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Será o fim do mundo ?

POR MARCELLO DE MOURA CAMPOS FILHO

ESPAÇO ABERTO

EM 13/09/2002

4 MIN DE LEITURA

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Marcello de Moura Campos Filho

Em agosto passado comentávamos que as duas frases célebres de Greenspan, "exuberância irracional" e "ganância infecciosa", pareciam se aplicar bem aos grandes laticínios, pois :

- no ano passado derrubaram os preços do leite em plena entresafra alegando um irreal excesso de oferta, que teve como consequência inevitável uma retração da oferta para 2001 que levou a aumento das importações (só até agosto de 2002 já se importou mais de 35% do que o total das importações de 2001).

- em função de uma certa recuperação de preços ao produtor decorrente da demanda maior que a oferta, já a partir de maio começaram a soltar os balões de ensaios da redução de preços ao produtor, quando os gastos com alimentação são maiores e o produtor começa fazer suas compras para o plantio de forragem para o próximo inverno, se deparando com um grande aumento de custo dos concentrados e dos insumos.

- Até o presente momento as chuvas não colaboraram e há possibilidade de que no verão 2002/2003 as chuvas não sejam abundantes e possam ser mal distribuídas em grande parte das bacias leiteiras.


E agora, em declaração para Valor Econômico, Rodrigo Alvim, da CNA, nos revela o que pode ser mais uma pérola dos grandes laticínios: como o leite importado está saindo para a indústria a R$ 0,50 por litro, a indústria láctea está pressionando a redução de preços, alegando que é necessário fazer um "mix" de custos.

Ora, quando há excesso de oferta e não há financiamento para estocagem, o preço para o produtor é jogado para baixo. Se a demanda e oferta são equilibradas e há possibilidade de importação de leite subsidiado sem as devidas compensações, o preço ao produtor é jogado para baixo. E agora, com a oferta menor que a demanda, causada pela política desastrosa dos grandes laticínios, o preço vai ser jogado para baixo, por que o preço do leite importado está elevado, e os laticínios querem fazer um "mix" de custo, fazendo o produtor pagar a conta da política desastrosa que praticam. Que o leitor me perdoe a expressão, mais o produtor de leite está pior que o "--" da Joana.

Denunciamos aqui que não há condições de baixar preços ao produtor de leite ao produtor, que se os grandes lacticínios insistirem nisso, a oferta para 2003 será muito menor do que a de 2002, causando um prejuízo enorme à pecuária leiteira nacional e condenando o Brasil a ser nos próximos anos um grande importador de leite.

E o Governo, o que diz disso ? Parece que além de não tomar conhecimento, ignora a crise da pecuária de leite, e resolve também tomar medidas que vão ajudar acabar com o produtor: quando alguns poucos produtores de leite tem lucros irrisórios, e a grande maioria mal consegue pagar os custos de produção ou tem prejuízos significativos, o Governo Federal, através da Medida Provisória 66, equipara o produtor de leite ao assalariado, confundindo resultado de operação de risco com salário, e aplicando tabela de pessoa física para reter imposto de renda na fonte !

O produtor rural foi a âncora verde do Plano Real. Fomos nós e os assalariados, com o nosso sacrifício, que seguramos a inflação. Em termos reais, considerando valores deflacionados, em 2000 recebemos 74,5% do que recebíamos em 1994, portanto 25,5% a menos que recebíamos no início do Plano Real. E os insumos que usamos subiram em valores reais. E a Medida Provisória 66 é o prêmio que o Governo nos dá pelo nosso sacrifício !

Se recebendo o que estão nos pagando os laticínios mal está dando para sobreviver, se houver retenção de qualquer importância, que nos seria devolvida em 2003 pois os produtores não estão tendo lucros, a maioria não aguentará.

Há vinte anos atras, em 1982, a pecuária de leite vivia um momento semelhante, e os produtores de leite não aguentando mais, para sobreviverem, começaram a mandar suas matrizes para o abate, num rítimo tal que levou o Governo Federal instituir, em caráter emergencial, um financiamento de 9.000,00 cruzeiros por cabeça, para retenção de matrizes leiteiras por um ano.

