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Investir em pesquisa é investir contra a fome

ESPAÇO ABERTO

EM 28/01/2003

4 MIN DE LEITURA

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Por Sergio Raposo de Medeiros1

Início de ano, novo governo, vida nova. Expectativas de melhoras afloram nos diversos segmentos da sociedade. Especificamente para a agropecuária, há motivos para otimismo.

A prioridade de levar a fome à nulidade no país, abre espaço para um tratamento de destaque ao setor que produz alimentos. A natural preocupação quanto a que o velho fantasma do populismo e do voluntarismo persista e, mais uma vez, o produtor rural ter que bancar parte do programa via, por exemplo, controle de preços, parece ser menor do que a de outros tempos. O sinal de maturidade alcançado, demonstrado no último processo eleitoral e no processo de transição, e a sensível melhora no entendimento do papel do Estado pela classe política, parecem justificar essa tranqüilidade.

No agronegócio, incluindo desde o mais humilde assentamento até os grandes empresários, a condição ambiental ideal é a da estabilidade das regras e o melhor insumo continua sendo o lucro. O lucro pode aumentar basicamente de duas maneiras: preços maiores pagos pelo produto ou pela redução de custos. No caso de combate à fome, portanto, temos que perseguir este último com determinação. Reduzir o "custo Brasil" terá grande impacto, mas além disso há uma outra maneira bastante inteligente de reduzir custos: aumentando a eficiência de produção. Neste ponto, a pesquisa agropecuária já prestou enorme serviço ao país. Para todos os principais alimentos produzidos no Brasil, os preços reais caíram significativamente nas últimas décadas. E isso é fruto de grandes avanços no conhecimento sobre as atividades rurais, associado à transferência deste conhecimento e seu uso pelos produtores. Enfim, um esforço conjunto da sociedade. Apenas com transferência de tecnologia, há um imenso potencial de aumento de eficiência e produção, ambos fatores de redução de custos de alimentos.

Na pecuária, a distância entre o que o conhecimento atual permitiria produzir e o que, na média, se produz é muito grande. Ainda que uma boa parte deste abismo não ocorra exatamente pelo desconhecimento da tecnologia, mas a falta de coragem em investir (e aí entra a falta de estabilidade nas regras como um elemento desencorajador) ou outros fatores, investimentos em transferência de tecnologia devem resultar em ganhos rápidos e certeiros em eficiência. Há tanta convicção quando aos ganhos com essa estratégia que, mesmo alguns pesquisadores, defendem que o investimento na geração de novas tecnologias deveria ser colocado em segundo plano. Essa é uma idéia assustadora, que tem paralelo com o dono da galinha dos ovos de ouro que, para matar a fome, faria uma boa canja com ela. A pesquisa é, sim, como uma galinha de ovos de ouro. Mas é uma galinha exigente: depende de investimentos fortes e constantes, especialmente em formação e reciclagem de mão de obra em todos os níveis e em ampliação e manutenção de estrutura. Mas, ao contrário dos ovos de ouro, cujo valor se encerra em si mesmo, os avanços permitidos pelo domínio do conhecimento científico ultrapassam o valor intrínseco pontual das descobertas, uma vez que possibilita ocorrer novos avanços, de maneira sinérgica e irradiadora. Quanto mais conhecimento gerarmos, mais fácil será fazer novas descobertas. Quanto mais compartilhamos o conhecimento, mais ele aumenta.

A aproximação da pesquisa do setor privado é algo extremamente desejável, tanto do ponto de vista de agilizar e garantir que o conhecimento seja efetivamente materializado, como do ponto de vista do comprometimento dos cientistas com a problemática real da atividade. Há, entretanto, aqui duas generalizações perigosas: 1) o pesquisador deve resolver apenas questões levantadas pela prática; e, 2) seus esforços devem ser voltados prioritariamente aos menos capitalizados. Quanto a primeira generalização, é desejável que a pesquisa preserve uma parte menos utilitária, pois é neste espaço que avanços revolucionários têm mais chance de ocorrerem e são esses cujas recompensas são maiores. No caso da pesquisa para os menos favorecidos, é evidente que há, também, espaço para o desenvolvimento tecnológico para pequenos produtores, mas, na maioria das situações, a transferência tecnológica já é suficiente para resolver os desafios deste segmento. O importante é não deixar o investimento em tecnologia refém de idéias pré-concebidas, mas fazê-lo em atividades que possam gerar a maior riqueza possível para o país. Primeiro, porque mesmo tecnologias voltadas para o mercado, podem ser vantajosas para vários segmentos da sociedade, como já mencionado no caso da redução dos preços dos alimentos. Também, porque pode estar beneficiando toda a sociedade indiretamente, seja através da economia de divisas, seja pelos impostos cobrados sobre os ganhos auferidos ou, ainda, por gerar melhor qualidade de vida (como, por exemplo, menor erosão dos solos, menor contaminação do ambiente, etc.) e cujos ganhos, por serem difíceis de serem contabilizados, raramente o são. Ou seja, a pesquisa não é a melhor ferramenta para promover distribuição de renda, mas uma grande ajuda.

Para a pecuária de corte há grandes desafios a serem vencidos pela pesquisa (sanidade, rastreabilidade, tipificação de carcaças, etc.). Limitando-se à área de produção, o grande desafio se resume em estabelecer sistemas de produção de máxima eficiência biológica que, ao mesmo tempo, produzam um animal em seu estado ideal de acabamento, garantindo um produto homogêneo e que satisfaça o mercado consumidor. Note-se que não é a busca de um sistema único, mas sistemas diferentes que permitam que os produtos finais convirjam para os nicho de mercado disponíveis. Este é um bom exemplo de investimento em pesquisa que atende interesses de todos os segmentos, pois possibilita a redução de custo por unidade de produto e aumenta o mercado para a carne bovina, incluindo o mercado internacional, do qual a liderança brasileira deveria ser considerada, muito além de uma conquista, uma obrigação, face as nossas vantagens competitivas.

Com os ovos de ouro da pesquisa, podemos ajudar muito o Brasil a ter menor dependência externa, maior competitividade nos mercados internacionais e conseguir, mais facilmente, criar condições de vida digna, para que, um dia, o combate contra a fome seja uma lembrança triste do passado.

__________________________________
1Sergio Raposo de Medeiros, Pesquisador da Embrapa Gado de Corte - Nutrição de Ruminantes

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