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Pecuária de leite x Cana-de-açúcar: atividades afins ou concorrentes?

ESPAÇO ABERTO

EM 18/05/2006

5 MIN DE LEITURA

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Por Matozalém Camilo Neto1

A cana-de-açúcar vai tomar espaço e reduzir a produção de leite em nossa região? Esta é a grande dúvida que atualmente existe na cabeça de muitas pessoas em várias regiões do Brasil e principalmente no triângulo mineiro e sudoeste do estado de Goiás.

Existem muitos produtores de leite e também técnicos do setor afirmando que a pecuária leiteira não terá espaço para continuar existindo nestas regiões em função da chegada dos canaviais implantados pelas usinas de açúcar e álcool. Esta afirmação é no mínimo precipitada e não está fundamentada em estudos mais criteriosos sobre a rentabilidade proporcionada por ambas atividades.

A verdade é que nos últimos cinco anos, estamos observando nestas regiões um avanço muito grande do plantio de cana-de-açúcar destinada para a produção de açúcar e álcool. Neste período, cinco novas usinas já se instalaram em um raio de aproximadamente 200 km em torno de Ituiutaba-MG e outras estarão sendo construídas em pouco tempo.

Nós que trabalhamos com consultoria em pecuária de leite e que também estamos acompanhando de perto estas transformações nos diversos setores produtivos agropecuários, temos uma visão um pouco diferente em relação à retirada da pecuária leiteira para outras regiões mais distantes. A produção de leite dificilmente irá se reduzir nestas regiões. Poderá haver uma diminuição da área utilizada para leite, e isto realmente já está acontecendo, porém ao contrário que se pensa a produção está aumentando.

O leite possivelmente não vai diminuir por dois fatores muito fortes: o primeiro é que para ser produzido, ele não necessita de grandes extensões de terras e o segundo motivo, certamente mais forte que o primeiro, é que a pecuária leiteira quando bem conduzida torna-se mais rentável que o arrendamento para produção de cana.

As usinas por aqui trabalham preferencialmente no sistema de arrendamento de terras e remuneram os proprietários entre 10 e até 15 toneladas de cana por ha ao ano. Isso representa aproximadamente uma receita anual de R$300,00 até R$450,00 para cada hectare arrendado. Este valor depende de alguns indicadores de rendimento da cana e do preço de mercado da mesma.

Atualmente a tonelada de cana está por volta de R$30,00. Os pecuaristas que trabalham de olho na rentabilidade e baseando-se em números consistentes, não estão reduzindo suas produções, mas sim ampliando as mesmas e aumentando seus lucros. Os números que temos mostram e comprovam esta tendência do leite em se concentrar em menores áreas e se tornar mais rentável por ha quando trabalhado de maneira intensiva.

Fazendas que acompanhamos pelo projeto Educampo (Sebrae-MG/DPA Nestlé) há cinco anos estão passando por estas transformações regionais, reduzindo áreas destinadas ao leite, porém ampliando a produção e melhorando a rentabilidade da propriedade. A seguir apresentarei alguns dados médios de 15 fazendas acompanhadas pelo Educampo no triângulo mineiro e sudoeste de Goiás. Os números são referentes às mesmas fazendas em 2001 e 2005 (tabela 1).


Esta amostra apesar de muito pequena é um indicativo do que está acontecendo em várias outras propriedades da região. É possível aumentar a produção de leite mesmo com redução da área utilizada. Isso depende de tecnologias simples e já bastante difundidas entre os produtores. Estas tecnologias se racionalmente adotadas proporcionam uma melhor lotação animal e também promovem um significativo aumento na produção diária dos mesmos, culminando com uma melhor produção por área.

Neste sentido, as usinas se tornam aliadas da pecuária leiteira, pois introduzem na região novas variedades de cana que além de produzir açúcar e álcool acabam chegando também aos cochos das fazendas, servindo de incremento para a nutrição animal. Este é um forte argumento que nos leva a acreditar na não concorrência entre estas duas atividades, mas sim que elas sejam complementares se analisarmos o contexto do setor agropecuário como um todo.

Na tabela a seguir apresentaremos alguns indicadores de uma fazenda localizada no município de Ituiutaba-MG, que compartilhou sua área com a produção de cana visando melhorar a receita bruta e conseqüentemente a rentabilidade da propriedade.


Este é um exemplo de sucesso de convivência entre pecuária (de leite, principalmente) e as usinas que produzem açúcar e álcool. Esta propriedade arrendou 40% da área para plantio de cana-de-açúcar, se capitalizou, reorganizou sua produção pecuária e como conseqüência de toda esta transformação, ampliou em 2,8 vezes sua margem líquida por hectare.

O motivo do arrendamento foi visando melhorar o aproveitamento da área da propriedade e captar recursos que pudessem auxiliar na intensificação da pecuária de leite. Logicamente, houve uma série de mudanças de comportamento no gerenciamento da fazenda, principalmente relacionado à produção de leite que elevou-se de 200 litros/dia no ano de 2001 para 2000 litros/dia em 2005.