Se os grandes laticínios insistirem em fazer o produtor de leite pagar a conta de seus erros e reduzirem os preços ao produtor, e o Governo insistir em reter indevidamente parte do que recebemos dos laticínios, não nos restará outra coisa a fazer a não ser mandar nossas matrizes para o abate.

Será o fim do mundo ? Com certeza não, mas certamente será o fim de uma pecuária leiteira nacional que possa garantir a auto-suficiência para abastecer o mercado nacional: voltaremos a ser grandes importadores de leite.

A que pode interessar o mercado de leite nacional fortemente dependente de importações ? Às multinacionais ? Ao Governo ? Mas com certeza não interessa ao povo brasileiro, pois agrava nossos problemas econômicos e sociais.

Lembramos ao produtor que estamos em época de eleição. Pense bem para escolher a quem deve dar o seu voto.

Marcello de Moura Campos Filho
Presidente da Leite São Paulo


MARCELLO DE MOURA CAMPOS FILHO

Membro da Aplec (Associação dos Produtores de Leite do Centro Sul Paulista )
Presidente da Associação dos Técnicos e Produtores de Leite do Estado de São Paulo - Leite São Paulo

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MASSARU KASHIWAGI

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 18/09/2002

Caro Marcello,
Parabéns pela lucidez de suas colocações. Permita-me apenas completar com duas observações, que acredito ajudará aos leitores a formar uma opinião mais completa dessa questão toda, e é dirigida aos nossos pseudo-governantes:

1) O leite importado vem carregado de fortes subsídios governamentais dos paises produtores, e, ainda assim, chegam aqui a R$0,50. No mínimo, a nossa produção deveria ser remunerada ao mesmo preço, e não como está sendo
denunciado.

Escândalos do uso do poder econômico contra o produtor brasileiro, precisam ser coibidos pelas autoridades, ou serão elas coniventes com tal situação. A regra básica que precisa ser respeitada é "remuneração justa para o trabalho honesto". O que a força econômica desses laticínios estão tentando não é justo, não é correto, não é moral e não é patriótico, protegendo o subsídio externo e deliberadamente prejudicando o produtor
brasileiro que está ainda "dando" um subsídio adicional ao produtor
estrangeiro já subsidiado em seu país de origem!!!!!! É realmente "o fim da picada"!!!!

2) A segunda questão, consequência direta da primeira, é de uma miopia
e "burrice" impressionante daqueles que chamo de pseudo-governantes, que é a
questão do desemprego. Desestimulado em sua atividade, o produtor de leite
fecha sua sala de ordenha, vende suas vacas, despede seus empregados, e vai viver de renda do produto dessas liquidações aplicado no mercado financeiro. E descobre que é possivel aumentar seu patrimônio sem trabalhar, enquanto trabalhando ele via seu patrimônio diminuir a cada dia. Mas a questão importante é a questão dos milhões de pessoas que estão ligadas à cadeia produtiva do leite, que por enquanto emprega mais que a indústria metalúrgica, siderúrgica, ou qualquer outras dessas atividades paparicadas
pelo governo.

A continuar essa política desastrosa de miopia em relação ao produtor de leite, passaremos a ser totalmente importadores desse produto, com milhões de desempregados adicionais, provenientes desse setor, e então, tardiamente, talvez, nossos pseudo-governantes acordem para um problema social maior, do desemprego nesse setor que está ainda contribuindo para manter a inflação em níveis administráveis.

Está na hora dos produtores também acordarem e começarem a parar de se
comportar como crianças choronas, e assumirem seu papel nessa questão
toda. Vamos nos unir e direcionar nossos esforços para defender nossos
interesses juntos. Unidos venceremos. Isoladamente, desunidos, não teremos a menor chance. Vamos eleger os candidatos que defenderão os princípios básicos de nossa atividade, vamos publicamente repudiar os maus governantes, vamos mostrar que os produtores de leite já acordaram e vão exigir respeito com sua atividade.

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