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Plano alimentar e analgesia trazem benefícios durante mochação

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

E MARINA GAVANSKI COELHO

CARLA BITTAR

EM 20/06/2022

7 MIN DE LEITURA

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A mochação é um procedimento comum e necessário na bovinocultura leiteira, porém é um manejo bastante doloroso, especialmente quando realizado sem anestesia local e analgesia adequada. Embora esse fato seja de entendimento amplo junto a cadeia de produção de leite, ele não repercute na melhora do tratamento de controle da dor durante a mochação. 

A administração de anestésico local e antiinflamatório não-esteroidal (AINE) reduz substancialmente as problemáticas relacionadas à dor, independente da mochação ser realizada através de cauterização ou pasta cáustica. Assim, a associação de anestésico local e AINE é recomendada.

A haptoglobina é uma proteína de fase aguda e um importante indicador de inflamação em bovinos e vêm sendo relatada como resposta ao manejo de mochação. Bezerros que recebem AINE e anestésico durante o manejo de mochação apresentaram menor concentração de haptoglobina em comparação aos que não receberam (Erdogan et al., 2019; Reedman et al., 2020).

O comportamento também é um bom indicador relacionado a resposta à dor. Bezerros submetidos a estresse e estímulos dolorosos, permanecem menos tempo deitados, mais inquietos e vocalizam com mais frequência.

No estudo de Adcock et al. (2020), onde os bezerros receberam apenas anestesia local durante o manejo de mochação com pasta cáustica, apresentaram mudanças comportamentais consistentes relacionadas à dor por até 11 dias após o procedimento. A maioria dos estudos que avaliaram o método de mochação, observaram os bezerros por no máximo 3 semanas, mas sabe-se que o processo de cicatrização e reepitelização varia e pode ultrapassar 70 a 90 dias. Além disso, o novo epitélio tende a ser mais sensível.

Outro aspecto crucial relacionado ao manejo de mochação, controle da dor e principalmente cicatrização é a nutrição. Sabe-se que em humanos a condição de desnutrição (abrange tanto ingestão nutricional pobre até o equilíbrio metabólico geral) tem sido constantemente documentada como fator de atraso de cicatrização de feridas. Neste sentido, pode-se hipotetizar que para bezerros houvesse vantagem relacionada a um plano de aleitamento ad libitum (>20% do peso corporal ao nascimento) em comparação ao convencional.

Frente a essas afirmações, um estudo de Reedman et al., (2022) teve por objetivo avaliar o efeito de um programa de aleitamento à vontade (até 15L/d) em comparação ao programa limitado onde os bezerros recebiam até 6L/d, na cicatrização de feridas após a mochação em bezerros leiteiros, bem como o efeito de uma dose adicional de meloxicam (AINE) 3 dias após a mochação quanto a dor e inflamação (haptoglobina).

Para isso os autores utilizaram 80 bezerras da raça Holandesa alocadas em gaiolas individuais e alimentadas com aleitador automático individual. O material e métodos desse experimento está resumido no organograma da Figura 1.

Figura 1. Organograma do material e métodos adaptado do estudo de Reedman et al. (2022)

material e métodos do estudo

Na Figura 2 é possível visualizar o escore que os autores utilizaram para avaliar o processo de cicatrização das feridas através de fotos comparativas ao longo das 7 a 8 semanas, procedimento previamente descrito por Adcock e Tucker (2018).

Figura 2. Sistema de escore utilizado para avaliar os tipos de tecido em feridas de mochação.

escore de avaliação ferida   


Os autores esperavam que os bezerros que consumiam mais leite teriam o processo de cicatrização melhorado, com diâmetro e profundidade de ferida menores. Da mesma forma, esperavam que bezerros que receberam a dose adicional de AINE 3 dias após a mochação apesentariam menor concentração de haptoglobina, diminuição do limiar de dor (teste LNM – limiar nociceptivo mecânico, realizado através do estímulo de pressão em quatro pontos ao redor do botão córneo) e passariam mais tempo deitados em comparação às bezerras que receberam apenas uma dose.

Quanto aos resultados obtidos, a Figura 3 demonstra as respostas quanto ao processo de cicatrização das feridas.

Figura 3. Quadrados mínimos do diâmetro (A) e profundidade (B; mm) de feridas de bezerros em aleitamento à vontade (BN) em comparação ao programa de aleitamento limitado a 6L/d (LP) ao longo de tempo em relação ao manejo de mochação. Quadrados mínimos do diâmetro (C) e profundidade (D; mm) de feridas de bezerras que recebiam dose adicional de AINE (Extra NSAID) e que não recebiam dose adicional após manejo de mochação (Control).

carla bittar

O diâmetro da ferida no dia da mochação não diferiu entre os tratamentos. No entanto, da 3ª a 8ª semana pós-mochação as bezerras que receberam aleitamento à vontade tiveram menor diâmetro e profundidade de ferida (Figura 3A e 3B). A partir da semana 4, as bezerras que receberam apenas 1 dose de AINE tiveram menor diâmetro e profundidade de ferida em comparação as que receberam 2 doses.

