Diante de diversos estudos realizados com diferentes raças e alimentos, sabe-se que há viabilidade técnica de suplementar os cordeiros tendo como resultado melhor ganho de peso e menor idade de abate. Entretanto, há necessidade de análise do custo/benefício dessa oferta, que na maioria das vezes, não é levada em consideração pelos produtores.
Para esclarecer essa questão, o Laboratório de Produção e Pesquisa em Ovinos e Caprinos da Universidade Federal do Paraná (LAPOC-UFPR) desenvolveu experimento com cordeiros desmamados precocemente, aos quais foram ofertados níveis de suplemento concentrado com 20% de PB objetivando avaliar o efeito em ganho de peso, rendimento de carcaça, tempo de terminação e o custo de produção.
Foram analisados módulos de produção com número inicial de 104 cordeiros da raça Suffolk por tratamento; os cordeiros foram desmamados aos 42 dias de idade e mantidos em pastagem de azevém (oferta mínima de 1.000 kg MS de folhas/há, que não limitava o consumo de pasto), que foram submetidos aos seguintes sistemas:
Sem suplementação
Com suplementação de concentrado em 1% PV/dia
Com suplementação de concentrado em 2% PV/dia
Com suplementação de concentrado à vontade que resultou em consumo médio de 3,2% PV/dia
Os cordeiros foram abatidos quando seu peso atingiu 32 kg.
A terminação dos cordeiros desmamados precocemente em pasto sem suplementação apresentou menores ganho médio diário e rendimento e peso de carcaça fria; também foi maior a idade dos cordeiros ao abate com mortalidade devido à verminose, mesmo com monitoramento e desverminações, quando comparado com os demais sistemas estudados (Tabela 1). A mortalidade elevada no sistema com cordeiros desmamados e terminados em pasto já foi relatada por Poli et al. (2008) e Macedo et al. (2000). Note que conforme se aumentou a quantidade de concentrado ofertada, os indicadores em geral apresentaram melhoria.
Tabela 1 - Desempenho (GMD), mortalidade e tempo de terminação de cordeiros de 42 dias de idade até o abate com 32 kg, idade de abate, rendimento de carcaça e peso de carcaça fria

NOTA: O tempo de terminação se refere ao período de 42 dias de idade dos cordeiros até o abate com 32 kg.
A Tabela 2 apresenta as variáveis de maior importância para análise do custo de suplementação dos cordeiros. O maior consumo foi observado no sistema com 2% de suplementação concentrada, pois apesar dos cordeiros consumirem menor quantidade diária (750 gramas em média), o tempo de terminação foi 23 dias maior que no de 3,2%, que apresentou consumo diário médio de concentrado de 1,07 kg. Dessa forma, o maior custo com suplementação foi observado no sistema com 2% de suplementação diária. Conforme Figueiredo et al. (2007), observa-se relação direta entre economicidade dos sistemas e o custo do suplemento.
Tabela 2 - Custo com alimentação dos cordeiros (sem considerar o pasto) e número de animais terminados.

NOTA: *Número inicial de animais menos a mortalidade.
FONTE: Barros (2008)
Observa-se que quanto maior a oferta de concentrado aos cordeiros, maior também foi a receita obtida com a venda de carne. Quando os cordeiros foram desmamados e mantidos em pastagem sem suplementação a margem bruta foi negativa, ou seja, houve prejuízo. Isso ocorreu devido à mortalidade aliada ao baixo rendimento de carcaça. Além disso, cabe ressaltar que o tempo de terminação foi longo (154 dias), sendo aproximadamente 3,7 vezes superior ao sistema com suplementação a vontade. Isso implica em maior tempo de ocupação da pastagem pelos cordeiros não suplementados. Com relação ao benefício:custo, o maior valor é obtido no sistema de suplementação a vontade, indicando melhor retorno do valor monetário empregado nesse sistema.
Diante desses dados apresentados é possível observar que compensa investir em suplementação para cordeiros desmamados e mantidos na pastagem. Mesmo com pasto de ótima qualidade como o azevém e com alta oferta de folhas no pasto, o suplemento melhora os índices produtivos (GMD, lotação da área, rendimento de carcaça e mortalidade) e proporciona viabilidade econômica ao sistema. Cabe lembrar ainda que pesquisas têm mostrado resultados interessantes no controle de verminose, quando melhores níveis protéicos são disponibilizados à dieta dos ovinos.
Salienta-se que, no caso de nossos resultados, a ração concentrada foi formulada e preparada no LAPOC-UFPR com custo inferior aos produtos comercializados por empresas privadas. Dessa forma, recomenda-se sempre avaliar a viabilidade em diferentes sistemas de produção e nas regiões específicas, pois dependendo do valor local de aquisição dos insumos pode ocorrer grande alteração na relação benefício:custo do modelo produtivo.
Referências
BARROS, C.S. Análise econômica de sistemas de produçăo de ovinos para carne. Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias) a Universidade Federal do Paraná. 154f. 2008
FIGUEIREDO, D.M.; OLIVEIRA, A.S.; SALES, M.F.L.; PAULINO, M.F.; E VALE, S.M.L.R. Análise econômica de quatro estratégias de suplementação para recria e engorda de bovinos em sistema pasto-suplemento. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.5, p.1443-1453, 2007.
MACEDO, F.A.F., SIQUEIRA, E.R.D., MARTINS, E.N. Análise econômica da produção de carne de cordeiros sob dois sistemas de terminação: pastagem e confinamento. Ciência Rural, v.30, n.4, p.677-680. 2000.
POLI, C.H.E.C.; MONTEIRO, A.L.G.; BARROS, C.S.; MORAES, A.; FERNANDES, M.A.M.; LINSINGEN, H.von. Produção de ovinos de corte em quatro sistemas de produção. Revista Brasileira de Zootecnia, v.4, 2008. no prelo