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Você conhece o "nível de felicidade" de seus bezerros?

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

E LUCAS SILVEIRA FERREIRA

CARLA BITTAR

EM 22/08/2011

4 MIN DE LEITURA

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A crescente demanda pela criação de animais em sistemas que priorizem o chamado "bem-estar animal" tem levado pesquisadores a investigar o tema com maior frequência. Os objetivos destes estudos se baseiam no princípio de que, ao manter animais sob nossos cuidados e responsabilidades, devemos garantir que estes sejam criados livres de situações de desconforto, dor e outras experiências negativas que possam inibir sua capacidade de vivenciar e expressar comportamentos naturais da espécie.

Assim, o comportamento lúdico, ou seja, aquele que promove prazer ou diversão tem sido sugerido como uma medida potencialmente útil de bem-estar. No caso de bezerros em aleitamento e até mesmo novilhas em crescimento, a observação prática nas fazendas e sistemas de manejo nos permite identificar comportamentos que nos passam a impressão de "diversão", ou pelo menos, de "brincadeiras" bastante comuns entre os animais do lote e até mesmo com os tratadores.

No entanto, estas "brincadeiras" costumam ser notadas somente quando suas necessidades básicas como alojamento em local adequado, seguro, confortável e com livre acesso à água limpa e alimento de qualidade são atendidas.

Além disso, como tratado em radar técnico publicado em Agosto de 2006 (Bezerros leiteiros podem reconhecer tratadores diferentes?") os animais são capazes de identificar situações de estresse ou até mesmo distinguir diferentes pessoas baseando-se em experiências negativas anteriores, comprometendo seu adequado desenvolvimento.

Estudos conduzidos nos últimos anos têm mostrado que, principalmente fatores como abrigos com tamanhos inadequados (espaço físico reduzido ou sem oportunidade de livre locomoção), oportunidades de contato social com outros animais (não o contato físico, mas a presença de mais de um animal na área de criação) e níveis de iluminação (principalmente em sistemas com criação em galpões fechados) reduzem a freqüência de comportamentos positivos.

Além disso, alterações no comportamento também são observadas quando animais são alimentados de maneira inadequada, com dieta líquida ou concentrados de baixa qualidade, mostrando que a nutrição tem papel fundamental no bem-estar dos animais.

Com base nesses questionamentos e observações práticas, o grupo de pesquisa da Universityof British Columbia no Canadá, liderado pela Dra. Anne Marie de Passilé(Krachun et al., 2010), avaliou os efeitos da nutrição e de métodos de desaleitamento sob o comportamento de bezerrasdurante o período de aleitamento.

Neste estudo, 51 bezerras da raça Holandês foram subdivididas em três grupos, de acordo com o sistema de alimentação:
Grupo 1 - alimentação com 6 Litros de leite/ dia e desaleitados com7 semanas de vida;
Grupo 2 - alimentação com 12 Litros de leite/dia e desaleitados com 7 semanas de vida;
Grupo 3 - alimentação com 12 Litros de leite/dia e desaleitados com 13 semanas de vida.

O desaleitamento foi conduzido de forma gradual, ao longo dos últimos 9 dias, com reduções na quantidade de leite fornecida. Os animais foram abrigados em baias com alimentadores automáticos, com fornecimento de dieta líquida o dia todo até o limite imposto de cada tratamento.

Os comportamentos considerados positivos e indicativos de bem-estar adotados foram: corridas (galope ou trote), saltos e interação com outras bezerras (cabeçadas, por exemplo).

Os resultados mostraram que as observações desses comportamentos são reduzidas com a idade. Além desta redução, o desaleitamento tem impacto direto nas expressões positivas dos animais, com alterações evidentes, conforme pode ser observado na 7ª semana, ou seja, ao desaleitamento dos Grupos 1 e 2 (Figura 1).

Entretanto, o fornecimento de maior quantidade de leite parece não ter influenciado sobre os parâmetros avaliados no momento do desaleitamento, não sendo verificadas diferenças no comportamento de animais alimentados com 6 ou 12 litros por dia. Assim, conforme esperado as reduções nas freqüências de corridas (animais mais quietos, menos agitados, deitados ou com intensa vocalização) observadas à 7ª semana podem ser consideradas como indicativasde sinais comportamentais de estresse.



Figura 1 - Duração média, em segundos, de comportamento positivo (corrida) de bezerras de acordo com a idade.

