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Nutrição de Precisão e Realidade de Manejo em Fazendas no Brasil

POR JOÃO PAULO V. ALVES DOS SANTOS

COWTECH

EM 15/07/2014

12 MIN DE LEITURA

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Por João Paulo V. Alves dos Santos (Cowtech Consultoria e Planejamento) e Alexandre M. Pedroso (Pesquisador da EMBRAPA Pecuária Sudeste)

A cada ano, aumentam os números de trabalhos científicos publicados, relatando e comprovando o uso de estratégias de balanceamento preciso de dietas como importante e interessante opção para otimização de resultados em termos produtivos em diferentes rebanhos e sistemas de produção de leite. Afinal, o que seria a tão falada: “nutrição de precisão?”. Na realidade não temos uma definição acadêmica para este conceito, que poderia ser traduzida como a implantação de um manejo focado no fornecimento de nutrientes para o rebanho de maneira exata, com o menor uso possível de ingredientes e com a maior produtividade possível, ou seja, melhor conversão alimentar (litros de leite/kg de matéria seca consumida) e conseqüentemente, a melhor relação custo x benefício.

Apesar de ser altamente recomendável (todo nutricionista deveria buscar, teoricamente, uma nutrição de precisão), nem sempre a aplicação da mesma gera resultados positivos quando implantada numa fazenda. Antes de pensarmos no que iremos fornecer aos animais é importante que façamos uma leitura adequada do manejo e do sistema de produçãoem questão,para propormos um programa de alimentação adequado. Infelizmente, muitos produtores buscam, constantemente, uma “dieta ideal” ou uso de ingredientes que façam sua vaca produzir mais leite ao invés de avaliar seu manejo como um todo, observando quais são os seus pontos fracos e fortes. Como nutricionistas, sabemos que inúmeras são as variáveis que podem afetar o resultado final em termos produtivos num rebanho leiteiro. Aspectos práticos como: critérios para divisão de lotes, secagem de animais e conforto animal, muitas vezes são negligenciados, valendo lembrar que mais importante do que uma vaca comer “qualidade” é necessário que ofereçamos condições para que haja consumo efetivo de matéria seca (MS). Por este motivo que, é possível visitarmos fazendas trabalhando com dietas mais caras, utilizando ingredientes nobres e aditivos, mas apresentando índices e números negativos quando comparados com sistemas de produção trabalhando com menos recursos e manejo mais simplificado.

No mercado, ainda há muita confusão sobre como e qual seria a forma mais adequada para avaliarmos um bom manejo de alimentação. Muitos acreditam que os resultados acontecem através do fornecimento de ingredientes nobres ou aplicação de dietas mais caras aos animais, pois é investindo que se “colhe frutos”. Neste aspecto devemos tomar muito cuidado. A primeira preocupação que temos quando trabalhamos em fazendas é realizar levantamento sobre a qualidade e disponibilidade de forragem (conservada ou não) para o rebanho em questão. De nada adianta propormos programas mais avançados de nutrição (dietas mais densas), por exemplo, com fornecimento de gordura protegida, balanceamento de aminoácidos, adstringentes de micotoxinas, probióticos entre outros, se num dado momento do ano há escassez ou falta de alimento volumoso de qualidade. Por mais básico que seja este conceito, essa ainda é uma dura realidade de diferentes propriedades. A falta de planejamento ou recursos pode ser fatal para o sucesso de programas de alimentação. Em outras palavras, os frutos colhidos num dado período do ano (com dieta equilibrada de qualidade) são desperdiçados em períodos turbulentos (quando são lançadas soluções temporárias como uso de volumosos suplementares alternativos e de pior qualidade). Não bastasse o problema da oferta regular e qualidade da forragem fornecida aos animais, independentemente do sistema de produção (pasto, confinamento ou misto), toda fazenda tem de enfrentar o desafio da distância entre a teoria (papel, formulações) e prática: trato que é distribuído no cocho. No papel (ou tela do programa de formulação) a dieta é capaz de “salvar a vida de uma fazenda” e ser a solução para o produtor. “Pronto, a dieta está pronta e é capaz de gerar uma média de 32 litros por vaca”. Essa média, por exemplo, é realidade para poucas fazendas e sonho de muitos nutricionistas/consultores e produtores. Na prática, por quê não temos resultados positivos?

