Do ponto de visto prático, a avaliação do escore da condição corporal (ECC) das matrizes antes e durante a estação de monta e no final da gestação possibilita ajustes na nutrição e a obtenção de melhores resultados reprodutivos e econômicos. Tanto animais desnutridos quanto extremamente obesos podem apresentar falhas reprodutivas ao longo da estação de monta ou da gestação. De acordo com Ribeiro et al. (2003) as perdas reprodutivas que ocorrem em rebanhos ovinos no estado do Rio Grande do Sul devido a infertilidade são relacionados com o baixo ECC no momento do encarneiramento.
O peso corporal em ovinos é visto como uma medida indireta e pouco eficaz para se avaliar o estado nutricional. Com isso, a avaliação do escore da condição corporal coloca-se como um método simples e eficaz para avaliar o estado nutricional do rebanho. Ducker & Boyd (1977) observaram que ovelhas de pequeno porte e com alto ECC tiveram maior taxa de ovulação do que ovelhas maiores com baixo ECC. Gunn et al. (1984) sugeriram escore de condição corporal médio de 2,5 (escala de 1 a 5) para se obter taxas de ovulação satisfatórias.
O exame da condição corporal é uma ferramenta de fácil adoção na avaliação nutricional de rebanhos ovinos. Apesar de ser um exame subjetivo, não representa custo adicional ao produtor por não requerer nenhum equipamento, infra-estrutura ou tecnologia especializada. A única exigência dessa técnica é que o avaliador tenha capacitação técnica e experiência prática para que a margem de erro seja mínimo.
Figura 1 - Ilustração esquemática da avaliação do escore de condição corporal por palpação da região lombar. A: Palpação da apófise espinhosa; B: Palpação da apófise transversa e C: Palpação da deposição de gordura e musculatura lombar.
Tal avaliação consiste em classificar os animais em escores de condição corporal que variam de 1,0 a 5,0 (fracionados em 0,25); em que 1,0 representa o animal extremamente magro e desprovido de qualquer deposição de gordura subcutânea e 5,0 o animal extremamente obeso. O exame é realizado por meio da inspeção visual da região dorso-lombar (região do lombo acima dos vazios dos flancos abdominais) e da palpação dos processos transversos e espinhosos das vértebras lombares, localizados entre a última vértebra torácica (região acima das costelas) e a primeira vértebra sacral (região da garupa acima dos ossos da bacia pélvica). O objetivo dessa avaliação é verificar o grau de deposição de gordura subcutânea com base na proeminência dos processos transversos e espinhosos.
Na avaliação prévia de quatro semanas antes da estação de monta, deverão ser selecionadas ovelhas com ECC acima de 2,0. As ovelhas deverão ser agrupadas em lotes homogêneos de acordo com o ECC. Esta separação possibilita ajustar o manejo nutricional dessas matrizes, diferenciando a composição das rações ou da quantidade fornecida diariamente para cada grupo. Desta forma, as exigências nutricionais de cada lote podem ser atendidas e desperdícios evitados.
A formulação da ração das ovelhas com ECC abaixo de 2,5 deve permitir ganho de peso das mesmas para que atinjam a condição corporal adequada para entrar em estação de monta. Já as ovelhas com ECC superior a 3,75 devem ser submetidas à restrição alimentar para que entrem na estação de monta com ECC próximo a 3,0 (Chagas et al. 2007). Ovelhas com ECC entre 2,75 e 3,25 estão aptas para entrar em estação de monta na avaliação realizada imediatamente antes do início da estação reprodutiva.
A composição da ração das ovelhas gestantes deve atender às exigências de mantença da ovelha, de crescimento fetal e de produção de leite e colostro. Segundo Chagas et al. (2007) a ovelha deve apresentar ECC de 3,0 a 3,5 em partos simples ou de 3,5 a 4,0 no caso de partos duplos. Na desmama, a ovelha deve apresentar no mínimo ECC igual a 2,0, conforme apresentado na Tabela 1.
Tabela 1 - Relação entre a fase produtiva da ovelha com o escore de condição corporal ideal.
Para um ajuste no ECC das ovelhas entre 2,0 e 2,5 e, para aumentar as taxas de ovulação, pode ser utilizada uma suplementação energética conhecida como flushing. Esta prática consiste em aumentar o aporte nutricional e o efeito dinâmico sobre o peso e o escore corporal, por consequência aumentando as taxas de concepção, prenhez e natalidade.
Como recomendação geral, pode-se dizer que essa alimentação especial (flushing) deve começar ao redor de duas a quatro semanas antes da estação de monta com a finalidade principal de aumentar a taxa de ovulação e continuar duas a três semanas depois da estação de monta, com a finalidade de diminuir a mortalidade embrionária. Dessa forma, o resultado final da aplicação dessa prática alimentar será o aumento no número de cordeiros nascidos. Por outro lado, a restrição alimentar é a ferramenta utilizada para que ovelhas consideradas gordas (ECC igual ou maior que 4) percam peso e atinjam o ECC considerado ótimo para reprodução. (Tabela 2).
Tabela 2 - Estratégias de manejo a serem adotadas de acordo com o escore de condição corporal.
Referências bibliográficas
Chagas, A.C.S. et al. Ovinocultura: controle da verminose, mineralização, reprodução e cruzamentos na Embrapa Pecuária Sudeste. Práticas/ Processo Agropecuário. São Carlos: Embrapa Pecuária Sudeste, Documento 65, 2007.
Ducker, M.J.; Boyd, J. The effect of body size and body conditional on the ovulation rate of ewes. Animal Production, v.24, p.377-385, 1977.
Gunn, R.G., et al. Effects of age and its relationship with body size and reproductive performance in scottish blackface ewes. Animal Production, v.43, p.279-283, 1984.
Ribeiro, L.A.O. Relação entre a condição corporal e a idade das ovelhas no encarneiramento com a prenhez. Ciência Rural, Santa Maria, v.33, n.2, p.357-361, 2003.