Considerando as estimativas da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), os valores fornecidos pelos Serviços de Inspeção Estadual (SIE) e Federal (SIF), e os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), o consumo total de carne ovina brasileira alcançou cerca de 88,25 mil toneladas em 2009, onde aproximadamente 8,61% foi composto por produtos cárneos ovinos importados.
Embora tal percentual seja discreto, quando se avalia o consumo doméstico formal, a participação das importações atinge 55,3%, o que ressalta a elevada importância das mesmas para o atendimento, fortalecimento e crescimento da demanda existente nas capitais e grandes centros urbanos do país.
Volume e valores
Como é possível observar no Gráfico 1, tanto o volume quanto o valor das importações caíram em 2009.
Gráfico 1 - Volume importado e valor de produtos cárneos ovinos em mil toneladas e em milhões de dólares.
O volume importado atingiu 7,6 mil toneladas em 2009, sofrendo baixa de 6,9% em relação a 2008, o que pode ser atribuído ao aumento da carta de clientes do Uruguai - o principal fornecedor para o mercado doméstico brasileiro - e aos melhores preços pagos nos mercados fora da América Latina, uma vez que a produção uruguaia tem se estabilizado nos últimos 5 anos em torno das 54 mil toneladas.
Acompanhando a trajetória, o valor das importações fechou o ano de 2009 com uma queda de 6,6% comparado a 2008, alcançando cifras de 22,43 milhões de dólares ou 44,8 milhões de reais, considerando que a cotação média do dólar finalizou 2009 a 1,997 reais.
Apesar da baixa no volume das importações em 2009, o consumo doméstico formal alcançou a faixa das 13,75 mil toneladas, contabilizando uma alta de aproximadamente 6,3% em relação a 2008. Tal valor foi possível graças à alta de 27,8% na produção doméstica em 2009, o que, além de tamponar a queda das importações, elevou o consumo doméstico a um novo patamar, de acordo com o Gráfico 2.
Gráfico 2 - Produção doméstica, importações e consumo doméstico, em mil toneladas.
Perfil
De acordo com os dados do MDIC, houve uma redução de 21,3 pontos percentuais nos embarques de cortes com osso em 2009 comparado com 2008, e concomitantemente, um aumento relevante no volume dos outros produtos, o que modificou ligeiramente o perfil e a participação percentual dos diversos produtos dentro do volume importado, conforme os Gráficos 3 e 4.
Gráfico 3 - Participação percentual de produtos ovinos importados, 2008.
Gráfico 4 - Participação percentual de produtos ovinos importados, 2009.
Embora tenha havido incrementos significativos no volume importado de ovinos vivos (171,7%), carcaças de cordeiro (123%), carcaças mutton (89,8%) e de cortes sem osso (18,6%), os valores não foram suficientes para equalizar a queda de volume dos cortes com osso, o principal produto cárneo importado pelo mercado.
A Tabela 1 mostra os valores médios dos produtos ovinos uruguaios importados pelo Brasil durante os anos de 2008 e 2009, e a variação no preço ocorrida no período.
Tabela 1 - Valores FOB para produtos cárneos ovinos uruguaios.
Apesar da retração nos preços da maioria dos produtos, o cordeiro congelado e os cortes com osso tiveram uma alta em relação a 2008, por serem os produtos de maior demanda nos países desenvolvidos, onde as cotações são, historicamente, superiores.
Considerando a cotação média da carcaça de cordeiro em 2009 (R$ 7,05/kg - Feira de Santana, BA) e os valores convertidos em reais, é possível verificar que o preço médio dos cortes com osso e do cordeiro congelado fecharam em R$ 6,23/kg e R$ 6,41/kg, respectivamente, os mais próximos até então dos preços praticados no mercado interno.
Considerações finais
Já é bastante clara a essencialidade das importações de produtos cárneos ovinos para o sistema agroindustrial brasileiro da carne ovina e o papel crucial que tais importações possuem para suprir a forte e crescente demanda formal existente no mercado doméstico.
Embora muitas vezes se critique negativamente as importações, as mesmas contribuem para tornar a carne ovina mais visível e disponível para o consumidor final, aumentando com isso, o volume de consumidores potenciais, assim como, sustentando uma relativa regularidade de oferta no varejo.
Essa característica funciona de forma a introduzir novos consumidores à carne ovina, estimular o hábito de se consumir carne ovina, aumentar a frequência desse consumo e fidelizar os consumidores, e como resultado, fortalecer a demanda por tal produto.
Finalmente, por meio da sustentabilidade e fomento da demanda, a carne ovina importada, indiretamente, tende a atrair novos investidores, criadores, produtores e indústrias para a atividade, permitindo a expansão horizontal e vertical da cadeia produtiva no Brasil.