Em diversas regiões norte-americanas encontramos produtores que apenas criam bezerras, enquanto que outros somente trabalham com recria ou, exclusivamente, concentram seus recursos e esforços na produção de leite. Desta forma, cada "produtor-especialista" se dedica numa etapa do sistema de produção de leite, com objetivo de alcançar melhores resultados qualitativos e quantitativos em relação ao produtor tradicional (que trabalha com cria-recria-produção de leite).
No Brasil existem poucos exemplos de fazendas que tentaram e/ou tentam estabelecer algum tipo de segmentação da produção de leite (via fusão de fazendas ou sistemas de produção específicos). Entretanto, apesar das exceções, a nossa realidade é bastante diferente em relação a modelos de pecuária leiteira mais avançada, em função de motivos sócio-econômicos e culturais que caracterizam o produtor nacional e características intrínsecas de mercado, tema a ser debatido de maneira mais detalhada em outro artigo. Sendo assim, o objetivo deste texto é apontar para a importância do controle de índices zootécnicos, de maneira a correlaciona-los com os custos da criação de animais, muitas vezes fator limitante na expansão de propriedades, através do exemplo do estudo, a seguir.
Recentemente, foi realizado um modelo de avaliação e simulação de custos de criação de animais, por pesquisadores da Pennsylvania (EUA), utilizando dados de rebanhos deste estado e demais regiões norte-americanas, utilizando como referência (objetivo) para base comparativa, os índices:
· idade ao primeiro parto - 25 meses
· intervalo entre partos (IEP) - 13 meses
· taxa de descarte (anua) - 25%
· mortalidade (bezerras e novilhas) - 10%
RESULTADOS:
Segundo os dados levantados pela pesquisa e modelo aplicado, para cada 1% de redução na taxa de descarte, o custo de reposição sofreu uma queda de 4,9%, sendo o índice que mais influenciou a redução de custos de reposição. A idade ao primeiro parto foi o segundo item a ser destacado por sua importância nos custos de criação dos animais improdutivos, sendo que a redução em 1 mês na idade da parição resultou em queda de 4,3% nos custos de reposição. A redução no IEP pouco influenciou na queda dos custos, contribuindo com redução de apenas 0,1% nos custos quando o mesmo foi antecipado em 1 mês. A mesma tendência foi observada em relação à mortalidade, ou seja, a redução da mesma em 1% resultou em queda nos custos de 0,3%.
De acordo com o modelo idealizado pelos pesquisadores e a realidade norte- americana, para um modelo de rebanho composto por 100 vacas, o investimento necessário (estimado) para a redução em 1% na taxa de descarte foi de US$1548,00/ano. Da mesma forma foi estimado o investimento para a redução da idade ao primeiro parto: US$347,50 para cada semana. No caso da redução em 1% da mortalidade o investimento médio anual seria de US$103,00.
CONSIDERAÇÕES
Os dados apresentados acima são bastante importantes, uma vez servem para os produtores daquele país como referência na tomada de decisões em sua propriedade. Este estudo alerta para a seguinte questão: como reduzir os custos da reposição?
É interessante destacar que no Brasil, principalmente nos momentos de baixa no mercado, surge a necessidade de redução nos gastos. A frente mais comum de combate à elevação do custo de produção, geralmente é a alimentação. Por contribuir significativamente no custo final do litro de leite produzido, a troca de insumos mais caros por mais baratos e de menor qualidade, são muitas vezes inevitáveis e prejudiciais pois conjuntamente provocam queda na produção. Em outros casos, algumas fazendas tentam reduzir custos de mão de obra ou outros componentes do sistema de produção. Mesmo assim, ao fechar o balanço anual, a insatisfação é bastante comum.
É importante que o produtor saiba que a redução de custos não deve ser limitada e imposta de acordo com o termômetro do mercado. É necessário ter como objetivo metas a longo prazo para aumentar a eficiência e reduzir as despesas sempre. Diante desta filosofia, destacamos a importância do monitoramento dos índices zootécnicos de cada propriedade e a capacidade de avaliar o impacto dos mesmos sobre os custos, principalmente os referentes aos animais que ainda não estão em produção.
Comentários do autor: o objetivo deste texto não é tentar adaptar a realidade norte-americana à nacional, mas sim de ressaltar a importância do conhecimento e o fundamento dos índices de cada sistema de produção. �� comum encontrarmos produtores reclamando de seus índices e a necessidade em melhorá-los. Antes de tudo é preciso saber onde devemos atuar para reduzirmos o custo da criação dos animais jovens e novilhas. Uma vez enfocado o "ponto fraco" do sistema, por exemplo, idade ao primeiro parto muito elevada, qual será o investimento necessário e possibilidade de retorno financeiro pela sua melhora? Destacamos que cada propriedade, certamente, terá a sua prioridade. A mesma pode e deve ser definida através do seu modelo particular de avaliação dos índices a serem alcançados. Tal tarefa pode ser bem sucedida com a união de diversos aspectos como trabalho em equipe (união dos funcionários em busca de um único objetivo), capacidade de obtenção, coleta e interpretação de dados aliada à orientação técnica competente.