Considerações sobre a colheita de forragens para ensilagem

Por Patrick Schmidt ¹ e Luiz Gustavo Nussio ²

1. Introdução

Com a proximidade do fim do verão, é hora do pecuarista começar a se preocupar com a colheita das culturas anuais, principalmente milho e sorgo destinadas a produção de silagem.

A colheita da forragem é um processo crítico e delicado, que tem forte influência sobre o custo final da tonelada de silagem útil produzida, seja pelo custo direto advindo do processo invariavelmente mecanizado, seja pelas perdas decorrentes desse processo, que podem inflacionar em mais de 10% o custo final da silagem.

Embora seja reconhecido que os pontos relacionados à colheita devem ser cuidadosamente avaliados antes mesmo da semeadura, durante a etapa de planejamento da produção de forragens suplementares, frequentemente esses pontos são renegados a segundo plano, o que pode causar surpresas desagradáveis e contratempos durante a colheita da forragem.

Muitas vezes, o bom manejo agronômico das culturas forrageiras pode ser prejudicado devido às falhas nas etapas subseqüentes de colheita, transporte e ensilagem da cultura escolhida.

Os principais pontos a serem avaliados no planejamento da colheita são: equipamentos utilizados, mão-de-obra e tempo de colheita.

2. Equipamentos

O conjunto mecanizado é o fator com maior impacto na eficiência e custo de colheita. O custo operacional de colheita responde por 18 a 22% do custo final da tonelada de matéria seca (MS).

A aquisição de uma ensiladora para uma propriedade não é tarefa simples. Nos últimos anos houve grande aumento na oferta de opções de implementos de colheita de forragem disponíveis ao produtor, desde tracionados de uma ou duas linhas a automotrizes com seis linhas.

Entretanto, o alto custo inicial ou o reduzido número de horas utilizadas durante o ano podem inviabilizar a compra de determinado implemento, principalmente para pequenos produtores. Além do preço de aquisição, os fatores que devem nortear essa decisão são: autonomia de colheita, resistência/durabilidade do implemento, custo de manutenção, tamanho da área colhida e possibilidade de expansão, capacidade ociosa do equipamento, entre outros.

3. Mão-de-obra

Como em quaisquer outras atividades, o treinamento e adequação da mão-de-obra são determinantes da eficiência na etapa de colheita, desde a manutenção e regulagem do implemento, até a operação dos conjuntos mecanizados no campo, controle de velocidade e altura de corte, aplicação de aditivos, etc.

O efeito da afiação de facas e regulagem sobre o tamanho médio de partículas, e seu benefício na compactação e qualidade das silagens já foi abordado anteriormente nessa coluna (Amaral, 2005), e deve ser freqüentemente monitorado pela equipe de campo.

Da mesma forma, a capacitação da mão-de-obra reduz os riscos de perdas na colheita, tanto por tombamento (a planta é derrubada ao chão e não colhida), quanto por deriva (a planta é recolhida e a forragem picada é lançada ao chão). Essas perdas podem superar 10% da massa total de forragem, elevando assim o custo da forragem útil (tabela 1).

4. Tempo de colheita

A recomendação sobre tempo de colheita e ensilagem é de que essas operações sejam feitas no menor intervalo de tempo possível. Isso por que quanto maior o tempo até o fechamento de um silo, maiores serão as perdas fermentativas. Sem contar fatores como risco de chuva, alteração na maturidade e teor de MS da planta.

O estádio ideal de colheita do milho tem duração aproximada de 10 dias. Após, essa fase ideal, o teor elevado de MS da planta aumenta as perdas de colheita e dificulta a compactação. Assim, atrasos na colheita, por falhas no planejamento, chuvas, quebra de maquinário, entre outros fatores, podem prejudicar sensivelmente a qualidade da silagem produzida, o que certamente seria traduzido em menor desempenho de animais.

5. Prestação de serviço de colheita

A terceirização da etapa de colheita e ensilagem é uma prática ainda pouco usada no Brasil, embora em algumas regiões específicas essa seja a estratégia adotada por mais de 70% dos pecuaristas locais.

As principais vantagens de contratar prestadores de serviço para a colheita são: maior eficiência operacional e benefícios agregados de equipamentos de maior porte, como o processamento físico da forragem típico das colhedoras automotrizes; garantia de execução de colheita no período previsto, liberação de maquinário/mão-de-obra para outras atividades.

Contudo, o sucesso dessa parceria depende do acordo firmado entre as partes, onde o contratante assume a responsabilidade pela produção de forragem de qualidade, e o contratado encarrega-se da colheita eficiente e com perdas mínimas. Isso presume uma relação de interdependência baseada, sobretudo, na confiança, daí o caráter cultural que precede a adoção dessa prática.

Estimativas de custo da terceirização de serviços de colheita de milho, com três implementos diferentes, estão apresentadas na tabela 2.

Verifica-se que a opção terceirizada acarreta algum grau de elevação no custo da unidade de matéria seca da silagem, em relação à colheita com equipamento próprio. A colheita com equipamento próprio, comparada a opção automotriz, incide em elevação de 12,3% no custo final do volumoso.


Contudo, se considerada a oportunidade de não adquirir um conjunto mecanizado (trator de 120HP e colhedora de forragem) por estar comprando serviço de terceiro, a diferença de custo passaria a ser revertida em favor da terceirização.

Como benefício adicional, que pode ser ponderado, estaria o ganho em operacionalidade na colheita, possibilidade de dedicação a outras atividades do sistema de produção e administração da atividade e aspectos relacionados à qualidade de vida na fazenda.

Além disso, contando com dispositivos de corte e picagem mais sofisticados, as colhedoras de maior porte usadas em prestação de serviço, têm proporcionado benefícios na compactação da massa ensilada e no valor nutritivo desse alimento quando ofertado aos animais.

6. Conclusão

A colheita de forragens para ensilagem é uma atividade que merece atenção e precisa ser bem planejada, a fim de se evitar contratempos e perda de qualidade na confecção do alimento volumoso.

Como outras atividades mecanizadas, a colheita tem influência significativa no custo de produção das silagens, o que exige controle durante o processo para evitar-se perdas de MS e conseqüente elevação no custo da forragem.

A terceirização da atividade de colheita pode ser uma boa opção, inclusive na expansão e tecnificação da atividade, desde que o pecuarista assuma a responsabilidade pela produção da cultura com alta qualidade, para justificar os benefícios advindos da prestação de serviço na colheita.

7. Referências

AMARAL, R.C. Os benefícios da compactação na ensilagem.
Disponível em https://www.beefpoint.com.br/bn/radarestecnicos

FERREIRA, J.J. Estádio de maturação ideal para ensilagem do milho e sorgo. In: Cruz, J.C. et al. Produção e Utilização de Silagem de Milho e Sorgo. Sete Lagoas: Embrapa, 2001. p. 405-428.

PEREIRA, J.R.A.; BARROS, M.S. Custos de produção de silagem e feno e evolução da comercialização de forragens conservadas. In: Simpósio sobre Produção e Utilização de Forragens Conservadas. 2., Maringá, 2004. Anais... Maringá: UEM, 2004. p.198-212.


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¹ Doutorando em "Ciência Animal e Pastagens" - USP/ESALQ - patrick@esalq.usp.br
² Professor Associado do Departamento de Zootecnia - USP/ESALQ - nussio@esalq.usp.br