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Multa ambiental

POR XICO GRAZIANO

ESPAÇO ABERTO

EM 28/11/2012

4 MIN DE LEITURA

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Controvertida penalidade, aplicada pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) contra uma propriedade rural, azedou a relação entre a agricultura e o meio ambiente. Caso típico de agenda negativa: afasta a colaboração, aposta no conflito.

A autuação ambiental pune a Fazenda Morrinhos, situada em Botucatu (SP), em valor astronômico, próximo de R$ 3 milhões. O motivo do discricionário ato reside na queima de 217 hectares, que sapecou a pastagem de braquiária juntamente com a vegetação de Cerrado na área, em estágio inicial de recuperação. Onde reside, então, a controvérsia?

Na origem do fogaréu. Tudo indica que as chamas vieram da rodovia entre Botucatu e Itatinga, que atravessa a fazenda. Tais queimadas, acidentais ou criminosas, varrem aquela região a cada período de seca, ameaçando o gado e as enormes plantações de eucaliptos ali existentes. Somente no último mês de setembro a Polícia Ambiental de São Paulo registrou cerca de 300 focos de incêndio naquelas paradas. Os laudos policiais, invariavelmente, constatam que o fogo se origina nas margens do asfalto e adentra as propriedades rurais. Nenhum caso se relatou como oriundo dos agricultores. A Cetesb, porém, acredita no contrário. Multou a fazenda como se ela tivesse riscado o fósforo.

A Fazenda Morrinhos está sendo vítima de seu próprio zelo ambiental. Amparada no Código Florestal, mantendo área preservada bem acima da exigida legalmente, tenciona expandir seus cultivos. E sabendo do perigo dos constantes incêndios, utilizou-os como argumento para solicitar autorização visando a suprimir a vegetação rala daquela área mais vulnerável. Naquele trecho, o mato alto e a pastagem seca viram pólvora para transeuntes desavisados ou mal-intencionados.

Na sequência da solicitação pública, formou-se um imbróglio jamais esclarecido. Vistorias, exigências, laudos, pareceres, burocracia rolavam, enquanto o capim se avolumava. Remanescentes da vegetação do Cerrado cresceram. Vários incêndios voltaram a queimar pedaços da área, apagados pelas brigadas das empresas Eucatex e da Duratex. Em todas essas situações, a Fazenda Morrinhos lavrou boletins de ocorrência (B. Os.) na Delegacia de Polícia de Botucatu, enviando cópias, acompanhadas de fotografias, à Cetesb. Ignorados eram os alertas sobre a necessidade de rápida definição. Nada acontecia.

De repente, passados dois anos, chegou a notificação da salgada multa. O crime: incêndios passados, que a própria fazenda, anteriormente, comunicara. Nesse período, o técnico da Cetesb que acompanhava o assunto modificou o seu laudo de vistoria. No primeiro, datado de 2/12/2011, opinara que "... o fogo nesses trechos muito provavelmente se deu em função da proximidade da rodovia, da ferrovia e do acampamento dos sem-terra...". Depois, o mesmo profissional escreveu ter havido uma "forma deliberada de supressão da vegetação". Alterou, sem justificativas, seu próprio parecer.

Queimadas sempre motivaram litígios no campo, principalmente em áreas canavieiras. Fica difícil, quando pega fogo, saber qual a origem, se malandra, criminosa ou acidental. Vendetas trabalhistas, ou políticas, podem virar labaredas. Aos olhos do órgão ambiental, no entanto, a responsabilidade pela queimada recai sobre o proprietário rural. Ele que prove o contrário.

Com o protocolo do Etanol Verde, implementado pelo governo estadual a partir de 2008, um ajuste de conduta socioambiental se firmou no setor sucroalcooleiro, estabelecendo regras e incentivos para a redução das queimadas. Nesse contexto, definiram-se procedimentos mais sólidos, substituindo-se o embate pela cooperação. Ganharam todos.

