Por Clayton Quirino Mendes 1
A ovinocultura nacional está passando por importantes modificações. Recentemente, tem-se observado significativo aumento no interesse por sistemas destinados à produção de carne ovina e o deslocamento da atividade para regiões não tradicionais, com destaque para a região Sudeste, maior centro consumidor do país.
Tendo em vista a crescente demanda pela carne ovina observada nesta região, a qual tem o estado de São Paulo como maior mercado, e a necessidade de se atender às exigências dos consumidores com o fornecimento de carcaças de qualidade, tem se buscado alternativas visando garantir a redução na sazonalidade da oferta e o abate de animais jovens.
Considerando o elevado valor da terra em algumas regiões do país, principalmente na região Sudeste, e a escassez de mão-de-obra, a escolha do sistema de produção se torna um fator de extrema importância. Para ser bem sucedido o produtor deve adotar técnicas de criação que permitam explorar o potencial dos animais e maximizar a utilização dos recursos disponíveis na propriedade.
Neste sentido, a utilização de raças poliéstricas anuais como a Santa Inês, a adoção de práticas de criação como o desmama precoce e o confinamento, têm se mostrado eficientes. Entretanto, sistemas de produção de cordeiros para abate em que os animais são confinados nas fases de cria e terminação exigem um programa nutricional que seja capaz de atender às elevadas exigências apresentadas pelos animais desde à concepção até o momento do abate. De acordo com Susin (1996), o desempenho obtido pelas ovelhas e suas crias é o resultado do manejo nutricional, juntamente com a genética e a sanidade. Portanto, a adequação do manejo nutricional é o ponto de partida para o sucesso na ovinocultura.
Além de representar a maior parte do custo de produção, a alimentação está diretamente relacionada à eficiência do sistema como um todo. A nutrição é um dos principais fatores que influenciam o desempenho reprodutivo das ovelhas, desde o estabelecimento da puberdade até o número total de cordeiros produzidos durante a vida útil do animal (Rassu et al., 2002).
Outro fator de extrema importância na produção de ovinos é a sanidade do rebanho, sendo a verminose um dos principais problemas, a qual está intimamente relacionada ao status nutricional dos animais. De acordo com Coop e Sykes (2002), a presença de nematódeos gastrointestinais prejudica a produtividade animal por reduzir o consumo voluntário e/ou por afetar negativamente a eficiência de utilização do alimento, particularmente devido ao uso ineficiente dos nutrientes absorvidos.
Tendo em vista a importância da nutrição sobre os aspectos reprodutivos e sanitários dos animais; e, considerando que a nutrição afeta diretamente o número de cordeiros nascidos por matriz colocada em monta, o número de cordeiros desmamados por fêmea parida, o peso de nascimento, os pesos e idades de desmama e de abate; bem como, a quantidade de carne produzida por área (kg/ha), faz se necessária a conscientização de que o manejo nutricional pode ser o responsável pelo sucesso ou fracasso de qualquer sistema de produção de ovinos.
Uma vez que a nutrição constitui a base para o sucesso produtivo do sistema, deve-se adotar estratégias que visem aumentar a eficiência de utilização dos nutrientes, aliados à redução dos custos com alimentação. Dentro deste contexto, o uso de dietas de baixo custo levam à busca por ingredientes mais baratos, os quais devem ser considerados não somente quanto à sua viabilidade econômica, mas também quanto ao desempenho animal.
Atualmente, a disponibilidade de subprodutos da indústria como a casca de soja, a polpa cítrica e o bagaço de cana-de-açúcar permitem a formulação de rações com custos mais reduzidos.
Outra alternativa bastante interessante para minimizar o custo protéico das rações é a uréia, a qual deve ser utilizada com bastante critério devido ao elevado risco de intoxicação dos animais, quando ingerida em grandes quantidades. Entretanto, os alimentos concentrados e volumosos devem ser utilizados em proporções e quantidades que atendam às exigências do animal e que possibilitem uma relação benefíco:custo positiva dentro do sistema produtivo.
Com relação à eficiência de utilização dos nutrientes, primeiramente é necessário que estes sejam ingeridos em quantidade e qualidade pelo animal. Considerando que 65-75% da variação da ingestão de energia estão relacionados ao consumo de matéria seca (Buxton et al., 1996), medidas devem ser adotadas na propriedade para que o consumo voluntário seja maximizado.
Diversos fatores influenciam a ingestão do alimento pelo animal. Por exemplo, alimentos ricos em fibras ou água podem restringir o consumo, particularmente em ovelhas durante o final da gestação, cordeiros desmamados precocemente e cordeiros em terminação alimentados para máximo ganho de peso (NRC, 1985).
Outro fator que não pode ser negligenciado no manejo nutricional de ovinos, e que afeta o consumo, é a mineralização do rebanho. A nutrição mineral deve ser realizada levando-se em consideração as exigências e os teores de toxidez de cada elemento, os quais muitas vezes, são bastante próximos, como é o caso do cobre.
Portanto, para evitar deficiências ou desperdícios, a alimentação do rebanho deve ser baseada no fornecimento de rações que respeitem às exigências nutricionais do animal, em função da fase do ciclo produtivo em que este se encontra. Os animais devem ser divididos em lotes homogêneos e alimentados conforme as exigências específicas de cada categoria.
Futuramente serão abordados os aspectos fundamentais relacionados ao manejo nutricional de cada categoria definida dentro do sistema de produção.
Considerações finais
O grande desafio imposto ao ovinocultor está na capacidade de gerenciamento dos recursos disponíveis na propriedade, aliada ao uso de técnicas adequadas no manejo nutricional do rebanho, com formulação de rações que atendam as necessidades específicas de cada categoria animal, com utilização de ingredientes que reduzam o custo com alimentação, sem afetar o desempenho animal e a eficiência produtiva do sistema.
Literatura consultada
BUXTON, D.R., MERTENS, D.R.; FISHER, D.S. Forage quality and ruminant utilization. In: MOSER, L. E., BUXTON, D. R. and CASLER, M. D. Cool-Season Forage Grasses, American Society of Agronomy, Madison, WI. 1996. p.229-266.
COOP, R.L.; SYKES, A.R. Interactions between gastrointestinal parasites and nutrients. In: FREER, M. and DOVE, H. Sheep nutrition, Oxon, CAB International, 2002, p.313-331.
NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Nutrient requirements of sheep. 6th ed. Washington: National Academic Press, 1985. 99 p.
RASSU, S.P.G.; ENNE, G.; LIGIOS, S.; MOLLE, G. Nutrition and Reproduction. In: PULINA, G. Dairy sheep feeding and nutrition, 2nd ed., Bologna, Avenue media, 2002, p.167-197.
SUSIN, I. Exigências nutricionais de ovinos e estratégias de alimentação. In: SILVA SOBRINHO, A.G. Nutrição de Ovinos, Jaboticabal, Funep, 1996, p.119-141.
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1 Clayton Quirino Mendes é Engenheiro Agrônomo formado pela ESALQ/USP e mestrando em Ciência Animal e Pastagens, também pela ESALQ.