Quando observamos a relação entre o fornecimento de maior quantidade de leite e a frequência de execuções positivas, os dados sugerem que um maior consumo de energia tem relação direta com uma maior atividade lúdica. No caso do Grupo 3, embora com desaleitamento à 13ª semana a frequência de comportamento positivo foi menor do que a observada nas primeiras semanas, não foram observadas reduções drásticas ou diferenças entre animais da mesma idade e já desaleitados (Grupo 1 e 2; Figura 1). Estes resultados podem indicar que o desaleitamento muito precoce pode prejudicar o desenvolvimento comportamental dos animais, com efeitos negativos relacionados ao estresse provocado pela retirada da dieta líquida.



Figura 2. Bezerro correndo e interagindo com outro animal

Dessa forma, através deste estudo, os pesquisadores puderam concluir que, mais que a quantidade de dieta líquida fornecida, o momento do desaleitamento pode influenciar o comportamento dos animais. Saber observar e identificar situações de estresse ou de "felicidade" é de fundamental importância para a condução de um sistema de criação de bezerras eficiente. Mais que identificar, saber adequar cada condição com o objetivo de mitigar situações negativas garantem, mesmo com o desaleitamento precoce ou mais tardio, uma menor influência deste momento tão estressante na vida do animal sobre seu desenvolvimento natural.


Bibliografia consultada
Krachun, C.; Rushen, J.; de Passillé, A.M. Play behaviour in dairy calves is reduced by weaning and by a low energy intake Applied Animal Behaviour Science, v.122, p.71-76, 2010.

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

LUCAS SILVEIRA FERREIRA

Engenheiro agronômo formado pela UFSCar e Doutor em Ciência Animal e Pastagens pela ESALQ - USP na área de nutrição e avaliação de alimentos para bovinos. Atualmente exerce a função de Nutricionista de Ruminantes na Agroceres MMX Nutrição Animal

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CARLA MARIS MACHADO BITTAR

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 16/09/2011

Marcio,

Pelo que entendi, eles ficam em área coberta até 3-4 dias após o nascimento e sem acesso a água e alimento. Sem problemas...mas assim que chegarem ao piquete é interessante ter concentrado a vontade. Quanto antes melhor!

Carla.
MARCIO RANGEL BORGES

GUAÇUÍ - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 14/09/2011

Obrigado pelas dicas, mas com quantos dias eles podem ir para os piquetes, pq tenho levado eles apos 3 a 4 dias, antes eles ficam em uma area reservada coberta, porem ainda não tem acesso a agua e comida, só quando vão para os piquetes.
CARLA MARIS MACHADO BITTAR

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 12/09/2011

Márcio,

O sombrite dá alguma proteção para os animais no caso de chuva, mas vão ficar molhados...No caso de animais mais velhos isso não é um grand eproblema, desde que não esteja muito frio e com ventos. Mas, para os recém-nascidos isso pode sim ser um problema, já que os animais ainda estão se adaptando para manter sua própria temperatura corporal. Ainda, no caso dos piquetes, pode ser mais difícil o acesso aos animais, muitas vezes "inibindo" o tratador de realizar algumas tarefas importantes, como por exemplo o diagnóstico de doenças.

Abs.,

Carla.
MARCIO RANGEL BORGES

GUAÇUÍ - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 09/09/2011

Não vem muito ao assunto mas tenho uma duvida quanto ao sistema de criação argentino, em minha propriedade tenho um mix de criação digamos moderna de bezerros, como ex: coloquei um sombrite mas, no ligar das coleras correndo no fio fiz uma minipiquete de tifton individual para cada bezerra, ai vai a minha duvida e quando chover intensamente, os animais podem ficar ali mesmo embaixo do sombrite, pq mesmo assim molha,


att Marcio Rangel.
CARLA MARIS MACHADO BITTAR

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 05/09/2011

Guilherme,

Não temos dados relacionados aos efeitos do desaleitamento no desenvolvimento cerebral dos bezerros, mas sabemos que este evento é grande fonte de estresse pro animal, aumentando os níveis de cortisol.

Com relação ao colostro, embora seja visto somente como veículo de transmissão de imunidade, tem também um papel importante no que se refere a nutrição do recém-nascido, trazendo de alguma forma também sensação de bem-estar.

Att.,

Carla.
GUILHERME AMORIM FRANCHI

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 22/08/2011

Esse é um trabalho muito importante, o qual mostra a relevância de um cuidado eficiente dos bezerros. Gostaria de saber qual é a influencia do desaleitamento precoce ou drástico no desenvolvimento cerebral dos bovinos. E se a qualidade do colostro dado aos bezerros influencia no nível de bem-estar ou se apenas resulta no surgimento de doenças. Agradeço.

Guilherme Amorim Franchi - Pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Ambiência (NUPEA)

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