“Minha silagem ficou boa, eu colhi com automotriz”. Essa geralmente é a resposta padrão quando questionamos alguns produtores e técnicos sobre a qualidade do processamento de grãos da silagem. Mas sabemos que isso não é regra. O simples fato de ter sido produzida com uma automotriz não garante o ideal. É comum encontrarmos silagens com KPS (índice de processamento de grãos) abaixo de 50%, mesmo quando colhida com equipamentos do tipo automotriz e com sistema de “cracker”. Mas por quê? Bom, talvez esse assunto possamos deixar para um próximo artigo.
O fato é que a grande parte da silagem produzida no Brasil ainda é confeccionada com colhedoras acopladas ao trator, as quais, via de regra não possuem nenhum dispositivo que processa os grãos. Nos EUA e na Europa, desde 2000, as colhedoras dessa categoria já continham o dispositivo comumente chamado de “cracker”, porém no Brasil é algo recente. Quais resultados temos até o momento com essas novas opções? É possível produzir uma silagem com processamento adequado com essa nova solução?
Já abordamos em artigos anteriores aqui do blog a importância em se processar corretamente o grão, e o impacto que pode gerar no desempenho animal. Vale relembrar que o processamento ideal acontece quando pelo menos 70% dos grãos são quebrados em pelo menos 1/4 do tamanho original (Ferreira e Mertens, 2005). Uma pequena ranhura ou fissura no grão não é suficiente para garantir o máximo aproveitamento do grão pelo animal. Um grão partido em 4 pedaços (Figura 1) é passível de passar pela peneira de crivo 4,75 mm. Dessa forma, a proporção de grãos abaixo dessa peneira é um bom indicador da qualidade do processamento.
Figura 1. Ilustração de grão partido em 4 pedaços.
Um experimento recente conduzido no Instituto Federal do Espírito Santo – Campus Itapina estudou o efeito de um novo processador de grãos para colhedoras acopladas ao trator em diferentes tamanhos de corte (6 e 10 mm). O híbrido de milho foi colhido com teor de matéria seca de 37,7% o que proporcionou ao processador de grãos uma condição desafiadora. O processo de colheita foi realizado com a colhedora tradicional (sem processador) e um novo modelo com o processador de grãos.
Após a colheita, as amostras foram secas em estufa, sendo realizada a separação dos grãos da fração fibrosa pelo método de flotação e os grãos foram secos novamente. Posteriormente, os grãos foram peneirados em um conjunto de peneiras para o cálculo da proporção de grãos menor que 4,75 mm (% < 4,75 mm).
Figura 2. Foto do dispositivo processador de grãos.
Os resultados foram animadores e a colhedora com o dispositivo quebrador de grãos foi capaz de quase dobrar a % de grãos < 4,75 mm, independente do tamanho de corte (41,1 vs. 72,6 %, Gráfico1).
Gráfico 1. Proporção de grãos abaixo da peneira de crivo 4,75 mm em silagem de milho colhidas com colhedora acoplada ao trator regulada em dois tamanhos de corte (6 e 10 mm).
Um grande desafio das colhedoras dessa categoria sempre foi colher com tamanho de corte superior a 6 mm e garantir adequado processamento, não sendo possível atender conjuntamente adequado tamanho de partículas e processamento de grãos. Contudo, baseado nesse estudo abre-se essa oportunidade de conseguir confeccionar uma silagem que possibilite um ajuste na dieta de fibra fisicamente efetiva e também adequado processamento de grãos.
GUSTAVO SALVATI
Graduado em Zootecnia (UFLA), Mestrado em Nutrição de Bovinos Leiteiros (UFLA), Research Scholar (University of Wisconsin - Madison) e atualmente Doutorando no Programa de Pós Graduação em Ciência Animal e Pastagens (ESALQ)
LAERTE DAGHER CASSOLI
NILSON NUNES MORAIS JÚNIOR
THALES ALVES DUTRA LIMA
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JACOB LEONARDO VOORSLUYSCARAMBEÍ - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE EM 26/09/2018
Recente estudo feito na Holanda, mostra que diferentes máquinas produzem também silagens diferentes. Talvez algo a ser verificado.
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SALOMÃO GABRIEL DE SALESITAJUBÁ - MINAS GERAIS - CONSULTORIA/EXTENSÃO RURAL EM 26/09/2018
Primeiramente parabenizo ao autor pelo trabalho.
Tem sido um desafio para o pequeno produtor produzir silagem com tamanho de partícula adequado, matéria seca mais alta favorecendo acúmulo de amido e ao mesmo tempo obter grãos processados. Tenho visto no campo alguns híbridos que caracterizam-se por terem estrutura mais farinácea, oque facilita o processamento até mesmo em máquinas sem processador. Penso que as empresas de sementes e as entidades de pesquisas deveriam investir mais nesse segmento. Oque o Autor tem a me dizer sobre isso? Grato. |
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GUSTAVO SALVATIPIRACICABA - SÃO PAULO - CONSULTORIA/EXTENSÃO RURAL EM 03/05/2019
Prezado Salomão,
peço desculpas pela demora em respondê-lo. Quando a pergunta foi feita, ainda não tínhamos a resposta para ela. Recentemente, nosso grupo de pesquisa (Silveira, 2019), realizou uma pesquisa avaliando 3 híbridos (dentado, semi-dentado e duro) em diferentes maturidades (30 e 37% de MS) colhidas com colhedora tracionada por trator. O híbrido macio teve melhor processamento de grãos e mais amido degradável no rúmen independente do teor de matéria seca na colheita. O que demonstra que é um fator importante em maximizar a quebra do grãos e a sua subsequente digestão. Atualmente, estratégias como o tempo de estocagem no silo e colhedoras com processador de grãos podem ajudar a minimizar essas diferenças entre os híbridos. Abraços Gustavo |
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EM RESPOSTA A GUSTAVO SALVATI
SALOMÃO GABRIEL DE SALESITAJUBÁ - MINAS GERAIS - CONSULTORIA/EXTENSÃO RURAL EM 03/05/2019
Obrigado Gustavo. Mais uma vez parabéns pelo trabalho.
Como faço para ter acesso a esse trabalho sobre o processamento do grão? Grato. |
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EM RESPOSTA A SALOMÃO GABRIEL DE SALES
GUSTAVO SALVATIPIRACICABA - SÃO PAULO - CONSULTORIA/EXTENSÃO RURAL EM 03/05/2019
Posso lhe enviar via e-mail. Ele está no formato de tese (o acesso ainda não está disponível via biblioteca ainda) e não foi publicado em uma revista científica ainda.
Um abraço e fico no aguardo do seu e-mail para o envio. |
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