O jovem estado de Rondônia tem se revelado como importante produtor de leite e de carne bovina. A pecuária de leite nas pequenas propriedades, e a de corte, nas médias e grandes, expandiu-se muito nos últimos anos. De 1998 a 2003, enquanto a produção de leite no Brasil cresceu à taxa de 3,8% ao ano, a de Rondônia cresceu 14,8%. De 1998-2003 o efetivo bovino nacional cresceu 1,94% ao ano e o de Rondônia, 13% ao ano. É muito provável que este maior crescimento de nossa pecuária se deve aos seguintes fatores: a) abundancia de pastagens, que foram cultivadas em substituição à vegetação preexistente; b) solos férteis; c) abundancia e regularidade de chuvas, d) menor custo de produção em comparação a outras regiões.
A pecuária de corte tem se mostrado bastante produtiva. Pesquisa divulgada pela DBO, em março de 2004, revela que Rondônia, entre os estados brasileiros, é um dos que mais emprega técnicas como pastejo rotacionado, inseminação artificial, softwares de gerenciamento e pesagem periódica. Qualitativamente, este rebanho de corte também tem se destacado. O Programa Nelore Natural teve início no estado justamente porque aqui os técnicos verificaram a abundância e padronização do rebanho, bem como a receptividade do produtor. Pois bem, e quanto à pecuária de leite? Recentemente ficamos em evidencia na mídia, que nos destacava como eminente produtor de leite. Façamos então uma análise mais aprofundada sobre a pecuária de leite em Rondônia, abordando principalmente a questão da produtividade.
No Gráfico 1, podemos verificar que a produção de leite no estado praticamente dobrou no curto intervalo de 5 anos, saltando de 372 milhões de litros, em 1998, para 728, em 2003.
Gráfico 1 - Produção de leite no estado de Rondônia
Hoje, Rondônia possui rebanho superior a 9,6 milhões de cabeças. Segundo dados do IDARON, 30% dessa quantia formam o rebanho leiteiro do estado. Sua distribuição geográfica pode ser visualizada no Mapa 1. Observa-se que o rebanho leiteiro não está distribuído de forma uniforme, concentrando-se em alguns municípios, principalmente Ouro Preto, Jarú, Vale do Paraíso e Nova União.
Fonte: SEDAM/IDARON
Elaborado pela Método Consultoria Agropecuária
Dentre os estados brasileiros, Rondônia hoje ocupa a 8º posição na produção leiteira (tabela 1), sendo produzidos em média 1,764 milhão de litros/dia.
Como podemos verificar na Tabela 2, a produtividade do rebanho leiteiro de Rondônia, entretanto, ainda é significativamente inferior à dos principais estados produtores brasileiros. Enquanto a média em nosso estado é de 787 litros/vaca/ano, em Minas Gerais é 80% superior, chegando a 154% em Santa Catarina.
A produtividade por vaca em Rondônia, no período de lactação, oscila entre 3,5 litros/dia a 5,1 litros/dia (Tabela 3), conforme o estrato de produção de leite. A média do estado é de 3,75 litros/dia. Quando cotejada a produção pelo total de vacas leiteiras, a média se reduz para 1,9 litros/dia, redução de 49%.
Outro dado importante é a produção de leite por área. Ainda na Tabela 3, podemos verificar que em estratos produtores de até 50 litros/dia, a produção é de 351,5 litros/ha/ano, chegando a ser 2,7 vezes superior em propriedades com produção acima de 200 litros/dia. Na média, a produção do estado é de 453,1 litros/ha.
A qualidade genética do rebanho é outro fator a influenciar na produtividade. Os dados da Tabela 4 apontam que a maior parte do rebanho leiteiro de Rondônia - 58,5%, não possui padrão genético definido, outros 27,27% são ½ Hz Holandês.
