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Hidratação: uma arma essencial contra a diarréia

POR RENATA DE OLIVEIRA SOUZA DIAS

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 18/04/2006

6 MIN DE LEITURA

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Os bezerros são os animais mais vulneráveis de um rebanho leiteiro. A diarréia é, sem dúvida, um dos maiores problemas da criação de animais jovens. Mais de 60% das perdas de bezerros, com menos de dois meses de idade, estão diretamente associadas à diarréia, segundo recente levantamento do NAHMS (Sistema Nacional de Monitoramento da Saúde Animal) nos USA.

A diarréia ocasiona severos feitos no metabolismo dos animais acometidos, dentre eles: desidratação, queda no pH sanguíneo e perda de energia. As soluções orais de hidratação são recomendadas para todos os bezerros que apresentam diarréia e possuem, ao menos, funcionamento parcial do trato gastrointestinal.

Deve-se lembrar que, quando uma solução oral é administrada em um bezerro que não apresenta motilidade intestinal, a solução ficará deposita no estômago, causando abarrotamento e acidose rumenal.

Uma boa solução oral de hidratação deve ter as seguintes características:

- suplementar corretamente a perda de sódio para corrigir a desidratação,
- possuir substâncias (tais como a glicose, acetato e propionato) que irão facilitar a absorção de sódio e água pelo intestino,
- possuir substâncias alcalinas (tais como o acetato, propionato ou o bicarbonato) que irão corrigir a acidose,
- oferecer uma fonte de energia.

A perda de sódio nas fezes de um animal com diarréia é a causa basal da desidratação. Por isso, para melhorar a hidratação e manter um adequado fluxo sangüíneo, é muito importante a reposição de sódio em um animal com diarréia.

A concentração ideal de sódio em soluções orais de hidratação é de 90 à 130 micromoles/litro de solução (mM/l). Soluções com menos de 90 mM/l não reanimam adequadamente bezerros desidratados. Por outro lado, soluções com mais de 150 mM/l podem induzir uma intoxicação por sódio chamada de "hiperatremia".

No entanto, não basta simplesmente administrar o sódio, o organismo precisa ter condições para absorvê-lo. Os principais caminhos para a absorção do sódio são através da glicose, ácidos graxos voláteis e aminoácidos. A Glicina é um dos aminoácidos mais comumente utilizados em soluções orais para a hidratação.

Geralmente, as soluções eletrolíticas possuem uma osmolaridade que varia de 300 mOsm/l à 750 mOsm/l. A osmolaridade corresponde à concentração de partículas de uma solução.

As soluções com 300 mOsm/l são chamadas de soluções isotônicas, pois possuem osmolaridade semelhante à do sangue. As soluções com 750 mOsm/l são chamadas hipertônicas, ou seja, são soluções mais concentradas (geralmente com maior quantidade de glicose e eletrólitos).

Contudo, soluções com mais de 600 mOSm/l devem ser evitadas. Uma solução com alta osmolaridade irá ocasionar uma maior perda de água para o organismo, já que é necessário o desvio de água para dentro do lúmen intestinal para reduzir a concentração no local. Com isso, parte da água é excretada pelo intestino, juntamente com as fezes, ou invés de ser absorvida para reduzir a desidratação.

Durante algum tempo, acreditou-se que animais acometidos com diarréia não deveriam ingerir leite. Todavia, é importante ressaltar que o leite contém muito mais energia do que qualquer tipo de solução eletrolítica. Bezerros necessitam de muita energia para o crescimento, principalmente quando estão enfermos e consomem ainda mais energia com o sistema imunológico.

Uma outra "crença" a respeito do manejo de animais acometidos com diarréia é em relação ao oferecimento de água. Do nascimento até os dois meses de idade, um bezerro possui 70 a 85% de água no organismo. Com base neste dado, é fácil entender o quanto a ingestão de água é importante para a vida de um bezerro.