A prática do fogo na agricultura, seja na colheita da cana, seja na limpeza de pastos, assusta com ares medievais a população. Entre os ecologistas, então, fogo na roça se assemelha ao bicho-papão. No conservacionismo mundial, porém, o manejo sustentável de áreas florestadas inclui o fogo controlado no controle de grandes queimações. É paradoxal, mas funciona, como uma vacina. Na Califórnia, por exemplo, o magnífico Parque de Yosemite queima regularmente a serapilheira (vegetação baixa, mais folhas e galhos caídos) em certos locais, evitando que a massa orgânica se avolume demais e, ficando seca, se torne uma ameaça de incêndio incontrolável. Curiosamente, os experimentos silvícolas mostraram que a queima regular favorece a germinação de sementes das magníficas sequoias.

Não se justifica, portanto, nem ecologicamente pensando, o temor exagerado contra o fogo. Embora seu rastro seja negro e feioso, em pouco tempo as cinzas fertilizam a vida, tal qual opera a natureza há milhões de anos. Muito mais grave, para a humanidade, é a contaminação química que os produtos industriais trazem para as águas do planeta.

Tais fundamentos agroecológicos justificavam o pleito da Fazenda Morrinhos, que, enquanto aguardava a autorização para cultivar a terra, queria permissão temporária para colocar gado na área. O pastejo dos bovinos abaixa o capim seco e reduz o potencial de fogo. Nada conseguiu. Resultado: vieram as queimadas e quem acabou culpado foi o agricultor. Ao protocolar recurso contra o absurdo ato, seu advogado descobriu que as fotos e cópias de B. Os. enviados ao governo nem anexados estavam ao processo. Sumiço kafkiano.

A Cetesb encontra-se entre os cinco principais órgãos ambientais do mundo. Sua gestão, modernizada no governo de José Serra juntamente com a descentralização e a unificação do licenciamento, não pode regredir aos velhos métodos. Perde eficiência, ganha desconfiança. Rigor na defesa do meio ambiente não se confunde com embromação.

Matéria veiculada pelo jornal O Estado de S.Paulo

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JOSÉ ANÍBAL DO AMARAL

ITAPERUNA - RIO DE JANEIRO - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 03/12/2012

O total dispreparo dos funcionários dos orgãos ambientais atrelado ao exagêro de ambientalistas de um livro só é que tem causado grande injustiça no campo citamos alguns exemplos: a reforma agrária em um pais que apesar de extremamente agrícola não tem uma política agrícola definida, onde o MST recruta moradores da periferia das cidades sem conhecimento de agricultura para "ganhar" terras do governo promovem queimadas e plantios sem assitência técnica causando verdadeiros desastres ambientais, em um pais onde  grande  parte do solo agricultavel está em clima tropical observamos muitos agricultores (às vezes orientados) fazem aração do solo e o pior que em topografia acidentada essa operação é realizada de morrro abaixo e é até engraçado pois aos olhos dos fiscais dos orgõas ambientais passam desapercebido, isso deveria dar cadeia pelo dano ao meio ambiente ao passo se o produtor derrubar uma árvore, mesmo que ele plante 10 vai preso. Isso mostra o total dispreparo dos funcionários na aplicação da lei.

Sou engº agrº c/ especialização em ed. ambiental ne gestão territorial com 36 anos de experiência em extensão rural.
PEDRO PORTO

VASSOURAS - RIO DE JANEIRO

EM 29/11/2012

        Situacao complicada a das queimadas em nosso pais. Seja ela natural, acidental ou intencional(criminosa). Acho que cada caso deve ser analizado unilateralmente e cuidadosamente.

Oa orgaos ambientais por sua vez, com seus "funcionarios", que  as vezes desconhecem nao so a legislacao, como nao saber agir com as diferentes situacoes.

Discordo com o autor, ao citar o uso de fogo em outras nacoes, que nada tem haver com os problemas do Brasil .Situacoes totalmentes distintas da nossa realidade ,onde o fogo ainda e usado como na era do "vovo" (ateado indiscriminadamente), com inicio ,porem, sem fim.Este fim, varias vezes, foi a minha propriedade.

As queimads tem que ser banidas de nosso meio urgentemente, doa a quem doer!

Nao pode ser mais  tolerada, pois nao soma nenhum beneficio nem a terra nem ao ar.

O unico beneficiado, e o egoista, ou criminoso que quer construir sem investir, pouco se preocupando em pelo menos fazer aceiros e controlar o "seu fogo".

Tudo ainda a "moda medieval".

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