O calor se torna um dos fatores mais preocupantes nas fazendas leiteiras durante a estação do verão. Em algumas regiões do Brasil, as altas temperaturas prevalecem durante quase o ano todo, impactando diretamente no desempenho produtivo das vacas leiteiras.
Qual a temperatura ideal para uma vaca leiteira?
Muito se fala na temperatura em graus celsius para definir quando uma vaca entra em condição de estresse. Todavia, é errado pensar que apenas temperaturas acima de 28° C provocam estresse térmico nas vacas leiteiras.
Hoje, um conceito muito utilizado para classificar as condições ideais e de estresse por calor para os bovinos é o Índice de Temperatura e Umidade (THI). O que a ciência nos revela, é que a partir de um THI>68, as vacas leiteiras entram em estresse por calor.
Na tabela de THI abaixo, é possível observar que em uma temperatura de 23,5° C conciliado com a umidade relativa de 30%, atinge-se um THI de 68 e partir de uma umidade relativa de 40% a vaca já se encontra em condição de estresse térmico.
Os bovinos são animais ruminantes, com sistema digestivo bastante peculiar, onde a base da digestão é por meio de processos de fermentação no rúmen, que geram uma quantidade de calor expressiva. A digestão de carboidratos, um dos substratos para a fermentação, é um dos principais causadores da produção de calor interno, impactando diretamente no aumento da sensação térmica.
O que é o estresse por calor em vacas leiteiras?
O estresse por calor nas vacas de leiteiras ocorre quando a taxa de ganho é maior do que a perda por calor. A consequência direta na vaca leiteira é a saída da sua zona de conforto térmico, ou zona de termoneutralidade. Após a saída da zona de conforto térmico, a vaca começa a responder com algumas alterações comportamentais e biológicas.
Quais os principais sintomas do estresse por calor nas vacas leiteiras?
Além dos sintomas da ordem biológica e comportamental, algumas alterações no estado afetivo são consequências diretas nas vacas leiteiras por conta das altas temperaturas.
Estados afetivos:
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Aumento da fome e sede;
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Aumento de fadiga, mal estar e frustração
Funções biológicas:
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Respiração mais ofegante;
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Menor manifestação do estro;
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Menor produção de leite
Comportamentos naturais:
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Agrupamentos em busca do melhor lugar;
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Procura por sombra
Como reduzir e evitar o estresse por calor em vacas leiteiras?
Algumas medidas de fácil implementação na fazenda podem e devem ser adotadas para minimizar o estresse por calor e, consequentemente, reduzir os prejuízos nessas condições:
- Água para consumo: deve-se o garantir o ótimo fornecimento de água em quantidade e qualidade. Os bebedouros de água devem ser constantemente limpos, com livre e fácil acesso para que os animais se desloquem até os mesmos sempre que necessário, além de ter adequada vazão para o rápido abastecimento.
- Sombra: a disponibilidade de sombra é de extrema importância em dias quentes, auxiliando diretamente na redução do estresse pelas altas temperaturas. Em sistemas de pastejo, as sombras devem ser de fácil acesso e com espaço suficiente para que todos os animais possam utilizar.
- Redução de distância entre piquetes e instalações: em sistemas de pastejo, recomenda-se que as distâncias entre os piquetes e as instalações para manejo sejam reduzidas nos dias mais quentes, evitando grandes deslocamentos dos animais.
- Ventilação: o uso de ventiladores, principalmente em sistemas confinados, é um grande aliado, promovendo a circulação do ar auxiliando no resfriamento por evaporação. A instalação de ventilador na sala de ordenha também é interessante, buscando minimizar ao máximo o estresse por calor no momento da ordenha.
- Sistema de aspersores: os sistemas de resfriamento por aspersores ou nebulizadores auxiliam de forma direta na redução do estresse pelas altas temperaturas. Podem ser instalados nas linhas de cocho para o momento do consumo de alimentos pelas vacas, assim como na sala de espera onde os animais ficam muito aglomerados aguardando o momento da ordenha.
- Dietas: podem ser disponibilizadas dietas com fibra de melhor digestibilidade e utilizar fontes de energia não geram tanto calor, como a gordura (principalmente a saturada).
O calor exerce uma influência direta no desempenho produtivo e reprodutivo das vacas leiteiras, impactando negativamente na imunidade do animal devido ao estresse e à redução no consumo de alimentos, tornando-o mais suscetível à outras enfermidades. Como resultado, as elevadas temperaturas acarretam prejuízos econômicos significativos na atividade leiteira.
Com a ocorrência mais frequente de ondas de calor em diversas regiões do país, é extremamente necessário que todos os envolvidos na atividade estejam atentos as previsões do tempo com alertas de altas temperaturas, ao comportamento dos animais em dias quentes e realizar a observação constante das instalações com objetivo de identificar pontos de melhoria.
Referências:
Estresse por calor: o grande inimigo das fazendas leiteiras - Alexandre M. Pedroso. EducaPoint.