Nos casos de diarréia e desidratação a perda de água é muito rápida, podendo ser fatal para um bezerro. O aumento da ingestão de água no início de um quadro de desidratação é uma resposta fisiológica do animal. Por isso, no passado, acreditou-se que o aumento do consumo de água poderia desenvolver um quadro de diarréia, mas o aumento da ingestão de água é apenas um mecanismo de compensação da desidratação.

É importante fornecer água em abundância, principalmente no verão. Bezerros não gostam de beber água suja com restos da ração e, tão pouco, de ingerir a ração úmida ou fermentada. Vale a pena procurar alternativas simples para melhorar a separação entre o cocho de água e de alimento. O manejo do oferecimento de água, a principio, parece ser um detalhe, um item sem importância, mas o oferecimento de água é um ponto muito importante e que resulta em benefícios significativos para os animais.

Um bezerro acometido com diarréia apresenta acidose, que por sua vez, causa uma série de sintomas comumente observados em animais com diarréia, tais como depressão, perda do reflexo de sucção, desequilíbrio, etc.

Devido à ocorrência da acidose, alguns componentes alcalinos (acetato, propionato, bicarbonato) são geralmente adicionados às soluções de hidratação. O bicarbonato é a opção mais utilizada, pela sua praticidade e custo. Todavia, existem estudos que apontam algumas vantagens sobre o uso do acetato e propionato:

- o acetato e propionato são ácidos graxos voláteis, e como tal, auxiliam na absorção de sódio (como já foi citado anteriormente, a reposição de sódio em um animal com diarréia é muito importante);
- o acetato e propionato não aumentam o pH abomasal;
- o acetato e propionato inibem o crescimento da Salmonella;
- o acetato e propionato são fonte de energia para o metabolismo.

Usualmente, o pH abomasal é ácido, e isso é um fator crucial para reduzir o crescimento das bactérias patogênicas. Por exemplo, a E. Coli e a Salmonela não sobrevivem em pH próximo de 3, mas apresentam crescimento no pH acima de 5,5. Por isso, durante o tratamento da diarréia seria aconselhável manter o pH ácido do abomaso, evitando assim, que bactérias patogênicas alcancem o intestino e desenvolvam uma nova infecção.

Porém, quando não for possível utilizar uma solução com acetato e propionato, soluções com o bicarbonato devem ser utilizadas. Visto que, uma das primordiais necessidades do tratamento da diarréia é controlar a acidose e seus efeitos colaterais.

Nestes casos, administre a solução com bicarbonato, 4 horas após a última ingestão de leite, já que o bicarbonato pode interferir na formação de caseína no abomaso.

Administre a solução oral de hidratação logo quando os primeiros sintomas de depressão forem notados. Durante os casos de diarréia, as soluções orais podem ser administradas, para os bezerros ainda em aleitamento, no intervalo entre a ingestão do leite.

Por exemplo, se o leite é oferecido duas vezes ao dia, administre a solução oral de hidratação no meio do dia. Entretanto, nos casos mais graves, em que o bezerro permanece deitado, ou não levanta a cabeça, a melhor opção é a fluido-terapia endovenosa. A hidratação oral não é capaz de salvar bezerros em estados muito avançados da doença e uma terapia para quadros de urgência deve ser iniciada.

Muito além dos detalhes técnicos, a visão macro que este artigo busca transmitir é a importância da água para a vida e para salvar a vida dos bezerros. Uma analogia que se pode fazer com bezerros até dois meses de idade é que "Bezerro é Água".

Comente isso com o funcionário que realiza o manejo dos bezerros, comente sobre a importância do fornecimento de água no dia-a-dia e sobre os bons resultados da administração da solução oral logo nos primeiros sintomas da diarréia.

Fonte:

Garthwaite, B.D.; Drackley, J.K.; McCoy, G.C.; Jaster, E.H. Whole milk and oral rehydration solution for calves with diarrhea of spontaneous origin. Journal Dairy Science., v.77, p.835-843, 1994.

