O período de transição é tipicamente definido como 3 semanas antes do parto até 3 semanas após o parto (Drackley, 1999). É uma fase crítica para as vacas em lactação e requer manejo nutricional intensivo.
Devido à demanda por energia ser mais pronunciada na primeira semana seguinte ao parto, associada a diminuição do consumo de matéria seca, é quase impossível atender as exigências nutricionais e evitar o balanço energético negativo, que resulta em mobilização das reservas corporais de gordura e músculo visando compensar o déficit dietético.
Além disto, em virtude do aumento do requerimento por proteína pelo tecido mamário e crescimento fetal, ocorre também balanço proteico negativo, descrito como tão importante quanto o balanço energético negativo (Larsen et al., 2014). A combinação destes fatores resulta em um incremento na incidência de desordens metabólicas (Drackley, 1999), deficiência da função imunitária e tecidual, além da redução na proliferação de tecidos viscerais e hepáticos, que pode ocorrer se o fluxo duodenal de aminoácidos indispensáveis (AAI) for limitado (Larsen et al., 2014).
Lisina e metionina são os dois aminoácidos mais limitantes nas dietas fornecidas a rebanhos leiteiros, mesmo que sigamos as recomendações nutricionais para esses aminoácidos, a redução do consumo de matéria seca (CMS) observada durante o período periparturiente (Vyas e Erdman, 2009) pode resultar em menor consumo destes aminoácidos essenciais quando a quantidade dos mesmos é calculada como um percentual da dieta e não como quantidades de AAI (g/d).
O incremento na proporção de lisina presente na quantidade total de proteína metabolizável da dieta pelo fornecimento de lisina ruminal protegida (LPR) pode ser utilizado para aumentar o desempenho das vacas no período de transição.
Um estudo foi conduzido visando entender os impactos da alimentação com LPR no pré e pós-parto, ou ambos, sobre o desempenho produtivo, saúde e concentração de metabólitos sanguíneos.
Foram utilizadas 75 vacas Holandesas multíparas distribuídas de forma aleatória em 2 tratamentos dietéticos antes do parto: dieta total com 0,54% de lisina protegida na matéria seca (PRE-L) ou sem LPR (PRE-C); após o parto, metade dos animais de cada um dos grupos pré-parto foram realocados em novas dietas, sendo: com 0,40% de lisina protegida na matéria seca (POS-L) ou sem LPR (controle, POS-C).
Foram avaliados peso corporal (PC), escore de condição corporal (ECC), CMS, produção de leite corrigida para energia (PLCE), rendimento dos sólidos do leite, concentração plasmática de lisina e outros aminoácidos e concentração sanguínea de beta-hidroxibutirato (BHB).
A suplementação com lisina promoveu aumento na PLCE e nos rendimentos de gordura, proteína, lactose e caseína do leite. Também houve redução das concentrações sanguíneas de BHB com suplementação de lisina, que é comumente utilizado para mensurar a oxidação de gordura na detecção de cetose devido a mobilização de reservas corporais.
Além disso, os animais que consumiram LPR durante o pré-parto apresentaram tendência a aumentar o CMS e maior peso durante o pós-parto. Girma et al. (2019) presumiram que o acréscimo no metabolismo de lisina incrementa a síntese de carnitina, aumentando assim o CMS e, consequentemente, reduzindo a produção de ácidos graxos não esterificados (AGNE).
Em conclusão, o suprimento de lisina disponível durante o pré-parto está associado a melhora do desempenho das vacas no pós-parto, no entanto, o fornecimento de lisina no pós-parto não apresentou efeitos sobre o desempenho dos animais, fundamentando a sugestão de Overton et al. (1996) e Socha et al. (2005) de que a maior resposta aos AAI fornecidos ocorre durante o início da lactação e assim deve ser fornecido antes do parto.
Contudo, como o fornecimento de 61 g de LPR por dia durante o pré-parto não aumentou a concentração plasmática de lisina (Lee et al., 2019), recomenda-se a adição de 98 g/dia visando um incremento na capacidade de dispersão dos aminoácidos essenciais e não-essenciais para utilização nos tecidos e absorção pela glândula mamária.
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Referências bibiolográficas
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