Para que tenhamos mais objetividade nos trabalhos e avaliações em sistemas de produção de leite, recomendamos sempre a divisão de propriedades em diferentes setores, de modo que cada setor seja avaliado, individualmente e, em cada setor, objetivos e metas sejam traçados, com prazo pré-estabelecido para avaliação dos resultados. Uma importante ferramenta de trabalho em nossa consultoria é a análise comparativa da “realidade prática de uma fazenda” com “índices de referência (benchmarks)” disponíveis no mercado. Será que uma dada propriedade vai bem? Quais indicadores são importantes e quais informações revelam uma gestão eficiente?
Na pecuária leiteira, é fundamental, estruturarmos sistemas de produção para a produção de alimentos volumosos (forragens) com qualidade e custos competitivos. No mercado, enfrentamos muitos preconceitos sobre a maneira correta de se produzir alimento volumoso. Em muitos casos, o conceito de quantidade prevalece sobre a qualidade. É necessário trabalhar visando sempre a produção máxima de recursos forrageiros sem esquecer o fator: qualidade.
Para produção de alimentos volumosos, o estabelecimento de “índices de referência” é uma tarefa um pouco mais complexa pelo fato de forrageiras serem produzidas em diferentes áreas do país em diferentes tipos de solo, condições climáticas e tecnologia de produção aplicada (em termos de mecanização e tratos culturais). Dessa forma é muito comum obtermos números extremos em termos de valores de custo de produção de alimentos volumosos. Até mesmo numa mesma região em condições semelhentes, pela diversidade de fatores explicitados é possível encontrarmos volumosos com custos bem diferentes.
O objetivo do presente artigo é apresentar ao leitor sugestão de como realizar uma coleta de dados capazes de gerar informações importantes para o planejamento da oferta de alimentos forrageiros mediante uma dada demanda numa propriedade.
Etapa 1. Coleta da dados e informações:
Para dimensionarmos, adequadamente, um sistema de produção em termos de oferta e demanda de forragem, é necessário termos, primeiramente as informações abaixo:
a-) Área de pastagem ou lavoura (para forragens conservadas)
b-) Distribuição (ou estrutura) dor rebanho (categorias e quantidade de cabeças)
c-) Manejo nutricional: dietas formuladas e usadas na propriedade
Para desenvolvermos nosso raciocínio, apresentamos a Tabela 1., abaixo, com dados hipotéticos de uma propriedade, com 55 ha (com 20% de reserva legal) e 44 ha úteis direcionados para produção de leite:
Tabela 1. Distribuição do rebanho e alimentação: volumosos x concentrado
Uma das maneiras de estimarmos essa demanda, a partir da distribuição do rebanho, é realizar o cálculo da demanda de volumoso de acordo com a % de participação deste na base seca da dieta dos animais. Ter detalhes das formulações e nutrição realizada é interessante, mas para efeito de cálculo da demanda de alimento volumoso, numa fazenda, não há necessidade de trabalharmos com detalhes da formulação, desde que seja estabelecido, de antemão limites para participação de volumoso na base seca das dietas que serão utilizadas. A partir dos dados gerados pela Tabela 1., podemos levantar o consumo diário e anual dos alimentos volumosos disponíveis na propriedade.
Tabela 2. Demanda anual de volumosos:
A quantidade de área a ser utilizada vai depender da produtividade das forrageiras na propriedade. Este é um aspecto muito importante a ser considerado. Em muitos casos, a estimativa de produtividade dos recursos forrageiros existentes é super ou subestimado, causando muito prejuízo financeiro a diferentes sistemas de produção ou mesmo levando ao colapso muitos programas de alimentação. Vale lembrar que os prejuízos causados por um programa de alimentação sem planejamento não se estende somente aos danos diretos (queda de produção de leite), mas também a danos indiretos como queda de escore corporal, menor incidência de cios, maior taxa de reabsorção embrionária e uma péssima reprodução na propriedade. Logo, todo cuidado deve ser tomado na estimativa de produtividade de qualquer recurso forrageiro. A Tabela 3. apresenta dados de produtividade e custos obtidos em diferentes fazendas, com mesma metodologia de coleta de dados (planilhas) há mais de 10 anos consecutivos.
Tabela 3. Produtividade e custos de forrageiras:
Fonte: COWTECH-CONSULTORIA (base de dados: safra 2014-2015)
A tabela, acima, resume alguns índices coletados em campo e diferentes sistemas de produção de leite, assistidos pela COWTECH. É interessante observarmos o impacto da produtividade no custo de produção de um sistema mais intensificado. Muitos produtores costumam justificar baixos investimentos na produção de milho para silagem por motivos “econômicos”. Nas fazendas assistidas pela nossa consultoria verificamos, exatamente, o contrário (como esperado e sabido). Quanto mais o produtor investe em lavouras de milho e, consequentemente, desembolsando mais por hectare, mais a cultura responde e menor é seu custo de produção.
Realizando a fusão de conceitos e dados entre as Tabelas 2 e 3, é possível estimarmos a área necessária para estruturação do sistema de produção em si:
Tabela 4. Estimativa de área para produção de alimentos volumosos
Pelos dados apresentados na tabela acima, percebemos que o sistema é sustentável com ou se “viabiliza”, teoricamente, com a área útil proposta de 44 ha (início do artigo), hipoteticamente, proposta. Apesar dos cálculos serem, relativamente simples, muitas variáveis estão envolvidas para obtenção de números confiáveis. É importante que o produtor tenha sempre em mãos dados e informações confiáveis para projeção e planejamento. Os números apresentados, nas tabelas deste artigo forma planilhados e servem como referência, mas podem não refletir a “realidade prática” de um dado sistema de produção por isso devem sempre ser revisados para a realidade possível de ser obtida em cada propriedade.
Abaixo, um resumo de indicadores de eficiência e referência utilizados pela COWTECH-CONSULTORIA
Tabela 5. Produtividade de forrageiras (alimentos volumosos)
Fonte: COWTECH-CONSULTORIA (base de dados)
Tabela 6. Grau de intensificação de sistemas, produtividade e custo de produção
Fonte: COWTECH-CONSULTORIA (base de dados)