Então vem a pergunta: O que é uma silagem cara? E o que seria uma silagem barata? O preço de hoje, em fazendas que acompanhamos e monitoramos custos de produção de silagem de milho tem chegado a valores entre 2.500,00 a 2.800,00/ha. Nas áreas de boa produtividade, ou seja, acima de 40 ton de matéria original (MO)/ha, para os custos acima obtemos valores de 62,50/ton a 70,00/ton de MO. Em alguns casos, com solos mais férteis e fazendo uso de híbridos de ponta, obtemos produtividades até mesmos superiores a 50 ton MO/ha, encontrado áreas capazes de atingir 60 ton MO/ha, valores considerados muito altos ou fora da realidade prática num passado não muito distante. Quando produzimos “´pra valer”, com eficiência, para a amplitude de custos/ha descrita acima (2.500,00 a 2.800,00/ha), podemos produzir silagens mais baratas e extremamente competitivas em relação ao custo de outras forrageiras, principalmente quando avaliamos o fator: qualidade. Se considerarmos uma produtividade de 55 ton de MO/ha, para os custos acima, chegamos a um custo de 45,00 a 51,00/ton de MO, com silagem de milho. Quando apresentamos estes números para produtores tradicionais, que nunca trabalharam com silagem de milho, enfrentamos (nós técnicos) grande resistência e/ou preconceito. “Silagem de milho é muito cara! Silagem de milho é coisa para gente rica!”. “Silagem de milho é para quem não vive da atividade...!”. Inúmeras frases poderiam ilustrar e servir de exemplo o ponto de vista de muitos produtores sobre a escolha desta forrageira como estratégia de suplementação no inverno ou mesmo fornecimento constante deste volumoso para programas de alimentação em regime de confinamento total.
Outrora conversando com um amigo produtor, discorríamos sobre custos de alimentos volumosos, especialmente, forrageiras conservadas, ou seja, novamente, as tradicionais silagens. Vantagens e desvantagens em se fazer e/ou escolher a realização de uma “silagem A” ou “silagem B”. Qual caminho devemos escolher? A conversa resultou em diferentes considerações interessantes e aspectos importantes foram levantados. O que fazer, então? Investir em forrageiras com alto potencial de produção de massa/unidade de área como capins tropicais bem adubados (o tradicional e ainda bem utilizado, napier ou excedentes de pastagens como Panicum sp) ou culturas mais caras como o milho, produzindo menos, mas gerando um produto com maior valor nutricional? Infelizmente, muitos conceitos básicos e simples, envolvendo a conservação de forragens ainda são avaliados corretamente. Conceitos importantes na conservação de forragens não são aplicados em muitas propriedades em nosso país, por tradição e falta de conhecimento técnico ou orientação adequada sobre o tema. Em alguns casos, por incrível que pareça, é possível encontramos propriedades mantendo capineiras (napier) em pleno crescimento para serem colhidas (cortadas) em maio, junho, por exemplo, quando encontramos plantas “enoooormes!!”, mas extremamente fibrosas, ricas em lignina (fração da fibra, não digestível para ruminantes), que promovem boa produção por área, porém de baixíssimo valor nutricional, levando a desempenhos pífios em termos de produção ou ganho de peso animal. O produtor acha que está conservando alimento, quando na realidade está guardando um material de péssima qualidade. É possível encontramos, também, casos do que classificamos como “capineiras-invertidas”, ou seja, sendo cortadas diariamente em pleno inverno. Com exceção da cana-de-açúcar que tem seu valor nutricional melhorado no inverno em função do acúmulo de sacarose, todas as gramíneas tropicais no período seco do ano apresentam queda na sua qualidade e menores produtividades. Logo o corte diário de uma dada gramínea tropical, bem manejada, no verão pode satisfazer a demanda de um dado sistema de produção neste período. O mesmo não podemos afirmar (de forma alguma), no inverno.