Kertz, A.F. Even during winter, calves really need water. Hoard's Dairyman. Janeiro/10, p.18, 2006.

Phillips, R.W. Fluid therapy for diarrheic calves - What, How and How Much. Vet. Clin. of North Am.: Food An. Prac., v.1, n.3., 1985

Smith, G. What to do for that scouring calf. Hoard's Dairyman. Janeiro/25, p.50, 2006.

RENATA DE OLIVEIRA SOUZA DIAS

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BRUNA FAVARETTO

CONSTANTINA - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 09/04/2016

Olá, Doutora. O uso de fluidoterapia venosa em terneiras é recomendado? Obrigada
CRISTHIAN JULIANO OLIVEIRA DE SOUZA

SÃO FELIX DO XINGÚ - PARÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 17/05/2014

Muito interessante a abordagem deste assunto. Geralmente o que se fazem nas propriedades é só  a antibioticoterapia, e se esquecem da hidratação desses animais que estão com diarréia. Qual a quantidade máxima diária de solução a ser admnistrada via oral para esses bezerros?
DÉCIO JACINTO DE AGUIAR

CARMO DO PARANAÍBA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 27/10/2011

Doutora Renata,


Gostei muito do artigo.


Gostaria de saber a osmolaridade da seguinte fórmula de soro oral para saber se é adequado para bezerros.


Água: 1L


NaCl: 5g


KCL: 1g


Bicarbonato de sódio: 4g


Glicose: 20g





Att.:


Décio J. Aguiar
MAURICIO CESAR ANDREOLI

FRANCISCO MORATO - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 17/10/2006

Prezada Dra. Renata,

Aproveitando seu artigo, gostaria de informá-la que o uso de solução acidificada com ácidos fórmico e acético, intercalada com a hidratação oral, mostrou-se eficaz em controlar o crescimento bacteriano no trato gastrointestinal, possibilitando uma rápida recuperação dos animais.

Utilizamos essa técnica de forma preventiva para aves e suínos e percebemos uma aplicabilidade também como coadjuvante terapêutico em bezerros.

Acreditamos que o uso dessa solução para tratamento da água de bebida para bezerros até 10 meses será de grande valor para reduzir perdas relacionadas a infecções bacterianas do TGI.

Att,

Mauricio Andreoli
TIAGO MANTOVANI

SANTO ANTÔNIO DA PLATINA - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 23/04/2006

Doutora Renata,



Gostaria de saber uma fórmula ideal para realizar a hidroterapia oral.



Desde já agradeço.



<b>Resposta da autora:</b>



Prezado Tiago,



Não há uma fórmula ideal, sempre é necessário considerar a idade do animal, o estado clínico, e principalmente, se é um quadro de acidose ou não. Estou enviando abaixo algumas sugestões, mas não são fórmulas idéias, seu uso varia com a necessidade de cada caso!



- Mistura de eletrólitos para administração oral para bezerros desidratados e com acidose (pode ser preparada na fazenda)



<center><img src=https://www.milkpoint.com.br/mn/cartasleitor/fotos/cl_050506_1.gif></center>

- Mistura de eletrólitos para administração oral para bezerros desidratados e sem acidose (pode ser preparada na fazenda)



<center><img src=https://www.milkpoint.com.br/mn/cartasleitor/fotos/cl_050506_2.gif></center>

Retirei uma parte de um artigo que escrevi há algum tempo para o site, acho que ele descreve os pontos básicos da hidratação:



"Determinar o grau de desidratação do animal é muito importante para se definir o esquema para a recuperação dos fluidos corporais. Todavia, deve-se destacar que o ideal é que a fluidoterapia em bovinos seja iniciada antes do aparecimento dos sintomas de desidratação, desta forma, é possível recuperar o animal com maior eficiência, bem como, reduzir os custos com o tratamento.



