Janeiro é a época mais agitada para os eventos no setor de gelateria. Isso porque é inverno nos países mais interessados no assunto e os profissionais da área estão com as lojas fechadas ou no momento mais fraco de vendas do ano. Assim, sobra tempo para se reunir com outros profissionais e frequentar feiras.
A maior e mais importante feira do setor é a Sigep, em Rimini, na Itália. É onde todos os lançamentos e novidades geralmente são vistos, e também onde são realizados os principais concursos, como a Copa do Mundo de Gelateria e a tão esperada classificação das melhores gelaterias da Itália, publicada pelo guia Gambero Rosso (um equivalente italiano do Guia Michelin).
Na edição deste ano, o que achei mais interessante foi uma nítida divisão entre sorvetes que buscam ser saudáveis, usando bebidas vegetais, pouco açúcar e pouca gordura (encontrei até sorvetes feitos com leite de jumenta e camela), contrastando com gelatos nitidamente artificiais (e que nem tentam vender o que não são). Não foram poucos os sabores unicórnio, arco-íris e tantos outros gostos fantasiosos nas cores mais vibrantes e variadas. Eu, que sempre defendo o uso de ingredientes naturais, quase estranhei minha falta de indignação perante sabores deste tipo.
Continuo achando que o caminho é outro, mas me agride bem menos um sabor claramente artificial do que tantos industriais que tentam vender a imagem do natural. A diferença está na honestidade da proposta. Acho que com isso podemos lidar. Quem não liga em consumir corantes, aromatizantes e conservantes, tomará o sorvete tranquilamente e quem quer evitar estes ingredientes perceberá claramente que deve passar longe.
Mas o grande destaque da ocasião foi sem dúvidas o chocolate ruby, uma nova variedade descoberta pela gigante belga Callebaut. Amêndoas de cacau naturalmente mais avermelhadas são separadas e um chocolate rosado, com leve acidez e sabor de frutas vermelhas, nasce delas. O chocolate ruby era onipresente nos estandes da feira, na forma de sorvete, como calda, em bolos, em fontes de chocolate e muitos outros produtos. A graça é justamente o fato de que a cor linda e o sabor único são dados pelo cuidado tomado com a matéria-prima e com o processo todo de produção, que têm um resultado 100% natural.
Na Sigep deste ano, ficou clara a divisão entre sorvetes que buscam ser saudáveis e gelatos nitidamente artificiais. Foto: Gabriela Biló/Estadão
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Artigo de Márcia Garbin é mestre-sorveteira, dona da Gelato Boutique, para o Paladar, do Estadão.