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Quem assistiu, se encantou...

ESPAÇO ABERTO

EM 28/02/2004

4 MIN DE LEITURA

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Por Evaristo Marzabal Neves1

Quem não presenciou, perdeu. Foram muitos os convidados, poucos os privilegiados que puderam assistir a palestra do Dr. Norman Bourlaug, na 5a feira (12/02), às 10h no Salão Nobre da ESALQ. O convite foi público e cerca de 400 pessoas ouviram o Prêmio Nobel da Paz (1970). Da paz, não da agricultura, pois não existe Prêmio Nobel da Agricultura e, neste ponto, nada melhor premiar alguém com a arma da paz que é o alimento que mata a fome, o pior inimigo da sobrevivência humana e o maior flagelo da humanidade. Matar a fome é a guerra que não gera sofrimentos aos povos.

Descrever sobre o que representou a "Revolução Verde", a partir dos anos 50, para a Índia e outros países da Ásia e Oriente Médio, com populações enormes, é "chover no molhado", tal a repercussão mundial desta revolução na diminuição da fome latente em países pobres. No momento, importante é explorar as lições passadas pelo Dr. Bourlaug, nesta passagem pela ESALQ, em sua fala: "Da revolução verde à revolução do gen - nosso século 21".

Primeira lição: o seu encantamento com a agricultura brasileira, após seu "turismo agrícola" por 12 dias visitando regiões de produção de grãos (Paraná, Matogrosso, Mato Grosso do Sul e Goiás e seus sistemas de produção de plantio direto). Certa altura chamou sua atenção, numa das fazendas visitadas em Sapezal (MT), ao ver uma frota de colhetadeiras colhendo soja precoce e, meia hora depois, uma fileira de máquinas plantando milho na mesma área, no sistema de plantio direto. Com ciência e tecnologia "o Brasil tem demonstrado pioneirismo no uso adequado do solo". Neste sentido, a terra bem manejada, cumpriria sua mais nobre missão: produção de alimentos.

Segunda lição: Não há como pensar em produção de alimentos dissociada de tecnologia. Segundo Bourlaug "cerca de 85% do aumento de produção de alimentos no mundo terá que vir das áreas já cultivadas e a expansão de fronteiras agrícolas, com aumentos de áreas de produção, apenas têm sido vistas no Cerrado Brasileiro e na África Subsaariana". Neste particular, ponto para a pesquisa e tecnologia brasileiras, aos anônimos pesquisadores de nossos Centros de Pesquisa que "amansaram os cerrados", com o desenvolvimento de variedades e tecnologias que, em menos de 20 anos, se rivalizam com países desenvolvidos em termos de produção e produtividade (vide soja). "O Brasil, pode dar uma importante contribuição, oferecendo as técnicas que desenvolveu para a produção de grãos em áreas tidas como inférteis no passado, como o cerrado". Revelou, ainda, que "O Brasil deve participar mais de acordos de transferência de tecnologia para países africanos. Há condições de o Brasil ter um papel mais ativo neste campo". Estas reflexões só são possíveis após cruzamento de estatísticas de pesquisa e tecnologia, adaptabilidade edafoclimáticas de variedades e infraestrutura de transporte, quando relacionou o problema da fome com produção e distribuição de alimentos. Ao comparar produtividade (uso de fertilizantes e corretivos) com relação à quilometros rodoviários por milhão de habitantes, verificou que a baixíssima demanda (próximo a zero) por fertilizantes na África, entre outros fatores, e, por sua vez, acompanhada pela reduzida produção de alimentos, estava fortemente associada a inexistência de estradas que facilitassem o trânsito de insumos e de grãos produzidos, num vaivém constante. Colocou que a ausência de distribuição e logística de transporte se constituía no flagelo da fome na África, dificultando inclusive a chegada por terra de alimentos doados pelas ONGs e Programas de Ajuda Internacionais. Chamou a atenção do governo brasileiro para a busca da redução do "Custo Brasil", principalmente gerando facilidades e atenção no armazenamento e na logística e transporte da agricultura para escoamento da produção, no atual momento de euforia do agronegócio exportador brasileiro.

Terceira lição: embora seja favorável à biotecnologia dos transgênicos, deixou bem claro, que nesta, a palavra é precaução, conclamando os pesquisadores a reverter todos os esforços no desenvolvimento de uma biotecnologia que vise maiores resistências dos grãos e cereais a insetos e moléstias, barateando seus custos, aumentando sua produtividade, mas protegendo o ser humano.

Muitas outras lições poderiam ser retiradas de sua fala. Antes de passar a última lição, é bom registrar a feliz idéia da FEALQ e da AGRISUS (Fundação Agricultura Sustentável), com o apoio da Diretoria da ESALQ, em trazer à Piracicaba, tão ilustre personalidade mundial, integrando o evento às comemorações dos 70 anos da USP.

Finalmente a última lição, de forte impacto doméstico entre os professores, pesquisadores e alunos do Campus "Luiz de Queiroz". O Prof. Bourlaug estará completando 90 anos no próximo 25 de março. Estando sentado à mesa central, quando chamado, levantou-se e sozinho dirigiu-se ao púlpito, subiu as escadas e de pé proferiu a sua palestra gastando uma hora, falando em espanhol (boa didática e clara entonação, sem queda de voz) e apresentando os "slides" em inglês. De uma simplicidade marcante, foi uma demonstração de clara evidência da forte motivação e prazer no que fez toda a vida, ocupando todo o tempo em vivê-la na alegria de encontrar, cientificamente, uma forma de alimentar o mundo. Fez valer a máxima da terapia ocupacional: "a ocupação é o melhor remédio (médico) da natureza". Ainda mais, se esta ocupação está em fazer o bem, sempre procurando amenizar o flagelo da humanidade, a fome, e buscando a paz no atendimento da necessidade básica da subsistência humana. Quem o assim entendeu e, desta forma, percebeu sua mensagem, interpreta com facilidade o seu ultimo slide que nada mais seria o lema das ciências agrárias: "Você não pode construir a paz sobre estômagos vazios".
_______________________________
1Evaristo Marzabal Neves é Professor Titular do departamento de economia rural da ESALQ/USP

Publicado originalmente no Jornal de Piracicaba, em 18 de fevereiro de 2004

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