Ventiladores: solução ou não?
Muitos produtores acreditam que a simples instalação de ventiladores pode vir a solucionar problemas envolvendo stress térmico. Em primeiro lugar é necessário que o produtor, antes de tudo, realize um "check-up" da sua instalação. Para obter sucesso com um projeto de climatização, é necessário observar alguns detalhes como:
* Nutrição: a dieta além de apresentar um correto balanceamento deve ter a sua densidade alterada em períodos críticos, ou seja, devemos evitar que grande parte da MS ingerida seja proveniente do volumoso, diminuindo o tempo de permanência do alimento no rúmen, minimizando o stress.
* Cobertura e Pé Direito: a cobertura do cocho ou barracão em que se encontram os animais bem como a altura do pé-direito do mesmo é extremamente importante. Recomenda-se evitar coberturas como cimento-amianto, sendo preferida a utilização de alumínio ou telha de barro. O pé-direito lateral deve ter no mínimo entre três a quatro metros e o central deve estar entre cinco a sete metros, garantindo assim boa circulação de ar
* Posição do eixo principal do barracão: o eixo principal do barracão deve estar posicionado no sentido leste-oeste, garantindo deste modo proteção aos raios solares.
Realizada a averiguação proposta e estando de acordo com os itens acima, demos o primeiro passo para o início de um projeto de climatização. O segundo passo consiste em descobrir o sentido do vento dominante. Alguns produtores e técnicos encontram dificuldades em encontrá-lo. A melhor dica é a observação do comportamento dos animais. Comumente os mesmos agrupam-se nas horas mais quentes do dia, quase sempre, "de encontro" ao vento dominante. Tal detalhe é importante para evitar a instalação de ventiladores no sentido contrário ao vento dominante.
É importante esclarecer que a climatização pode ocorrer, basicamente, de duas maneiras: refrigerando o animal ou o meio. Esta última opção aplica-se em regiões quentes e secas (sistema: "Evaporative Cooling"), de difícil aplicação prática em regiões com alta umidade relativa do ar. A refrigeração do animal não consiste apenas no deslocamento e renovação do ar (ventilação). Dessa forma, o uso de ventiladores, apenas, pode ser pouco eficiente. É necessário o uso da aspersão, molhando o animal, em ciclos alternados. Desta forma as gotículas que atingem o costado da vaca absorvem o calor da mesma, evaporando com a ventilação, "roubando" o calor. O fluxo de ar gerado por ventiladores deve ser de 14 a 28 m3/minuto/vaca ou 14150 a 28300 L/minuto/vaca (equivalente a um vento de 9 a 18 km/h), com preferência para o último valor, no período do verão.
Respondendo a pergunta inicial: o uso apenas de ventiladores sem critérios (posicionamento a favor do vento dominante) por si só não resolve problemas de desconforto animal, podendo ameniza-lo, mas nem sempre de forma significativa.
De acordo com os conceitos pré-definidos acima, descreveremos uma série de dicas bastante detalhistas, porém imprescindíveis para o sucesso de um sistema de climatização.
Por onde começar?
Antes de instalarmos qualquer sistema, devemos saber o que é prioritário. A recomendação técnica é que venhamos a oferecer conforto para os animais no momento e local certo. Antes do barracão das vacas, devemos instalá-lo na sala de espera para posteriormente pensarmos no conforto do barracão que abriga os animais.
Para sala de esperas, a recomendação é que os ventiladores e aspersores venham a formar um fluxo de ar de dentro para fora da instalação. Por exemplo, para um curral de espera de 7,5 metros de largura, devemos "criar" linhas seqüenciais de ventiladores, espaçadas 9 metros cada. A distância entre o centro de cada ventilador deve ser de 2,5 metros e os ventiladores devem apresentar uma inclinação de 30( com o eixo perpendicular ao solo. A figura abaixo ilustra o desenvolvimento:
No barracão
Uma vez realizada a climatização da sala de espera, devemos atentar para a realização da mesma no local onde se encontram os animais. A prioridade é a linha do cocho de alimentação, de modo a estimular o consumo. A dúvida que prevalece é: qual espaçamento utilizar. Segundo dica de Rick Stowell, especialista da Ohio State University, devemos manter a angulosidade de 30( e caminharmos, encontrando o centro do fluxo de ar. Exatamente neste ponto deve ser instalado o outro ventilador. A figura abaixo ilustra o raciocínio:
O desejado é que um ventilador venha a promover um fluxo de ar cujo comprimento seja equivalente a dez vezes o seu diâmetro.
Caso seja possível oferecer um conforto extra podemos, também, posicionar ventiladores na direção das camas. A utilização de linha de aspersão ao longo das contenções é contraditória. Alguns são a favor e outros são contra, alegando o umidecimento das camas, criando ambiente propício para desenvolvimento de microorganismos aumentando, então, incidência de mastite. A figura abaixo explicita detalhes, esclarecendo maiores dúvidas:
Comentário do autor: com a realização deste artigo complementando o tema conforto em free-stalls fica claro o grau de complexidade envolvendo o sistema confinado. Animais leiteiros de alta produção requerem cuidados apurados, a começar pela alimentação. Existem três fatores de suma importância para o sucesso da vaca como uma verdadeira unidade produtora: nutrição adequada, conforto e sanidade. Tais fatores caminham juntos e possuem suas peculiaridades. Muitas técnicas recomendadas seguem modelos norte-americanos, especialistas no assunto. Deve ficar claro que a aplicação prática de uma série delas muitas vezes é extremamente onerosa. Por este motivo o produtor deve ter bom senso e buscar a melhor relação custo/benefício. Nem sempre o que é bom para eles (EUA) é bom para nós. Como de costume, relembramos o uso de "ferramenta infalível" que é o bom senso e a criatividade fundamentada. O esgotamento do uso dos recursos naturais disponíveis na propriedade são imprescindíveis. Muitas vezes o grande acerto envolve a escolha da área (topografia do terreno), locais arejados e sombreados. Como última saída, quem sabe, a realização de um projeto de climatização.
fonte: Dairy Herd Management, maio 2000