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Habilidade de Permanência, Tipo Funcional e Produção em Vacas Leiteiras

POR GERSON BARRETO MOURÃO

E ALINE ZAMPAR

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 28/04/2009

5 MIN DE LEITURA

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O melhoramento genético tem sido uma excelente ferramenta para o aumento da produtividade em muitos sistemas de produção, embora, em certas ocasiões, o mau uso dessa ferramenta tenha acarretado efeitos desfavoráveis em certas características funcionais, o que, por sua vez, pode ter diminuído a rentabilidade do negócio da produção de leite.

Como exemplo negativo, temos a seleção para maior produção leiteira que parece reduzir as capacidades de adaptação, de reprodução e aumentar a susceptibilidade ao estresse, elevando a taxa de descarte involuntário (devido a outros problemas, diferentes da baixa produção leiteira) e reduzindo efetivamente a longevidade das vacas leiteiras.

Adicionalmente, sabe-se que o sucesso econômico de um sistema de produção leiteira está diretamente ligado ao nível produtivo e à eficiência econômica, mas também à habilidade de permanência (HP) e longevidade de suas matrizes. Pra se ter uma ideia da importância econômica do problema, as principais causas de descarte relatadas pelos produtores de leite norte-americanos (USDA, 2007) são causas involuntárias: problemas de úbere e mastite (23%), laminites e injúrias (16%), problemas reprodutivos (26,3%). O descarte voluntário para baixa produção foi de 16,1%.

Ressalta-se, no entanto, que o descarte voluntário ótimo para o Brasil é da ordem de 4% a 10% ao ano (Cardoso et al. 1999).

A longevidade pode ser definida de diversas formas: idade ou número de dias entre o nascimento e o descarte da matriz; número de meses que a vaca permaneceu no rebanho entre o primeiro parto e o último controle leiteiro; número de meses produzindo (em lactação) até uma idade fixa (ex.: 84 meses). Neste último caso, normalmente a variável é conhecida por habilidade de permanência, com duas respostas possíveis: o sucesso, atribuído às vacas que alcançarem a idade padrão (vivas e produzindo), e o fracasso, àquelas que não a atingir. Existem ainda propostas que para a avaliação da longevidade, o ideal seria o uso da característica vida produtiva funcional, que é uma variável corrigida para efeito de descarte por baixo nível de produção de leite na primeira lactação.

A seleção para longevidade é relativamente polêmica e por vezes inconclusiva, pois existem relatos favoráveis e desfavoráveis quanto ao possível sucesso num programa de melhoramento genético. No entanto, é consenso que o aumento da vida útil de uma matriz, ou seja, aumento da longevidade é capaz de reduzir os custos com reposição e elevar a proporção de lactações com alta produção, pois haverá maior fração de vacas produzindo em estádio adulto, que são potencialmente melhores produtoras que as vacas jovens.

Contudo, a seleção direta para as características de longevidade, de baixa herdabilidade, resulta em considerável aumento do intervalo de gerações e reduzidos valores de ganho genético anual. No entanto, a capacidade seletiva nos rebanhos leiteiros nacionais tem sido efetivamente pequena, pois a taxa de descarte voluntário parece ser negligenciada em favor de outras causas eminentemente mais importantes, como a falha reprodutiva e a susceptibilidade à mastite.

Com raciocínio paralelo, a habilidade de permanência no rebanho vem sendo estudada com o objetivo de se estimar o desempenho produtivo e reprodutivo do animal e com isso apoiar e tornar economicamente eficiente o retorno monetário da atividade.

Numa revisão para as condições e rebanhos norte americanos (Van Raden e Wiggans, 1995), os valores econômicos percentuais de produção: longevidade variaram 45:55 à 90:10, com média de 75:25. No entanto, os mesmos autores indicam que esses pesos devam ser de 70:30.

Embora não substituam as mensurações de desempenho produtivo, as medidas lineares podem ter utilidade como auxiliares no processo de escolha das fêmeas que formarão a futura base genética em sistemas produtivos leiteiros. A utilização dessas medidas em critérios de seleção pode levar a um aumento da produção leiteira e a uma diminuição da taxa de descarte involuntário. Neste sentido, existem evidências experimentais de que algumas características morfológicas estejam genética e positivamente correlacionadas à funcionalidade, longevidade e produtividade nos rebanhos leiteiros.

