Para a maximização da produção de leite, os três elos acima devem estar perfeitamente sincronizados, principalmente no caso de animais de alto potencial de produção. Em momentos de crise financeira, visando a redução de custos, é comum a quebra de protocolos, principalmente em relação ao conforto e manejo sanitário dos animais. Diante deste ponto de vista, é comum que medidas como a correta manutenção (reposição) de camas de areia, devido ao seu custo, sofram modificações. O objetivo deste texto é esclarecer e desmistificar algumas dúvidas comuns envolvendo o manejo de camas em instalações de sistemas confinados tipo free-stall.
Antes da diminuição da freqüência de reposição e/ou limpeza das camas de areia, é necessário que o produtor saiba exatamente quais são os detalhes que fazem a diferença dentro deste contexto, de modo que o manejo da areia se torne mais eficiente e econômico. Para isso é necessário, acima de tudo respeitar e entender o comportamento da vaca, pois é ela quem irá “nos dizer” o que está errado e o que temos de corrigir. A seguir, uma série de dicas que podem auxiliar na identificação dos problemas mais comuns:
Observando a areia
O uso de areia de má qualidade, mesmo sendo mais barata, certamente irá trazer mais prejuízos que benefícios. A presença de grande número de impurezas, como pedras, por exemplo, incomodam as vacas que passam a evitar a cama. O tamanho de partícula de areia, por mais detalhista que seja, pode ser bastante importante. Areias com tamanho de partículas inferiores a 0,3 mm de diâmetro tendem a sofrer uma compactação muito maior com o peso dos animais, diminuindo o conforto além de dificultar a limpeza das camas.
O ideal é que a areia seja sempre lavada e peneirada, antes de ser comprada. Caso a mesma chegue ainda molhada na propriedade, deve ser colocada em local arejado para que possa secar. Não é recomendado o uso de areia molhada em cama de free-stalls.
Para sabermos se uma determinada areia possui tamanho de partícula e umidade adequada para ser utilizada como cama num free-stall, podemos realizar um teste bem simples e prático: devemos formar um “bolinho” de areia com as mãos e arremessá-lo de uma mão para outra. Caso o mesmo não se quebre (debulhe), temos, possivelmente, uma areia com ou muito úmida, ou com tamanho de partícula muito pequeno ou até mesmos estas duas últimas características unidas, ou seja, excesso de umidade e reduzido tamanho de partícula.
Areia insuficiente nas camas: um problema comum
Em muitas propriedades, conversando com produtores e técnicos, parece ser unânime a conclusão de que a manutenção do nível de areia nas camas é uma tarefa extremamente difícil de ser obtida com êxito, por uma série de motivos.
Primeiramente devemos ter em mente que o baixo nível de areia nas camas torna a mesma menos confortável, não proporcionando o efeito “amortecedor” desejado quando as vacas se deitam ou levantam. Quando o nível de areia é baixo, é comum que a parte da frente da cama (onde o animal descansa os membros anteriores), seja mais baixo ainda, o que dificulta o movimento da vaca ao se levantar (desconforto). Além disso, as dimensões da cama passam a ser alteradas, tornando-se desproporcionais ao projetado. A cordoalha, barra de ferro ou de contenção (neck rail), como é chamada por muitos produtores, perde a sua função, bem como as contenções laterais (divisórias). Este problema (baixo nível de areia) faz com que um maior número de animais (principalmente novilhas), busquem a posição diagonal nas camas, aumentando o número de baias sujas (defecação e urina).
Segundo os produtores, em geral, as grandes vilãs da história são as próprias vacas, uma vez que “estacionam de pé” nas baias e jogam com os anteriores, areia para fora, formando buracos. Para solucionar este tipo de problema, antes de tudo é necessário entender o comportamento animal. Este tipo de comportamento, geralmente está associado ao mal dimensionamento das instalações, mais precisamente ao “lunge space” ou seja, o recuo ou espaço entre o eixo central da caixa que abriga as camas e o parapeito das camas (brisket board). Este tipo de problema, em alguns casos, pode ser solucionado com a regulagem da cordoalha ou barra de contenção (neck rail) das camas.
Manutenção: elevado custo??!
Um dos maiores problemas de manejo, em todas as fazendas do mundo que possuem free-stall, é o elevado custo de manutenção das camas de areia, fazendo muitos produtores buscarem novas alternativas, mais fáceis e baratas como opção para a cama dos animais.
Numa recente pesquisa, realizada pela Universidade de Wisconsin (EUA), 30 rebanhos foram avaliados, com uma visita no verão e outra no inverno, em relação à incidência de laminite e condições de conforto, sendo que instalações providas de camas de areia foram comparadas com outras alternativas como concreto, pó de serra ou outro tipo de cama proveniente de material orgânico.
A incidência de laminite foi avaliada através da observação dos animais em movimento numa escala de 1 a 4 (severidade crescente). O conforto foi avaliado através do cálculo do “índice de conforto”, sendo determinado uma hora antes da ordenha através da divisão do número de animais de pé nas camas pelo número de animais de pé e deitados nas mesmas. Os dados da pesquisa apontaram os melhores resultados para as instalações dotadas de areia, conforme o quadro abaixo:
Comentário MilkPoint: analisando o quadro acima, percebemos que, na região levantada pela pesquisa, a maioria das fazendas preferiu uma outra base de cama em detrimento à areia, possivelmente visando a minimização de custos. Devemos atentar porém que, de acordo com a fórmula utilizada para o cálculo do conforto, quanto maior for o número de animais deitados, maior o conforto e menor o valor deste índice. Logo, para todos os itens avaliados, os melhores resultados apresentados foram em relação ao uso da cama de areia. Não podemos a partir do resultado desta única pesquisa determinar o melhor tipo de cama para free-stalls. O trabalho, porém, serve como orientação para técnicos e produtores. Sabemos de antemão que camas obtidas a partir de material orgânico, como pó de serra ou palha de arroz, por exemplo, implicam num perfeito e correto manejo das mesmas, com uma necessidade de remoção constante, uma vez que o desenvolvimento de bactérias, nestes materiais, ocorre mais rapidamente. A mensagem que fica é que devemos sempre buscar a melhor relação custo x benefício, mas antes de mudarmos um detalhe no manejo temos de atentar para os conceitos e compreendermos a reação do animal que é a conseqüência dos nossos acertos ou erros.
Fonte: Hoard’s Dairyman, outubro 2001