Fábrica de ração e mistura da dieta:

Tão importante quantoa qualidade dos ingredientes utilizados num programa de alimentação éavaliar se os mesmos são misturados adequadamente antes de serem fornecidos aos animais. Podemos afirmar que, apesar de consumir tempo de muitos técnicos, a elaboração de dietas em softwares específicos é uma etapa do trabalho bem mais simples do que as subseqüentes, no manejo da alimentação. Muitas fazendas trabalham com boa tecnologia utilizando vagões total mix para alimentação do rebanho, mas não atentam para detalhes como: realização da pré-mistura de ingredientes,seqüência de carregamento dos mesmos e do tempo de mistura de cada trato antes de ser disponibilizado nos cochos. São detalhes que afetam, significativamente, o resultado final em termos produtivos. Muitas propriedades com vagão misturador utilizam o mesmo para fazer a mistura dos ingredientes jogando, diretamente, os ingredientes dentro deste equipamento (exemplo: “x” kg de farelo de soja + “y” kg de farelo de milho + “z” kg de núcleo e assim por diante). Apesar de gerar mais manobra operacional, havendo fábrica de ração na propriedade, recomendamos a pré-mistura do concentrado, pois realizamos uma melhor homogeneização de minerais, aditivos ou outros ingredientes que possam ser utilizados em pequenas doses na mistura.

Dois fatores, em destaque, devem ser checados com atenção: a-) quem realiza a mistura de concentrados?, b-) tempo de mistura no vagão (ou forma como se dá essa mistura quando sistema de produção não possui este equipamento)?

Quem? 

Recomendamos sempre o treinamento e, em nossos programas de consultoria, realizamosavaliações e qualificação da mão-de-obra destinada a trabalhar com a manipulação de concentrados. É necessário conscientizar este funcionário antes de treiná-lo para a função, demonstrando e ponderando a responsabilidade do mesmo dentro de um sistema de produção. Misturas erradas podem gerar prejuízos sérios como inibição de consumo ou intoxicação alimentar. Arredondamentos alheios não devem ser permitidos e informações (quadros com dietas nas salas de ração) devem ser claras com dados sempre checados e revisados. Nas fazendas em que trabalhamos recomendamos que o funcionário/operador de fábrica de ração seja independente daquele que realiza e o trato. Traduzindo: além de confeccionar as batidas de ração, o operador da fábrica deve deixar (ou pode/como sugestão) as quantidades de concentrado de cada lote já pesadas em locais estratégicos da sala e previamente combinado com o tratador. Dessa forma, este chega à sala de ração/fábrica apenas para realizar carregamento e não pesagem de concentrado. É muito comum o tratador (operador de vagão) realizar esse serviço (pesagem de concentrado) a cada trato. Então vem a pergunta: será que seu funcionário pesa corretamente cada lote? Por quê não agilizar e facilitar o trabalho deste indivíduo? Quando implementamos essa mudança, em muitas propriedades a resposta em produção é imediata.

Tempo de mistura: muitos programas de alimentação são perfeitos no papel e em todas as etapas havendo, entretanto, pecado capital no quesito tempo de mistura. O excesso de tempo de mistura ou mistura rápida devem ser evitados e são erros muito comuns em muitas fazendas. O tempo de mistura, nos equipamentos com balanças programáveis podem ser ajustados e controlados por apitos (alarmes), mas em muitos casos, a conversa entre funcionários leva a desatenção e problemas. Um erro bastante comumé o vagão circular demais com a tomada de força ligada, misturando a dieta, sem parar. O excesso de mistura pode reduzir o tamanho de partícula das forragens e comprometer a estrutura da dieta, aumentando sua taxa de passagem no rúmen, sem gerar mastigação e ruminação suficientes para produção de saliva em quantidade adequada. Nestes casos, temos queda de pH ruminal, oscilação no padrão de consumo por parte dos animais (consumo irregular) e ocorrência de distúrbios metabólicos como acidose subclínica e, nos casos clínicos mais severos,o comprometimento da saúde animal e o aumento imediato de afecções podais e taxa de descarte do rebanho.