Para avaliarmos forragens, não podemos levar em consideração o quesito produtividade sem avaliarmos a qualidade das mesmas, ou seja, o valor nutricional (VN). Em outras palavras é necessário saber, pelo menos, o teor de energia e proteína do volumoso oferecido para nossos animais e, principalmente a composição e perfil da fração fibra (FDN e FDA) do mesmo que é determinante para atingirmos o consumo de matéria seca predicado numa formulação de dieta ou não. Elevados teores de FDN (e FDA) são inimigos do consumo animal e, por tabela, de nutricionistas de rebanhos. Para explicitarmos tal conceito vamos recorrer a um exemplos simples, como a comparação de silagem de capim mombaça e silagem de milho. Produtores desprovidos de conhecimento técnico associam o custo mais baixo do capim em relação ao milho pelo fato do mesmo poder produzir num corte 80 ton de MO/ha, por exemplo, contra 40 ton de MO/ha para uma silagem de milho bem conduzida. Se considerarmos um custo de 45,00/ton para silagem de mombaça e 70,00/ton para silagem de milho para os exemplos citados acima chegamos à conclusão de que o mombaça é uma excelente opção como forrageira. O primeiro-passo para avaliarmos custos e qualidade de forrageiras é trazer para a base seca os custos destes alimentos, ou seja, calcularmos o custo unitário do nutriente. Dessa forma, temos que saber o teor de matéria-seca (MS) dos alimentos e a concentração e energia e proteína dos mesmos (ou do teor que desejamos avaliar). Considerando 25% de MS para silagem de mombaça e 35% de MS para silagem de milho temos: 180,00/ton MS e 200,00/ton MS para silagem de mombaça e silagem de milho, respectivamente. Considerando um teor de NDT (energia) de 58% e 68% e teor de 15% e 9% de PB (proteína) para ambas as silagens, respectivamente (mombaça e milho), elaboramos a tabela comparativa abaixo:
Tabela 1. Comparativo Silagem de Mombaça x Silagem de Milho:
Silagem Mombaça Milho
R$/ton MS 180,00 200,00
% NDT 58 68
% PB 15 9
R$/ton NDT 310,34 294,12
R$/ton PB 1.200,00 2.222,22
Para esclarecermos ainda mais os conceitos supracitados, faremos um cálculo nutricional simplificado. Consideremos uma dieta com 10 kg de MS/cab/dia de volumoso e a possibilidade de fornecermos como fonte de energia, apenas 2 kg de farelo de milho e fonte de proteína apenas 1 kg de farelo de soja + 0,120 kg de núcleo mineral/cab/dia. Estas seriam condições práticas e restritivas em termos de manejo, atrelado a custos, ou seja, limitação financeira (bolso do produtor). A quantidade de concentrado acima (milho e soja) foi corrigida para a base seca nas tabelas abaixo:
Tabela 2. Silagem de Mombaça
Volumoso kg MS/cab/dia Teor NDT% kg NDT/cab/dia
S. de Mombaça 10,0 58 5,80
Farelo de Milho 1,76 85 1,49
Farelo de Soja 0,88 81 0,71
Núcleo Mineral 0,12 0 0
Total 12,76 8,00
Teor NDT (dieta) - 62,6 %
Tabela 3. Silagem de Milho
Volumoso kg MS/cab/dia Teor NDT% kg NDT/cab/dia
S. de Milho 10,0 68 5,80
Farelo de Milho 1,76 85 1,49
Farelo de Soja 0,88 81 0,71
Núcleo Mineral 0,12 0 0
Total 12,76 9,00
Teor NDT (dieta) - 70,5%
Quando calculamos e escolhemos forrageiras, o raciocínio acima é importante e válido para não fazermos confusão. Voltando a conversa inicial, do nosso amigo, mesmo com todos os problemas, chegamos à conclusão de que avaliar custos comparativos entre alimentos volumosos é importante. Apesar de todos os fatores envolvendo custo, a conclusão final da nossa conversa foi a de que custos são importantes, mas não ter forrageiras suplementares em muitos casos é comum e desesperador! Animais são soltos em pastos baixos, temos casos de desnutrição e, praticamente fica impossível almejarmos produção de leite quanto mais pensarmos e reprodução. Nesta hora, o pecuarista de leite procura chamar o técnico : “para resolver”... este, se não tiver maturidade e capacidade para expor os fatos ao produtor pode assumir um desafio impossível e por em risco sua reputação (e conseqüentemente a classe, pois tentará fazer seu trabalho que será em vão).
A temática deste texto está abordando, antes de tudo a necessidade do planejamento da produção de alimentos em fazendas de leite, maior entrave e desafio para o crescimento de fazendas e produção de leite dentre tantos outros existentes na atividade. É importante colocarmos na cabeça dos produtores que custos e comparações existem quando temos alimento disponível nas propriedades. Em tempos de vacas magras, a silagem mais cara será sempre aquela que você não possui!
Colaborou neste post, Eng° Agr° MSci Paulo Farano Stacchini (ESALQ-USP), sócio-consultor da AgroScience - Consultoria e Planejamento