Capacidade de serviço refere-se a uma medida do número de serviços (cópulas) que um reprodutor realiza sob condições definidas de avaliação, sendo uma característica diretamente relacionada à libido e à capacidade de cobertura. Por libido (ou desejo sexual), entende-se como a "vontade e ânsia" que um macho manifesta para tentar montar e servir uma fêmea, enquanto que, capacidade de cobertura (ou de monta) diz respeito à capacidade física do macho para executar o serviço (montar e copular).
As características produtivas e reprodutivas positivas são irrelevantes se um carneiro é incapaz de localizar e servir fêmeas receptivas. Porém, e apesar da importância da capacidade de serviço para a produtividade do rebanho, os reprodutores ovinos são frequentemente vendidos e usados sem receber qualquer tipo de avaliação para essa característica.
No teste de capacidade de serviço (TCS), os carneiros a serem testados são colocados individualmente (a priori) em um pequeno piquete ou área confinada com 2 ou 3 ovelhas em estro (natural ou hormonalmente induzido) por um período de 20 minutos. Durante o teste, procura-se avaliar a libido (nível de interesse sexual, incluindo montas e serviços), o tempo de reação (intervalo de tempo entre a cognição masculina de um estímulo apropriado e o primeiro serviço), a capacidade de servir (número de serviços por teste) e a capacidade de cobertura (relação do número de montas sobre número de cópulas).
Inicialmente, os carneiros em teste devem receber 10 minutos de estimulação sexual prévia. É crucial que os carneiros jovens ou novatos sejam avaliados separadamente dos carneiros mais velhos para evitar que os fatores de dominância social prejudiquem ou invalidem os resultados finais.
As ovelhas a serem utilizadas no TCS devem ser fortes e estarem em boa condição corporal, e antes do início do teste, a vulva de cada uma das ovelhas deve ser lubrificada com 5 a 10 ml de gel lubrificante estéril para reduzir o trauma tecidual devido às coberturas repetidas.
Para a classificação do comportamento sexual dos carneiros, é viável utilizar a pontuação preconizada por Chenoweth (1984) para touros, porém adaptada com alguma modificação para carneiros, conforme a Tabela 1 abaixo:
Tabela 1 - Classificação do comportamento sexual de reprodutores ovinos.
Assim, para a classificação final da capacidade de serviço e considerando um teste de 20 minutos, uma pontuação igual ou inferior a 7 é considerada questionável, 8 baixa, 9 média, e 10 alta. Carneiros que tenham obtido resultados questionáveis devem ser reavaliados sob condições diferentes ou em dias diferentes para assegurar que bons reprodutores não sejam descartados equivocadamente.
Embora o exame andrológico ajude a identificar reprodutores com potencial para conceber mais ovelhas, é o TCS que permite a identificação de carneiros que servem mais fêmeas, de forma a possibilitar a exploração do potencial de cobertura desses animais, que é uma das formas mais rápidas e mais simples de reduzir custos, conforme já abordado no artigo "Otimizando o uso de reprodutores".
Figura 1 - Reprodutores da raça Dorper e White Dorper trabalhando a campo em uma relação 1:52 em estação de monta de 42 dias sobre um lote de ovelhas da raça Santa Inês e Somalis que alcançaram taxa média de concepção de 93,2%.
Além disso, o uso de reprodutores com maior capacidade de serviço tem beneficiado as taxas de concepção, o tempo para concepção, a duração da estação de monta e de parição, a homogeinidade dos cordeiros à desmama, o uso mais eficiente da equipe operacional e a fertilidade da progênie desses reprodutores, uma vez que o comportamento sexual é uma característica herdável e independente.
Finalmente, as correlações entre as características examinadas no exame andrológico (circunferência escrotal, consistência testicular e epididimária, e volume, qualidade e morfologia seminais) e as avaliadas no teste de capacidade de serviço (libido e capacidade de monta) são próximas de zero, ressaltando que o TCS deve ser utilizado como avaliação complementar ao exame andrológico.