Distribuição no cocho:

Vagões forrageiros tipo total mix (com balanças programáveis) são providos de tecnologia que nos permite controlar a saída de cada trato de acordo com programação de dieta e quantidade de animais por lote. Na prática, mais importante do que o bom uso do equipamento em termos de programação é, novamente, a qualificação do operador e manejo do cocho (controle do fornecimento). A sobra deve ser removida uma vez a cada 24 horas e pesada, se possível. A cada trato, recomendamos, sempre que o cocho seja varrido e a comida mais velha seja colocada nos cantos dos cochos, de modo que não haja “remontagem” de alimento. Esse manejo é muito importante e ajuda muito a maximizar o consumo de alimento. O operador, mesmo com balanças programáveis, deve estar sempre atento e caprichar na distribuição, tomando cuidado para promover uma distribuição homogênea na linha do cocho. Devemos evitar a formação de “montes de comida”, pois a tendência é que ocorra perda de alimento nestes casos, disputa acirrada por alimento e consumo irregular com vacas mais agressivas e dominantes se beneficiando em detrimento às submissas.

Consumo animal:

É importante compreender que “fornecer” é diferente de “consumir”. Em outras palavras a dieta fornecida, necessariamente, não será consumida pelos animais na sua totalidade. É importante controlarmos o que é fornecido em termos de qualidade e quantidade, mas é necessário oferecer condições para que os animais consumam essa dieta. Uma infinidade de erros são detectados em fazendas quando checamos planilhas de campo com dados de mistura e batidas. O bom “manejador” é sempre atento e disciplinado. Fazendas de leite são sistemas dinâmicos. Vacas criam (entram em produção). Vacas secam (saem de produção). Animais são trocados de lotes por produção ou tratamentos, por exemplo. O “retrato” de uma propriedade hoje, se modifica amanhã. E o responsável pelo sistema de produção deve acompanhar “in real time” (tempo real) tais mudanças. Se um lote aumentou em termos numéricos, a quantidade fornecida de alimento deve aumentar. “Mas isso é óbvio!” um bom observador exclamaria. No entanto, essa “obviedade” não é tão evidente assim e não representa a realidade de muitos programas de alimentação. É necessário trabalhar, ter prazer em acompanhar a vacada, as mudanças e “reger a orquestra”.

Um cuidado fundamental para garantia de consumo do alimento fornecido é o conforto animal. É impressionante como algumas fazendas avaliam a nutrição de modo, independente, da ambiência. É impossível implantarmos programas avançados de nutrição sem oferecermos condições de conforto para vacas de leite. Quanto mais produtivo for um rebanho (potencial genético), mais atenção devemos direcionar à questão da climatização de ambientes. Não estamos discutindo aqui a indicação de um conceito “a” ou “b” em termos de sistema de climatização, mas sim a noção e reconhecimento de que parâmetros básicos, como: sombra, oferta de água em quantidade e qualidade e higiene das instalações onde os animais permanecem são muito importantes. Todo e qualquer esforço direcionado no sentido de melhorar as condições de conforto animal tem reflexo imediato sobre a ingestão de alimentos. Não basta querer nutrir; é necessário promovermos, de fato, o consumo.

Além da questão do consumo associado ao conforto, temos desafios ligados a questões ainda mais simples que impedem o consumo idealizado, como a higiene de cochos (cochos revestidos são infinitamente superiores à concretos abrasivos), uso cochos cobertos ou mesmo o espaçamento de cocho/animal oferecido. Existem casos em que encontramos situações impactantes como cochos sujos, descobertos, com acúmulo de água e superlotados. Pergunta: adianta fornecer uma dieta de qualidade neste caso?

