas da vida, como foi o relato do Silvester Stalone. Quando uma candidata a nos governar nos próximos quatro anos, sem preparo, sem visão do próprio nariz e ainda por cima truculenta, dá entrevistas evasivas, com respostas agrassivas e sem nexos, achamos que é isso mesmo, que tem que botar pra quebrar, que é por aí, que nosso povão vai seguir melhorando seu status social. Quando com base em muitos anos de experiência e trabalho duro, defendemos por exemplo que gado confinado é mais produtivo e rentável, que o extensionismo é contra producente, que uma fazenda de corte com gado a pasto não consegue colocar mais de duas cabeças de gado por hectare de terra e leva três anos para tirar um boi meia boca para o abate, caem sobre a gente, como vespas ferozes, e até alguns idiotas que defendem o tal boi natural, sem ao menos saberem como é que se faz boi de corte, se em fazendas ou em fábricas numa linha de montagem. Com o leite não é diferente, haja vista o choque de opiniões que temos presenciado nos vários foruns aqui mesmo no Milkpoint. Apesar de se discutirem no mundo inteiro o problema do efeito estufa, aqui no Brasil, crescem as adesões por sistemas de produção extensivos tanto de carne quanto de leite e oque é pior... apoiado por aqueles gringos que lá em seus países de origem dizem que o Brasil está depredando as florestas da amazônia. Na verdade, o Brasil tem que aprender a desfrutar da terra com inteligencia, copiando modelos de sucesso que possam serem adaptados aos nossos, explorando ao máximo o potencial de nossas terras, racionalizando tempo e espaço, ou seja; em se tratando de bois de corte, usando cruzamentos com raças comprovadamente precoces, com terminação em confinamento e no leite, volto a insistir; Trabalhar em regime de pasto, é de uma burrice sem precedentes, já que mesmo mecanizando com sistemas de irrigação e toda tecnologia disponível não se consegue mais que 60% de desfrute da terra. E para terminar, confinamento tanto em corte quanto em leite é a maneira mais fácil e segura de baixar custos, aumentar renda e calar a boca dos ambientalistas, já que a maioria das propriadades que trabalham em sistemas extensivos tem suas terras desmatadas e sub utilizadas. No geral, o Brasil tem potencial para produzir o triplo de carne sem desmatar mais nem um metro de área e de dobrar a produção de leite, com sistemas inteligentes e eficientes. Abraços.

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