Na Figura 4, é possível identificar através da curva de Kaplan-Meier a maior probabilidade dos bezerros que recebiam mais leite atingirem o estágio final de re-epitelização da ferida mais cedo. Por outro lado, animais que recebera dose extra de AINE, tiveram atraso no processo.

Figura 4. Curva de falha de Kaplan-Meier de re-epitelização do broto córneo com base no tratamento relacionado ao programa de aleitamento e dose extra de AINE pelo tempo relativo (d) pós-mochação.

mochaçao

O processo de cicatrização é bastante longo e pode durar até 8 semanas após a mochação, havendo efeito na velocidade de cura à medida que os animais recebem ou não doses adicionais de AINE ou são alimentados com menores volumes de leite.

A Figura 5 mostra os escores observados para avaliar os tipos de tecido em feridas de mochação de acordo com o tempos após o procedimento e mostra de maneira clara que a cura completa ocorre em tempo maior do que normalmente se avalia o processo com relação a dor e alterações no comportamento dos animais.

Figura 5. Tipo de tecido observado de acordo com os dias relativos à mochação. A caixa mostra o intervalo interquartil com a parte inferior da caixa representando o percentil 25 e o topo representando o percentil 75. A linha no meio de cada caixa representa a mediana, e as barras são o limite superior e inferior. Os círculos pretos no gráfico representam os valores externos ou valores discrepantes, que são quaisquer valores fora do intervalo da caixa e da barra de erro.

grafico

Quanto a concentração de haptoglobina não houve diferença de concentração 60 minutos antes da mochação até 6 dias após, quando se comparou os programas de aleitamento. A partir do dia 7, as bezerras que recebiam aleitamento à vontade apresentam concentração menor da proteína. O teste do Limiar Nociceptivo Mecânico (LNM) resultou em maiores valores para os bezerros do programa de aleitamento limitado a 6L/d, demonstrando que essas bezerras apresentavam maior sensibilidade da região ao longo do período avaliado. Não houve diferença entre os grupos relacionados ao tratamento de AINE.

Já quanto ao comportamento de tempo deitado, os bezerros que recebiam dieta à vontade foram mais ativos em comparação àqueles com dieta mais restrita, com menos episódios de deitar ao longo do dia, mas com períodos médios de maior duração.

Os resultados deste estudo demonstram que o programa de aleitamento à vontade pode resultar em menor tempo de cicatrização de feridas da mochação, aumentando a atividade dos animais. No entanto, mostra também que a administração de dose extra de AINE, 3 dias após a mochação, embora demonstre retardar o processo de cicatrização, pode resultar em menos dor experimentada pela bezerra de 1 a 2 semanas após o procedimento.

Este experimento é também um dos primeiros a demonstrar que após a mochação com remoção completa do broto córneo, as feridas podem levar mais de 8 semanas para re-epitelizar e curar completamente.

 

Comentários

A necessidade do adequado controle da dor para o procedimento de mochação é indiscutível para o bem-estar dos animais e controle de alterações comportamentais de e desempenho. Esse é um procedimento que embora muito importante para a bovinocultura leiteira, é também a ocorrência principal de experimentação de dor e desconforto pelas bezerras na fase de cria. O manejo deve ser realizado no primeiro mês de vida, mas sabe-se que quanto mais cedo, melhor. O procedimento deve estar sempre associado ao uso de anestesia local e analgesia com AINE por pelo menos 3 dias.

Bezerras que experimentam dor, além de apresentarem prejuízos comportamentais e de bem-estar, apresentam piora nos indicadores de desempenho. Sua bezerra pode estar deixando de ganhar peso por longo período como resposta ao procedimento de mochação, de forma que o baixo custo analgesia adequada para esse procedimento se justifica e se paga facilmente em qualquer sistema de produção.
 

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Referências

Adcock, S. J. J., and C. B. Tucker. 2018. The effect of disbudding age on healing and pain sensitivity in dairy calves. J. Dairy Sci. 101:10361–10373.

Adcock, S. J. J., D. M. Cruz, and C. B. Tucker. 2020. Behavioral changes in calves 11 days after cautery disbudding: Effect of local anesthesia. J. Dairy Sci. 103:8518–8525.

Erdogan, H., I. Akin, K. Ural, and P. A. Ulutas. 2019. Effects of selected nonsteroidal anti-inflammatory drugs on acute-phase protein levels after dehorning in Holstein heifers. Med. Weter. 75:438–441.

Reedman, C. N., T. F. Duffield, T. J. DeVries, K. D. Lissemore, N. A. Karrow, Z. Li, and C. B. Winder. 2020. Randomized control trial assessing the efficacy of pain control strategies for caustic paste disbudding in dairy calves younger than 9 days of age. J. Dairy Sci. 103:7339–7350.

Reedman, Cassandra N., et al. Effect of plane of nutrition and analgesic drug treatment on wound healing and pain following cautery disbudding in preweaning dairy calves. Journal of Dairy Science (2022).

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

MARINA GAVANSKI COELHO

Mestranda em Ciência Animal e Pastagens, ESALQ/USP

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PEDRO SAINT CLAIR DOS ANJOS

GALILÉIA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 20/06/2022

muito bom o artigo.

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