Quando a intenção é determinar o grau de desidratação deve-se voltar a atenção para alguns parâmetros clínicos que auxiliam a estimativa da gravidade do quadro. A endoftalmia, ou retração do globo ocular é um sinal muito fácil de ser avaliado e muito importante. A avaliação da elasticidade da pele é um outro sinal fácil e prático para ser avaliado.



Considera-se como leve a desidratação na qual é observada a diminuição da elasticidade da pele. Pode-se definir como padrão para a desidratação leve quando a prega formada na pele volta ao normal após 5 a 8 segundos. Além disso, há leve endoftalmia e as mucosas estão ainda úmidas. A estimativa da quantidade de fluido necessário para reposição de líquidos em um bovino com estas características é de 5 à 7 % do peso vivo do animal.



Considera-se como grave a desidratação na qual é observada a significativa redução da elasticidade da pele. Pode-se definir como padrão para a desidratação grave quando a prega formada na pele volta ao normal após 10 a 15 segundos. Além disso, há evidente endoftalmia e mucosas secas. A estimativa da quantidade de fluido necessário para reposição de líquidos em um bovino com estas características é de 8 à 10 % do peso vivo do animal.



Considera-se como muito grave a desidratação na qual é observada a perda da elasticidade da pele. Pode-se definir como padrão para a desidratação muito grave quando a prega formada na pele volta ao normal após 20 a 30 segundos. Além disso, há evidente endoftalmia, mucosas muito secas, reflexos diminuídos, extremidades frias e prostação. A estimativa da quantidade de fluido necessário para reposição de líquidos em um bovino com estas características é de 11 à 12 % do peso vivo do animal.



Uma vez determinado o grau de desidratação do animal devem-se iniciar os cálculos para a definição da quantidade de fluido a ser administrada. Com o grau de desidratação é definido o valor necessário para a reposição dos fluidos. Entretanto, devem-se ainda considerar os valores associados com a manutenção da hidratação e o volume associado às perdas contínuas do organismo.



Tais fatores irão variar com a faixa etária e o estágio produtivo do animal em questão. Para os bezerros o volume para manutenção varia de 50 a 100 ml de água por Kg de peso corpóreo ao dia. Já as vacas secas requerem cerca de 50 ml de água por Kg de peso corpóreo ao dia (24 horas). As vacas em lactação requerem 80 ml de água por Kg de peso vivo ao dia, ou pode-se também considerar o volume de leite produzido e adicionar 87% deste total.



Para escolher a via de administração deve-se avaliar principalmente o estado clínico do animal e a capacidade dos funcionários locais para a realização do procedimento. A via oral é mais fácil de ser realizada, tem baixo custo, possibilita a administração de grandes volumes e não exige a esterilização dos fluidos constituintes. A via endovenosa é a mais eficiente em casos onde a debilidade do animal já está avançada, são necessários fluidos estéreis e uma pessoa habilitada para a realização e acompanhamento do procedimento.



Os tipos de fluidos podem ser classificados em soluções alcalinas e não alcalinas. Nos casos de diarréia os animais geralmente apresentam acidose e devem receber durante a hidratação soluções alcalinas. Em bovinos adultos os casos de alcalose são mais comuns que os casos de acidose, os casos de alcalose estão associados a erros na utilização da uréia na dieta, deslocamento e torção de abomaso, distúrbios gastrointestinais em geral, mastites e metrites. Casos de acidose metabólica e insuficiência cardíaca congestiva são exemplos de bovinos adultos com acidose e devem receber soluções alcalinas."



Com atenção,



Renata Souza Dias
RUY CESAR PADULA

ARAÇATUBA - SÃO PAULO

EM 21/04/2006

Parabéns Doutora Renata,



Este assunto é de grande importância. Os produtores tem que entender a necessidade do desenvolvimento das futuras produtoras de leite, pois sabemos que a diarréia pode atrapalhar o desempenho das bezerras.



Eu, em nome dos produtores de leite da região de Araçatuba/SP, ficamos agradecidos de receber esta matéria que é importante para a pecuária brasileira.



Ruy Padula

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