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Erros na formulação de dietas: não analisar o teor de MS dos volumosos e errar o consumo

POR RODRIGO DE ALMEIDA

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 25/06/2021

12 MIN DE LEITURA

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Hoje discutiremos um sétimo erro frequente na formulação de dietas de vacas leiteiras. Nos artigos anteriores desta série, destacamos que na formulação de dietas temos que descrever, com a maior exatidão possível, a vaca que representa a média dos animais do lote para o qual estamos formulando a dieta.

Neste artigo vamos avançar na formulação da dieta, assumindo que o lote de animais foi bem caracterizado e descrito pelo nutricionista.

Na prática, existem quatro dietas para cada lote de vacas em uma propriedade.

  • A primeira dieta é a que foi formulada pelo nutricionista; 
  • A segunda dieta é a que foi colocada no misturador;
  • A terceira dieta é a que foi oferecida aos animais; 
  • A quarta dieta é a que corresponde à dieta que de fato os animais comeram.

Muitos técnicos e produtores assumem que estas quatro dietas não variam entre si e são sempre idênticas. Infelizmente, isto não corresponde a realidade.

Todos nós presenciamos situações em que um grupo de vacas tem sua produção de leite alterada em vários litros por dia, sem que a dieta formulada tenha sido mudada (a propósito, nós reparamos mais frequentemente as quedas do que os aumentos na produção).

Pior, vacas sofrem acidose subclínica, param de comer ou têm uma queda expressiva no teor de gordura do leite, sem que a formulação da dieta tenha sido alterada. Muito provavelmente, estas quedas no desempenho e na saúde ocorrem devido a mudanças na dieta que de fato está sendo oferecida às vacas. Entre as várias razões que podem levar a isso, uma das mais frequentes (e mais ignoradas) é a simples alteração do teor de matéria seca (MS) dos alimentos.

 

Importância 

Nós formulamos dietas na base de MS porque vacas exigem quantidades específicas de nutrientes secos todos os dias para atender suas exigências de manutenção, crescimento, gestação e produção de leite. Entretanto, mesmo alimentos aparentemente secos não são absolutamente secos.

Além disso, alimentos úmidos e/ou fermentados (pastagens, silagens e alguns resíduos) podem conter uma grande proporção de água que dilui os nutrientes secos no alimento. Por exemplo, quando recomendamos 12 kg/vaca/dia de resíduo de cevada (ou cervejaria), com teor de MS de 20%, nós estamos na realidade ofertando somente 2,4 kg de nutrientes secos, já que os restantes 9,6 kg são representados por água.

Embora as exigências e as formulações sejam estimadas na base de MS, as recomendações de dietas para tratadores e produtores devem ser dadas na base de matéria natural, com a água incluída. Tudo isto é muito simples, exceto que o teor de MS dos alimentos não permanece constante de um dia para outro.

Aqui tomamos a liberdade de lançar algumas perguntas:

  • Qual foi a última vez que você analisou o teor de MS dos alimentos (pelo menos daqueles com maior teor de umidade) da sua propriedade (ou da propriedade que você dá assistência)?
     
  • Quantos de nós enviaram uma amostra ao laboratório de um ponto do silo e usaram o teor de MS analisada por semanas ou meses, mesmo sabendo que nós estávamos fornecendo silagem de outro ponto completamente diferente?

Mas será que há algum problema que a dieta repassada para o tratador ou para o produtor não seja ajustada por mudanças na matéria seca? Sim, pode haver problemas, particularmente se o rebanho for de alta produção ou se a dieta formulada estiver próxima dos limites mínimos de fibra.

Tipicamente, mudanças em MS dentro do silo são muito frequentes porque os processos de enchimento e esvaziamento do silo misturam silagens de diferentes áreas, cortes e estágios vegetativos. Devido a isso, observamos mudanças graduais na produtividade e sanidade do rebanho que geram aqueles telefonemas que a maioria dos nutricionistas detesta receber: “Minhas vacas caíram no leite nos últimos 5 dias, alguma coisa deve estar errada com a dieta”.

Além de ser difícil recolocar as vacas no patamar anterior de produção após um problema nutricional como este, também é frustrante descobrir que a formulação da dieta não era o problema e sim algo simples como o teor de matéria seca de um ou mais ingredientes da dieta.

Problemas causados por mudanças graduais na MS poderiam ser facilmente evitados pela determinação rotineira do teor de MS dos alimentos volumosos, uma ou duas vezes por semana, e pelo ajuste da dieta que vai para o misturador.

Embora as mudanças no teor de MS das forragens sejam graduais, dias chuvosos podem resultar em mudanças abruptas no teor de MS das forragens (de 5 a 15%MS), particularmente em silos horizontais e quando há silagem solta no piso do silo.

Estas mudanças no teor de MS podem causar ocorrências de acidose subclínica (SARA) quando dietas de alta energia, que estão próximas ao limite mínimo de fibra, estão sendo fornecidas, já que neste caso uma menor quantidade de MS oriunda de forragem está sendo de fato ofertada.

