Processamento mecânico de silagens de milho

José Roberto Peres

Sistemas de processamento mecânico de silagens de milho são largamente utilizados na Europa e têm se tornado cada vez mais freqüente na América do Norte. Estes sistemas realizam um processamento adicional no milho e outros pequenos grãos após a colheita, para assegurar que eles sejam danificados a ponto de melhorar a utilização do amido pelos ruminantes.

O uso destes equipamentos tem crescido por três motivos principais:

1.) aumento do preço dos grãos (a maior eficiência de utilização reduz a necessidade de suplementação)
2.) tendência de um maior tamanho de corte das forragens, o que reduz o processamento dos grãos pelas facas (necessidade de fibra efetiva)
3.) secagem muito rápida dos grãos em função de mudanças climáticas (veranicos mais freqüentes).

Vários tipos de processadores tem sido utilizados, mas atualmente o sistema mais popular é o processador totalmente ativo anexado à ensiladeira. Ele consiste de dois rolos que giram em sentido contrário, posicionados entre as facas e o elevador. A distância entre os rolos pode ser ajustada para controlar a intensidade da ação exercida nos grãos e na forragem. Esta unidade não somente esmaga e desfia os grãos e o sabugo, mas também exerce ação sobre a parte forrageira do milho, reduzindo o tamanho de partículas abaixo daquele normalmente obtido por uma máquina comum. Processadores deste tipo reduzem a capacidade de colheita da máquina em até 28% e aumentam os requerimentos de potência do trator entre 7 e 15%.

Um importante efeito do processamento de silagens de milho é a melhora na fermentação e preservação da silagem. Alguns trabalhos demonstram menores perdas de matéria seca durante a fermentação. O uso desta tecnologia permite a extensão do período ótimo para colheita e certamente é de grande importância em anos em que as condições climáticas forem desfavoráveis. Ela pode ser vista simplesmente como uma ferramenta bastante útil, capaz de eliminar algumas das variações de produção entre os anos, associadas com a produção de silagem.

O efeito do processamento mecânico no tamanho teórico de corte da silagem é um fator que precisa ser considerado e compensado. Com este processamento adicional o tamanho das partículas é reduzido entre 15 e 30%. Isto não é problema nas dietas utilizadas na Europa e América do Norte, onde parte do volumoso se constitui de forragens longas (feno ou silagens pré-secadas de gramíneas ou alfafa). Nas nossas condições, com a silagem de milho freqüentemente constituindo o único volumoso da dieta, isto pode representar sérios problemas. Sendo assim, é aconselhável aumentar o tamanho das partículas da dieta pela inclusão de alimentos de maior tamanho. Falhas na correção desta deficiência em fibra efetiva pode induzir condições de alimentação indesejáveis. Por outro lado, associada a esta diminuição no tamanho das partículas, vários estudos relatam a redução na quantidade de grãos presentes nas fezes quando a silagem foi processada.

No que se refere às respostas dos animais ao processamento das silagens, os resultados de pesquisa são variáveis mas, de maneira geral, quando se trabalha com silagens cortadas em estágios mais maduros, as respostas em leite são da magnitude de 6 a 10%. Este nível de resposta pode parecer pequeno mas, quando consideramos que a silagem de milho normalmente representa pelo menos 40% da dieta total, esta magnitude de aumento na energia disponível da silagem é bastante significativa. Muitos estudos, no entanto, também apresentaram resultados negativos. Todavia, em muitos deles a silagem de milho foi utilizada como forragem única, e o tamanho de corte era muito pequeno, podendo ter ocorrido efeito associativo negativo da falta de fibra efetiva nas dietas.

Existem outras mudanças associadas à resposta animal pelo fornecimento de silagens de milho processadas. Em alguns estudos, o teor de proteína do leite aumentou de forma expressiva e o teor de nitrogênio uréico no leite diminuiu nos animais recebendo silagens (maduras) processadas em comparação ao controle. Isto sugere que a degradabilidade do amido, fibra e proteína foram mais complementares no rúmen, portanto menos amônia foi liberada na corrente sangüínea e paralelamente houve maior síntese de proteína microbiana.

O uso de equipamentos deste tipo pode permitir a seleção e uso de variedades ou híbridos de milho que mantenham a digestibilidade de sua porção forrageira por mais tempo, para que sejam colhidos em estágio mais avançado de maturidade, obtendo-se assim maior produção, e muitas vezes realizando a operação de colheita em época mais favorável, sem que se prejudique a fermentação da massa ensilada ou se perca o valor nutritivo da silagem. Reduções de problemas nestas áreas, por si só, podem compensar os custos extras associados à aquisição de tais equipamentos.

Comentário Milkpoint: Este tipo de equipamento não está disponível nas máquinas nacionais. Existem umas poucas máquinas (importadas) no Brasil com capacidade de realizar este processamento. Seria interessante, no entanto, que este tipo de equipamento fosse colocado à disposição do produtor nacional pois poderia contornar problemas freqüentes no momento da colheita, além de representar uma possibilidade de aumento do valor nutritivo do material.

Referências

JOHNSON, L et alii, 1999. Nutritive Value of Corn Silage as Affected by Maturity and Mechanical Processing: A Contemporary Review. J. D. Sci. 82 (12): 2813-2825.
CHANDLER, P., 2000. Establishing nutritive values for corn silage proves to be a challenge. Feedstuffs, April 10.