Deve-se considerar que os cordeiros apresentam imensa capacidade de crescimento nas primeiras semanas de vida, e esse potencial que não pode ser desprezado. As recomendações de desmama precoce objetivam a mais rápida entrada do cordeiro ao sistema de alimentação intensiva, mas impõem ao sistema de produção uma fase de recria, normalmente feita a pasto. Infere-se, portanto, que as técnicas de produção vigentes dirigem os recursos para a terminação do cordeiro, mas preterem o cordeiro enquanto lactente. Tal prática pode ser um contra-senso e se constituir em uma forma de subtilização do potencial de crescimento dos cordeiros novos.
A deposição de gordura em cordeiros implica em exigências energéticas aproximadamente três vezes maiores do que a necessária para o seu crescimento muscular (NRC, 1985). Vários trabalhos têm correlacionado o confinamento à gordura excessiva nas carcaças, o que, além de um fator de demérito ao gosto do consumidor, pode ser uma forma errônea de manipulação do crescimento.
O estudo do crescimento envolve um entendimento da magnitude e sequência de deposição de tecidos em diferentes estádios de desenvolvimento (ROUSE et al., 1970). A energia insuficientemente ingerida por cordeiros lactentes é a maior causa de repressão no seu crescimento (WAGHORN et al., 1990). No entanto, pode-se inferir que, com pouca idade, dificilmente os cordeiros utilizariam a energia ingerida para produção de gordura.
A alternativa de fornecimento de concentrados a cordeiros, a partir de 15 dias de vida, pode complementar o fornecimento energético e protéico do leite materno que tende a diminuir com o avanço da lactação. A adoção de creep-feeding pode cumprir esse objetivo, sem onerar o custo de manutenção das ovelhas. A utilização de rações palatáveis no creep-feeding pode inclusive diminuir a intensidade de mamada dos cordeiros e, com isso, minimizar a demanda energética da lactação. Poupança energética nas ovelhas durante essa fase pode ser direcionada para novo ciclo reprodutivo do rebanho.
Essa proposta combina perfeitamente com as conclusões, de que um sistema racional de produção de carne deve envolver, não só o potencial de crescimento dos cordeiros, mas também a capacidade reprodutiva dos rebanhos que os originam (POLLOT, KILKENNY, 1994). Conclui-se, portanto, que o maior aproveitamento da capacidade reprodutiva das ovelhas e da capacidade de crescimento de cordeiros lactentes, pode constituir uma combinação capaz de racionalizar um sistema produtivo como um todo.
Referências bibliográficas
NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. Nutrient requirements of sheep. 6.ed. Washington, D.C.: National Academy Press, 1985. 99p.
POLLOT, G.E.; KILKENNY, J.B. Carne. In: Nuevas tecnicas de producción ovina, 1994. p.13-28.
ROUSE G.H.; TOPEL D.G.; VETTER R.L. et al. Carcass Composition of lambs at different stages of development. Journal Agriculture Science, p.846-55, 1970.
WAGHORN, G.C.; SMITH, J.F.; ULYATT, M.J. Effect of protein and energy intake on digestion and nitrogen metabolism in wethers and on ovulation in ewes. Animal Production, v.51, p.291-300, 1990.