Devemos lembrar que vacas leiteiras até toleram bem dietas de alta energia que provocam quedas moderadas no pH ruminal, desde que o consumo e as concentrações mínimas de fibra sejam consistentes.

Entretanto, qualquer evento que derrube abruptamente o consumo, quando dietas de baixa fibra estão sendo ofertadas, resulta em distúrbios do rúmen que estressarão as vacas e comprometerão suas produções. O ajuste para estas mudanças agudas no teor de MS da silagem exige um método rápido que determine o %MS dos alimentos (pelo menos dos mais aquosos), imediatamente antes do trato.

 

Como mensurar a MS dos alimentos

Após a discussão acima, parece evidente que nós deveríamos mensurar rotineiramente a MS dos alimentos e usar esta informação para garantir que nossas vacas recebam as mesmas quantidades e proporções de nutrientes nas suas dietas todos os dias.

Parece fácil; basta secar os ingredientes em uma estufa, determinar o teor de MS de cada alimento e reformular a dieta para ajustar pelos novos valores de MS. Entretanto, mensurar umidade não é tão simples quanto parece.

Parte da água dos alimentos está na superfície das partículas e evapora-se facilmente. Outra parte da água dos alimentos está no interior das partículas e deve migrar para a superfície para poder ser evaporada. E finalmente uma terceira porção da umidade dos alimentos está fortemente ligada às moléculas deste alimento e não é evaporada facilmente. Por isso, leva tempo para que toda a umidade migre para a superfície e evapore dos alimentos.

Nós podemos acelerar o processo aumentando a temperatura e o fluxo de ar quente da estufa, mas isto aumenta o risco de que outros componentes dos alimentos (não aquosos) sejam perdidos, por causa das temperaturas demasiadamente elevadas.

Mensurar MS usando uma estufa é complicado porque outros processos estão ocorrendo, além da evaporação da água. Em alimentos fermentados, tais como silagens ou resíduos de cervejaria, existem quantidades significativas de ácidos graxos de cadeia curta que são voláteis.

Tanto isto é verdade, que nós normalmente descrevemos o acetato, o propionato e o butirato como ácidos graxos voláteis (AGV). Além destes, existem outros componentes dos alimentos tais como álcoois e produtos de degradação proteica que são voláteis. Quando nós queimamos ou escurecemos uma amostra durante a secagem, nós provavelmente perdemos material não aquoso e nossos resultados perdem confiabilidade.

Entre os vários métodos disponíveis para determinar a MS dos alimentos, cada um tem suas limitações. Em condições práticas, há quatro métodos possíveis para determinar o teor de MS: estufas, microondas, Koster e desidratadores.

A determinação de MS pela secagem da amostra em uma estufa de ventilação de ar forçado é um processo simples e rotineiramente adotado pelos laboratórios que executam análises bromatológicas. Este método também gera uma amostra que pode ser moída e usada para as outras análises laboratoriais (proteína bruta, extrato etéreo, fibra em detergente neutro, etc.). Entretanto, cada combinação de tempo e temperatura na estufa irá gerar uma diferente estimativa de MS e algumas combinações podem trazer prejuízos à amostra.

É por isso que os laboratórios estabelecem (ou deveriam estabelecer) um método padrão de determinação de MS, a fim de obter resultados com boa repetibilidade. Se por um lado, a secagem em baixas temperaturas é um processo lento, em altas temperaturas pode haver perda de material que não é umidade. Já que tanto a água como outros compostos voláteis podem evaporar durante a secagem, a temperatura ótima a ser usada é um valor intermediário.

Secagem a 55oC volatiliza alguns componentes não aquosos do alimento, mas também deixa alguma água residual na amostra. Estes dois erros parecem ser compensados um pelo outro. Portanto, a secagem da amostra em estufa com ventilação de ar forçado a 55oC por 24 horas proporciona valores adequados de referência, inclusive para efeito de comparação com outros métodos de determinação do %MS.

Em resumo, o método da estufa é acurado, pode analisar várias amostras ao mesmo tempo, não trabalha com altas temperaturas (o que minimiza as perdas de materiais não aquosos) e não demanda um pessoal qualificado. Por outro lado, 24 horas são necessárias para se obter o resultado final.

Dois outros métodos para determinação da MS ganharam popularidade nos últimos anos: microondas e Koster. A maior vantagem de ambos os métodos é que eles são extremamente rápidos, já que demandam tão somente de 10 a 30 minutos.

Mas esta maior rapidez traz desvantagens, já que as amostras são submetidas a temperaturas mais elevadas. Por isso, ambos são menos acurados (porque há um grande risco de perder materiais não aquosos voláteis), somente uma amostra pode ser analisada de cada vez e exige um funcionário ou técnico mais qualificado e principalmente com paciência para pesar e re-pesar as amostras repetidamente, até que o peso da amostra se estabilize.

Uma das limitações mencionadas dos equipamentos acima (Koster e microondas), é o fato que somente uma amostra pode ser analisada de cada vez. Esta desvantagem parece não ser importante, mas devemos lembrar que boa parte das propriedades leiteiras fornece diariamente mais de um alimento volumoso às suas vacas.