O modelo de produção de leite desta fazenda utiliza pastejo rotacionado em capim Mombaça adubado durante as águas e cana-de-açúcar como forrageira durante o período da seca.

Com relação à pecuária de corte, utilizando-se adubação e divisão dos pastos, praticamente se manteve o número de animais de antes (um pouco menos), porém utilizando-se apenas 40% da área anterior. Todas as tecnologias adotadas são validadas quando observamos o expressivo aumento na margem líquida anual por hectare da propriedade.

Podemos observar que, neste caso, a pecuária leiteira é a mais rentável das três atividades e está remunerando 4,7 vezes mais que a pecuária de corte e quase 3 vezes mais que o arrendamento para a usina. Isso não quer dizer que seja uma tendência geral, mas representa a realidade desta propriedade localizada em uma região onde muitas outras estão saindo da atividade sob alegação de falta de rentabilidade suficiente. O diferencial parece ser administrativo.

Na tabela a seguir apresentaremos mais algumas informações zootécnicas e econômicas apenas da pecuária leiteira desta mesma propriedade citada anteriormente. São números médios acompanhados pelo Educampo nos últimos 12 meses:


São exemplos como estes que nos levam a concluir que a produção de leite dificilmente irá reduzir em regiões como estas citadas anteriormente e em muitas outras. Existe espaço suficiente para se trabalhar com cana-de-açúcar e também com pecuária de leite e corte. Aliás estas atividades são de grande importância para o país e precisam se desenvolverem.

Não podemos acreditar que a cana irá eliminar a pecuária de leite, mas sim na possibilidade de utilizarmos as novas variedades de cana trabalhadas pelas usinas, em benefício da nutrição de nossa vacas leiteiras. Isso certamente já está acontecendo e ocorrerá em maior freqüência ainda na medida em que forem aumentando o número de usinas de açúcar e álcool.

A pecuária de leite conduzida de maneira profissional, torna-se uma atividade muito competitiva no setor agropecuário. Dificilmente outra atividade agropecuária rende mais por hectare do que a atividade leiteira bem conduzida. Aos técnicos e pecuaristas do setor resta-nos uma certeza, o leite bem trabalhado não será expulso pela cana-de-açúcar das usinas. Precisamos apenas agir com mais comprometimento e acreditar que é possível ser eficiente zootécnica e financeiramente produzindo leite.


______________________________
1Consultoria Técnica e Gerencial em Pecuária

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RENATO MIGLIO MARTIN

TEÓFILO OTONI - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 03/07/2006

Caro Matozalém,

Gostaria de cumprimentá-lo pelo artigo e parabenizá-lo pelo competente trabalho que vem realizando ai no triangulo.

Um abraço,
Renato Miglio Martin - Zoopec
ROBERTO SOARES JANEIRO FILHO

BAURU - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 29/06/2006

Gostei muito dessa reportagem, conseguiram expressar muito bem a realidade da pecuária leiteira. Acredito também que a produção irá aumentar, e o número de produtores envolvidos com a atividade diminuirá. Não pelo fato da atividade não ser rentável, pois o artigo já mostra isso, mas essa diminuição de produtores pode ocorrer pela dificuldade que os eles encontram de se adaptar e aceitar as adequações que a atividade está exigindo, que não requer investimentos, apenas mudanças de conceitos.



Sendo assim, por que a área destinada á cana-de-açúcar aumenta? Devido ao fato de os produtores encontrarem dificuldade de mudança, e a cana oferecer uma renda interessante, com maior comodidade aos produtores.



Esse fato é muito interessante para a pecuária leiteira, pois restaram os produtores mais profissionais, e com uma visão mais empreendedora, tornando assim a atividade mais competitiva.
BRUNO DE JESUS ANDRADE

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

EM 11/06/2006

Aqui na região de Paranavaí (noroeste do Estado do PR), é observado a mesma tendência de ocupação da cana em detrimento de outras culturas, gado de corte e de leite. Ainda mais se considerarmos que em certas localidades dessa região a produção de leite é muito reduzida e rústica.



Acredito que os produtores de leite despreparados e sem tecnologia suficiente para aumento de sua produtividade, certamente sairão da atividade leiteira, enquanto que os mais tecnificados, em menores áreas conseguirão aumentar sua renda.
MICHEL FOUAD KHARLAKIAN

CATANDUVA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 03/06/2006

Concordo com a maioria dos comentários citados, e acrescento que, como produtor na região de Catanduva/SP, hoje a cana é bastante presente; como arrendamento, 80% da propriedade é destinada à usina. Em áreas que não favorecem o plantio e áreas próximas a riachos e brejos, produzimos leite com piquetes rotacionados.



Mas esbarramos na política do laticínio da nossa região, e acabamos vendendo o leite a um preço fora da realidade. O laticínio normalmente busca a matéria-prima fora do estado por ser mais barato, sendo que poderia fomentar os produtores locais.