Para sabermos se há consumo de fato é necessário quantificar e a única maneira de fazermos isso é através da implantação da rotina de pesagem e anotação de sobras. É uma medida eficaz e simples. Basta montar uma planilha com os dias do mês numa coluna e os lotes a serem pesados nas colunas subseqüentes. Todo dia, o tratador responsável deve anotar o peso da sobre dos lotes controlados (lotes em produção). Dessa forma o técnico responsável pode avaliar como anda o consumo médio e tomar decisões, além de poder confrontar a eficiência da dieta. Um conceito importante e muito pouco utilizado ainda, no Brasil. A eficiência da dieta ou conversão alimentar é um conceito muito importante sendo avaliado através da divisão da produção de leite pelo consumo animal, expresso em kg de MS. Como exemplo, uma vaca produzindo 32 litros/dia e consumindo 21 kg de MS/dia apresentará uma conversão de 1,5 litros por kg de MS ingerida. Na COWTECH trabalhamos com este conceito e comparamos estes indicadores entre os lotes de cada propriedade e entre as fazendas assistidas, estabelecendo parâmetros e referência para os produtores. Como exemplo uma dieta com mesmos níveis de energia, proteína e nutrientes fornecidos para uma fazenda A, pode ter um preço mais caro do que uma fazenda B, por comprar pior insumos e produzir silagem mais cara, por exemplo. No entanto, essa fazenda A pode apresentar uma conversão alimentar melhor se suas vacas estiverem, obviamente consumindo mais alimento com resposta produtiva. Isso leva à expressão de valores mais interessantes em termos de receita menos custo de alimentação (RMCA) que é outro importante indicador e parâmetro para avaliarmos eficiência de programas nutricionais. Descontado o custo de alimentação de cada vaca em produção, quanto sobra de receita/vaca para o produtor? Sistemas de produção com melhor eficiência e conversão alimentar tendem a apresentar índices mais positivos e melhores resultados, obviamente, que sistemas menos eficientes.

Considerações:

De um modo geral, o conceito de que temos diferentes dietas quando arraçoamos animais está bem difundido entre técnicos e envolvidos com a produção de leite. Classicamente são “4 dietas”: dieta formulada, dieta misturada, dieta fornecida, dieta consumida (e ainda dieta digerida = componente: variação animal/organismo/indivíduo). Mesmo assim, devido a uma ampla gama de detalhes envolvendo cada um destes aspectos ou etapas das “4 dietas”, muitos sistemas de alimentação acabam sendo ineficientes ou mal avaliados. O acompanhamento e monitoramento da nutrição por técnicos experientes que tenham conhecimento em conceitos nutricionais é uma questão importante. Entretanto, sob nosso ponto de vista, mais é necessário que a visão seja mais abrangente quando avaliamos um programa nutricional “como um todo”. Avaliações pontuais e decisões baseadas no momento que uma propriedade vive, sem avaliar o todo, pode causar muitos problemas. Como recomendar uma dieta com proposta de ingestão de 32 kg de silagem de milho/cab/dia, por exemplo, sem saber qual é o número de cabeças total do rebanho que consumirá silagem e qual é a quantidade de alimento estocado? Dependendo da realidade do produtor, recomendar 26 kg de silagem/cab/dia x 32 kg de silagem/cab/dia, pode representar 15, 20, 30 dias de duração a mais de silo para um sistema de produção. Indicar a troca de um lote de piquete com melhores condições de sombreamento e disponibilidade de água pode ser uma medida muito mais efetiva e com reflexo direto na produção (sem custo!) do que a indicação do uso de determinado ingrediente específico num concentrado, por exemplo. Não que este “ingrediente” não exerça seu papel ou não seja importante, mas saber indicar corretamente implica em responsabilidade técnica indiscutível. Para a introdução de determinados programas de alimentação ou uso de ingredientes específicos é necessário qualificar o momento da fazenda e saber se, de fato, a implementação da nova ferramenta pode gerar resultados. É por esse motivo que muitos produtos comerciais são introduzidos e retirados, posteriormente, por grande número de produtores. Não há tecnologia ruim ou ineficiente mas sim o emprego desta em momentos inadequados. A chave da nutrição de precisão está fundamentada nas questões debatidas acima: o que usar, quando, quanto e por quê usar? Respondidas estas perguntas com argumentação convincente não há motivos para nos preocuparmos. O resultado virá com o tempo.

JOÃO PAULO V. ALVES DOS SANTOS

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