O Custo da Não Qualidade (CNQ) e Custo da Má Qualidade são formas que usamos para identificar falhas nas empresas pelo seu não uso.
Segundo Falconi, quando falamos em qualidade às vezes pensamos apenas na do produto, mas sua abrangência é muito maior. Podemos tratá-la em várias dimensões: qualidade, custo, entrega, segurança e moral.
Fonte: Controle da Qualidade Total (FALCONI, 6° ed.)
Dá para imaginar que ainda desconhecemos as diversas formas do uso incorreto ou do não uso da qualidade, ou das falhas em si que podemos ter nos laticínios, as quais muitas vezes não são mensuradas.
Neste artigo, vamos abordar alguns dos indicadores que podemos avaliar e medir para verificar se nossos laticínios estão bem ou mal em relação ao CNQ.
Quais são os Custos da Não Qualidade nos laticínios?
- Custo da reclamação/devolução
Reclamação, todos nós sabemos é um dos grandes custos que podemos ter na empresa, não somente em reais, mas o custo da imagem que estamos desprotegendo a cada reclamação que entra no SAC. Por trás desse indicador, existem gastos que não mensuramos. Portanto, vejo como o principal indicador dentro do CNQ.
- Custo de logística e expedição
Muito atrelado ao anterior, esse se refere aos custos logísticos envolvidos para retorno do produto reclamado para a empresa. Além disso, absorve o impacto de outros desvios, como erros no envio de pedidos para clientes e de entregas. Quando analisamos os altos custos de logística envolvidos na cadeia de frio para lácteos, entendemos o quanto ele é representativo.
- Custo com descarte de produto por contaminação física, química ou microbiológica
Falhas operacionais por não cumprimento de procedimento, desconhecimento do processo, falhas em projeto etc. Podemos dizer que dependendo do tipo de problema ou do tempo que se leva para resolvê-lo, a empresa pode ter grandes impactos financeiros. Cabe aqui uma boa ferramenta: Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), podendo ser uma boa ferramenta para conhecer profundamente o processo.
- Custo com descartes de produtos vencidos
Aqui, estamos falando de todo e qualquer produto, seja um insumo ou uma embalagem que por uma falha de First in, First Out (FIFO) simplesmente esquecemos no estoque e acabamos tendo que descartar esse material. O Planejamento e Controle de Produção (PCP), pode e deve ter formas de controle de materiais para reduzir essa perda.
- Custo com perdas no processo
Outro ponto de extrema relevância são as perdas no processo. Muitas vezes, acreditamos que conhecemos bastante nosso processo. Porém, quando realmente olhamos com uma visão mais crítica, ou somos questionados sobre perdas, começamos a enxergar o leque que se abre de oportunidades de redução.
Uma dica aqui é: critique seu processo! Questione os "porquês": por que perdemos massa toda vez que uma queijomatic é prensada? Poderia ser menor essa perda? O que poderia ser feito para perder menos? Quando questionamos nossos processos percebemos o tamanho das oportunidades!
- Custo com perdas de embalagens
Problemas em maquinários, falta de alinhamento entre fábrica e fornecedor, falta de conhecimento do operador na linha etc; são gaps que podemos listar e que geram um custo que nosso cliente não está disposto a pagar por ineficiência do processo.
- Custo com não atendimento às receitas (variação de uso)
A falta de controle de processo, padronização de formulação, treinamento da equipe, gestão de manutenção de equipamentos e despreparo da operação podem encarecer o produto devido ao uso em excesso de matérias-primas, consumo incorreto de materiais etc.
Geralmente, nos laticínios temos pouco acompanhamento desse indicador, o qual é muito mascarado pelo indicador do rendimento. Dessa forma, acaba que não observamos na íntegra todos os ingredientes.
- Custo com multas e auto de infração
Todo laticínio busca, logicamente, não receber auto de infração ou multas gerais, mas a falta de uma gestão de requisitos legais pode colocar em risco a empresa. Conhecer profundamente as legislações e suas alterações são a base para se defender e ter agilidade de adequações dos processos para o pleno atendimento legal.
- Custo com reanálises
A tal "esconfiança dos resultados laboratoriais", falta de padronização de produtos ou de definição de regras claras na liberação dos mesmos, podem fazer com que façamos e refaçamos análises na busca pelo resultado desejado e isso é um CNQ que praticamente nenhum laticínio calcula. Fica a dica e observação!
- Custo com reprocesso/retrabalho
"Reprocessa, retrabalha que reduz o impacto da perda". Geralmente, é o que ouvimos muito em laticínios. Primeiro, que todo retrabalho e reprocesso necessita se ter estudos claros e legalmente aprovados para tal.
Além disso, muitas vezes não calculamos o custo desses reprocessos, o uso novamente da mão de obra, do vapor já utilizado, do tempo em si que se empregou outra vez naquele produto. Não mensuramos esses fatores e, muitas vezes não compensa. O certo é fazer correto a primeira vez!
- Custo com leite com antibiótico
Percebo que ano a ano esse indicador vem reduzindo nos laticínios, mas ainda vale atenção, principalmente, porque sabemos do grande movimento mundial em relação aos contaminantes que teremos em um futuro não muito distante.
Hoje, os kits usados nos laticínios ainda não atendem plenamente todos os tipos de antibióticos existentes. Por isso, muitas vezes, as indústrias precisam recocorrer a mais de um método, encarecendo absurdamente as análises.
- Custo com pessoas insatisfeitas
Esse podemos dizer ser um indicador intangível, que muitas vezes não conseguimos medir o tamanho do impacto que uma pessoa insatisfeita pode gerar na empresa. Mas podemos considerar todos os indicadores que falamos até aqui, pois uma pessoa insatisfeita pode trazer além de perdas financeiras um grande impacto de qualidade e até mesmo na imagem da empresa, sem contar no risco com a segurança da equipe.
Resumindo, o Custo da Não Qualidade (CNQ) é de fato um vilão escondido nos laticínios e tenho certeza que se apurarmos com uma boa análise crítica dos nossos processos deixaremos de perder milhões no ano com esses desvios.
Em meio à tanta necessidade de redução de gastos, por que não começar a olhar o Custo da Não Qualidade da sua empresa?
Nos vemos nos próximos artigos.
Boa leitura!