Admiro muito a cadeia produtiva do leite, os meios de comunicação relacionados a esse mercado dão muita ênfase aos grandes grupos e faculdades, e mostram a realidade do produtor. Mas acredito que os professores das universidades, que também possuem papel importante nesse meio, deveriam ter uma maior ação dentro do setor. Gostaria que a maioria deles fosse como o Dr. Arthur Chinelato, da Embrapa; este sim está em sintonia com o produtor.



Analisando o setor de cana, percebo que é uma cultura que não exige muito esforço. Não preciso me preocupar tanto com o clima ou com os cuidados com a lavoura. Mas gostaria que os meios de comunicação ligados ao setor parasse de "mascarar" alguns fatos, como a remuneração, e falasse um pouco mais da relação custo-benefício da cultura.

MARCELO CORTE

UBERLÂNDIA - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 01/06/2006

Excelente material, os dados não mentem. Nossa obrigação, como técnicos ligados ao setor lácteo, é sempre trabalhar com planejamento a longo prazo. A seriedade do trabalho apresentado pelo Matozalém mostra que temos sim uma grande lacuna de crescimento e de lucros no setor leiteiro, percebida por muitos. Parabéns.
WALTER JOSÉ TRINDADE

OUTRO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 31/05/2006

Tenho 120 vacas, 95 em lactação (média anual) e uma produção de 2.000 litros de leite por dia. Meu custo é de R$.0,55 por litro, o mesmo valor, em média, que recebi durante o ano. O total do meu rebanho, desde recém-nascidas até animais adultos, gira em torno de 195 a 220 animais especializados em leite.



Posso garantir que esse já foi um bom negócio há três anos, quando minha margem por litro era de R$.0.15. Hoje, estou trabalhando com prejuízos e sei que enquanto a oferta for maior que o consumo continuarei tendo perdas. A única alternativa seria plantar cana, que parece ter melhor rendimento.
PAULO RAFAEL LEMOS AMARAL

UBERABA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 23/05/2006

Sou zootecnista e técnico do projeto Educampo em Uberaba-MG. Nesta região onde a bovinocultura leiteira, de forma geral, é extensiva, e a margem líquida por hectare é baixa, surge como alternativa o arrendamento de terras para o plantio de cana.



Me chama a atenção que grande parte dos produtores, quando entram no projeto Educampo, se surpreendem quando dimensionamos a área necessária para dobrar a sua produção atual de leite e que a área restante poderia ser usada para outros fins.



Isto aumentará a responsabilidade dos profissionais da área, cabendo a nós, técnicos de campo, escolhermos as medidas adequadas para promovermos o crescimento e principalmente a rentabiliade do produtor de leite.
ADILSON LUÍS GIACOMELLI

CATANDUVA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/05/2006

Tenho uma pequena propriedade de 21,5 alqueires, dos quais 20 é arrendado para a cana com pagamento de 40 ton/alq/ano. A outra parte está com 15 vacas de leite, 1 boi e alguns bezerros (média de 24 kg/dia). Este foi o modelo fundiário que adotei e acredito ser o mais factível para o futuro, ou seja, foi feito uma diversificação com renda.



Adicionalmente, tanto o leite como a cana geram rendas mensais. Vale ressaltar que muito embora a minha paixão seja vaca de leite, a cana-de-açúcar é mais rentável financeiramente. No entanto, penso que são atividades complementares (AFINS) e certamente é o modelo mais lucrativo atualmente.



Obs: a matéria diz em 10, 20 ou 30 ton/alq/ano para arrendamento. São muito poucas as usinas que pagam isto, a média geral é de 40 ton/alq/ano.
RENNER SILVEIRA GOMES

ITAPACI - GOIÁS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 18/05/2006

Sou veterinário e trabalho atualmente na região do centro-norte Goiano. Esta região dispõe de três grandes usinas e com estimativas de construção de mais algumas. O que ocorre aqui é que grande parte dos produtores, atraídos pela remuneração que as usinas oferecem, desprovidos de tecnologia para serem mais produtivos, além da falta de ações administrativas para com a propriedade, optam pelo arrendamento, acreditando ser mais viável econômicamente.



O que vejo para esta região é a tomada pelos canaviais em grandes extensões, podendo se estender do sul ao norte do estado, abrangendo áreas onde antes eram grandes produtoras de grãos, leite e carne. Os produtores "tendo" que ceder as terras para a usina, ofertam seus animais ao mercado, que muitas das vezes não consegue absorver ou os remuneram com preços muitos baixos.



Como eu, há diversos profissionais e empresas que dependem da pecuária ou são ligados diretamente a ela, e o número de produtores que deixa a atividade cresce a cada dia. De forma alguma sou contra as usinas e entendo perfeitamente sua importância para o país, mas por outro lado, grande parte de trabalhadores ligados a agropecuária podem estar sendo prejudicados, principalmente, no que se refere a geração de empregos.



Vejo que o caminho seria a criação de existência de políticas de proteção ao agropecuarista, favorecendo toda a cadeia envolvida de forma organizada. Assim, produtores e usinas teriam seu espaço conquistado sem interferir no outro.

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