Esta baixa produtividade, em uma análise menos rigorosa, poderia ser explicada devido ao padrão genético não definido do rebanho. Entretanto, estes indicativos de raça não devem ser analisados isoladamente, uma vez que animais mais produtivos geralmente exigem condições de tratamento mais sofisticadas e onerosas, porque nem sempre se adaptam às condições do meio em que são inseridos. Relevante, portanto, relacionar padrão genético com adaptabilidade à região e condições de manejo. Todo animal possui carga genética (genótipo) que apenas se expressará (fenótipo) se as condições do meio lhe forem favoráveis. Portanto, condições inadequadas de manejo (aqui entendido em um sentido amplo, alimentação, sanidade, etc.) e de adaptabilidade, podem interferir negativamente, fazendo com que o animal, apesar de ter genótipo mais favorável, não expresse sua potencialidade, lactando menos que o desejado e por menos dias no ano. Enquanto o outro animal, geneticamente inferior, porém, melhor adaptado, pode ser mais produtivo, em condições adequadas de manejo, produzindo sua capacidade máxima durante vários dias no ano.
É sabido que animais de origem taurina geralmente produzem mais leite/dia que os de origem zebuína. Como constatado, o rebanho de Rondônia possui padrão genético indefinido, apontando para capacidade genética de produzir leite pouco satisfatória. No entanto, apesar desta inferioridade genética, estaria sendo maximizada a produtividade deste rebanho? São vários os indicativos que apontam que não.
O período de lactação em Rondônia é reduzido, uma vaca produz leite por aproximadamente 210 dias/ano. Em estados produtores tradicionais, como Minas Gerais, este período chega a ser 50% superior, lactando em média 305 dias/ano.
Conforme a Tabela 5, com base nos dados do IDARON, foi possível calcular a taxa de nascimento do rebanho leiteiro. O resultado da soma do total de bezerros nascidos no período foi dividido pelo número matrizes em condições de procriar do ano anterior. Assim, constatou-se que a taxa de parição do rebanho leiteiro do estado é de 65,3%. Isso significa que a cada ano, 34,7% das vacas leiteiras deixam de parir, consequentemente, não produzem leite.
Estas duas estatísticas por si só são reveladoras e explicam o porquê da produtividade se reduzir para apenas 1,95 litros/dia, quando cotejada com o total das vacas leiteiras. Mais importante que a questão genética, acreditamos que a baixa produtividade de nosso rebanho se explica principalmente por problemas de manejo, entendido no seu sentido amplo, que contribuem para o reduzido período de lactação e a indesejável taxa de parição.
Geralmente se associa elevação da produtividade (leite produzido por animal) com elevação dos custos, sendo, assim, supostamente inviável a adoção de técnicas melhoradoras. Este tipo de posição é comum, até mesmo entre profissionais incumbidos do "aperfeiçoamento" do setor. Em entrevista que realizamos, por telefone, com importante técnico do Pró-Leite, afirmava que "não é importante elevar a produtividade por vaca em Rondônia, pois ocorre elevação de custo. Mais importante, é aumentar a quantidade de vacas e elevar o volume da produção".
Como dissertado, acreditamos que existe margem significativa para a adoção de técnicas que permitam elevar a produtividade da vaca, sem que isto represente custos adicionais significativos. O simples manejo adequado possibilita que o animal produza leite por mais dias no ano, sem que isto represente, entretanto, elevação de custos por litro de leite.
Diante deste quadro, acreditamos que não é necessário esforço financeiro significativo para tornar a atividade leiteira em Rondônia mais produtiva. Em nossa visão, as duas políticas que se seguem, adotadas conjuntamente, garantirão elevação significativa da produtividade do nosso rebanho, sem que isto represente elevação de custos por litro para o produtor, trata-se mais de uma mudança de consciência:
- Adotar adequado manejo, no sentido amplo da palavra, permitindo que o animal maximize sua produção.
- Preferenciar animais geneticamente adaptados à região.
1Método Consultoria - Pimenta Bueno, RO