Por exemplo, em muitos rebanhos brasileiros é comum que três ingredientes ricos em água sejam incluídos na formulação: a silagem de milho, uma silagem ou pré-secado de gramínea e ainda, um subproduto como o resíduo de cevada. Portanto nestes casos, o tempo gasto com a análise deveria ser multiplicado por três.

 

Variação diária

Num artigo brilhante e relativamente recente, St-Pierre & Weiss (2015) analisaram milhares de amostras de alimentos de rebanhos leiteiros dos estados norte-americanos de Ohio e Vermont. Estes pesquisadores conseguiram quantificar quanto da variação total do %MS das amostras é devido aos efeitos de fazenda, variações diárias, de amostragem e analíticas.

Como pode ser observado nas duas figuras abaixo, tanto para silagem de milho, como para silagens e pré-secados a maior fonte de variação é o efeito de fazenda. A grande proporção da variância que é atribuída a fazenda indica que a composição nutricional das silagens é específica ou única de cada fazenda! E assim dados de tabelas de composição dos alimentos ou análises de outras fazendas provavelmente não representam com acurácia a silagem de uma fazenda específica.

Para o teor de MS, após remover o efeito de fazenda (fatias azuis dos gráficos), a maior fonte de variação foi a variabilidade diária (fatias em marrom dos gráficos); 47% no caso da silagem de milho e 64% em silagens e pré-secados. Isto demonstra quão importante é analisar o % de MS dos alimentos volumosos e subprodutos de um rebanho, na maior frequência possível!

grafico

 

Impacto econômico 

Se todos os argumentos acima ainda não foram suficientes para convencê-lo da importância de analisar rotineiramente o %MS das forragens e subprodutos de um rebanho, vamos falar de dinheiro.

A tabela abaixo mostra a economia em forragens numa propriedade de 100 vacas com a melhoria de apenas 1% na acurácia do %MS.

Tabela - Economia em forragens numa propriedade leiteira de 100 vacas com uma melhoria de 1% na acurácia da análise do teor de MS.

tabela

Percebam na tabela acima que uma sobrestimativa de apenas 1% na MS das forragens de um rebanho leiteiro de 100 vacas pode causar um prejuízo de R$5 mil reais ao longo de um ano, basicamente porque ao errar (ou ao não analisar) o teor de MS dos volumosos, o produtor pode oferecer forragens além do potencial de consumo dos animais.

Como estas forragens oferecidas a mais não serão consumidas, elas farão parte das sobras e estas serão descartadas ou oferecidas para animais não lactantes. No cenário atual de altos custos alimentares, colocar comida em excesso e aumentar o percentual de sobras é um erro que não poderíamos cometer!

Este prejuízo anual pode parecer modesto, mas ressalto que usamos no cálculo uma sobrestimativa de apenas 1% na MS das forragens para um rebanho de 100 vacas. Se a diferença no teor de MS for de 2% para um rebanho de 200 vacas, o prejuízo saltará de R$5 mil para R$20 mil reais e assim por diante!

 

Conclusões 

O teor de matéria seca dos alimentos é um conceito simples e que pode ter grande impacto nutricional na dieta que está sendo ofertada aos animais. Mas exatamente por se tratar de um conceito simples, sua importância é frequentemente relegada a um segundo plano, o que pode levar a decréscimos na produtividade e sanidade, particularmente em rebanhos de alta produção e em lotes alimentados com dietas de baixa proporção de fibra.

Prós e contras dos vários métodos e equipamentos para determinar o teor de MS de alimentos aquosos foram discutidos neste artigo. Também deve ser enfatizado que o passo mais importante na determinação da MS é obter uma amostra representativa do material que está sendo ofertado aos animais.

E é claro que independente de qual método ou equipamento for usado, o resultado da análise deve ser efetivamente usado para ajustar a dieta; no contrário, só estamos gastando nosso tempo e desperdiçando os recursos do produtor.
 

Recomendação final

Nossa sugestão é que toda propriedade de bovinos leiteiros tenha seus ingredientes volumosos (pastagens, silagens, pré-secados e subprodutos com alto teor de umidade) analisados para teor de MS pelo menos uma vez por semana.

Para propriedades menores, análises mais espaçadas podem ser adotadas, mas pelo menos com uma frequência mensal.

Por outro lado, grandes propriedades leiteiras já deveriam pensar na aquisição de um equipamento para determinar o teor de MS dos alimentos volumosos, analisando o %MS diariamente e fazendo, no mesmo dia ou no dia seguinte, os ajustes necessários na dieta.
 

Autores 
Prof. Dr. Rodrigo de Almeida
Universidade Federal do Paraná
Curitiba – PR

Doutoranda Georgia Cristina de Aguiar
Universidade Federal do Paraná
Curitiba – PR

Grad. Zoot. Gabriela Mesquita da Rosa
Universidade Federal do Paraná
Curitiba – PR

 

RLM

 

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