Apesar de não ser consensual, tal alternativa é o uso de seleção indireta para características de moderada e alta herdabilidades, que sejam facilmente mensuráveis durante a primeira lactação e que possuam correlações genéticas favoráveis com a longevidade das matrizes. Algumas características de conformação, denominadas de tipo funcional atendem a estes requisitos.

Assim, a despeito de simplesmente produzir vacas mais belas, as principais justificativas para a seleção de vacas leiteiras com base em seus valores genéticos para conformação e tipo funcional estão associadas às correlações genéticas dessas características com a longevidade e a produtividade das mesmas.

Tradicionalmente, a produção de leite e as características reprodutivas têm sido estudadas separadamente. Porém a importância e o grau de associação entre elas, como indicadoras de eficiência do processo produtivo, resultaram no aparecimento de um maior número de estudos sobre o assunto.

Os programas de melhoramento, realizados nos últimos 50 anos, apresentam fortes indícios de que populações que alcançaram um substancial aumento na produção de leite, geralmente apresentam uma diminuição na vida produtiva e na longevidade média de suas matrizes. No entanto, tal antagonismo pode não ser apenas genético (Essl, 1998; Madalena, 2008).

Na literatura encontram-se relatos de correlações genéticas positivas e favoráveis (entre 0,20 e 0,45) entre as principais características de pés e pernas com a longevidade. Existem informações de que as correlações de tipo funcional e de longevidade podem variar significativamente quanto aos sistemas de manejo. Tal observação é fundamental aos sistemas produtivos nacionais, os quais apresentam grande diversidade na forma de manejo das vacas leiteiras. Para as relações entre as características lineares de tipo e a longevidade verificaram-se que as maiores correlações genéticas, de magnitudes medianas a altas, foram apresentadas com as características de sistema mamário e angulosidade (Weigel et al, 1998). A seleção genética indireta, principalmente para bons sistemas mamários e conjunto de pés e pernas, pode promover um prolongamento da longevidade das vacas em rebanhos leiteiros.

Assim, quando se definir os objetivos de um programa de melhoramento, estes devem ser mais abrangentes para características não produtivas, pois a maioria dos programas apresenta deterioração contínua dos atributos reprodutivos e funcionais, embora a uma velocidade temporal pouco conhecida.

Referências:

Cardoso, V. L., Nogueira, J. R., Van Arendonk, J.A.M. (1999) J. Dairy Sci., 82: 1449-1458.
Essl, A. (1998) Livest. Prod. Sci, 57: 79-89.
Madalena, F.E. (2008) https://www.milkpoint.com.br/?noticiaID=42598&actA=7&areaID=61&secaoID=171.
USDA (2007) https://nahms.aphis.usda.gov/dairy/index.htm
Vanraden, P. M., Wiggans, G. R. (1998) J. Dairy Sci., 78: 631-638.
Weigel, K. A.; Tawlor Jr., T. J.; Vanraden, M. P.; Wiggans, G. R. (1998) J. Dairy Sci., 81: 2040-2044.

GERSON BARRETO MOURÃO

Professor de Genética e Melhoramento Animal na ESALQ/USP. Publicou mais 80 artigos científicos. É editor associado da Scientia Agricola, da revista Visão Agrícola e bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq

ALINE ZAMPAR

Zootecnista, Mestre em Zootecnia (FZEA/USP) e Doutora em Ciência Animal e Pastagens (ESALQ/USP), na área de Melhoramento Genético de Bovinos de Leite.
Atualmente, professora adjunta da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), em Chapecó (SC)

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GERSON BARRETO MOURÃO

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 14/10/2010

Prezado Lucas Eduardo Tomasi,

Agradeço pelos elogios.
Realmente, existe relação entre algumas características do perfil de classificação linear, como aqueles associados ao conjunto de pés e pernas, além de alguns relacionados ao sistema mamário, que estão geneticamente relacionadoas a maiores longevidades.
Atenciosamente,

Prof. Gerson
LUCAS EDUARDO TOMASI

VILA MARIA - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 10/06/2010

Prezado Doutor Gerson, gostaria de parabenizar pelo artigo citado, só queria salientar que estudos canadenses já comprovam que quanto maior a pontuação de classificação linear, maior será sua produção leiteira, comparado com a média do rebanho e maior será sua permanência na propriedade, estituindo uma maior longevidade.
Forte abraço!

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