A Embrapa Gado de Leite participa do IFCN desde 2001 e coordena os trabalhos da Rede no Brasil. Atualmente são 49 países membros. Os resultados a seguir resume parte de informações consolidadas àpartir da 12ª conferênciaanual do IFCN.
Crescimento da produção mundial de leite
No período 2005-2010, o IFCN tem observado taxas de crescimento, que tem variado entre 0,8 - 3,0% equivalente a 5-19 milhões de toneladas de leite ECM (padrão de correção de energia, correspondente a 4% de gordura e 3,3% de proteína). Com base em dados de 49 países, estima-se que a produção de leite no primeiro semestre de 2011 cresceu a uma taxa alta, de 3%.
Preço mundial do preço ao produtor
A Figura 1 compara a evolução do preço brasileiro, convertido em Dólar Americano, com a referência do preço mundial. O indicador de preços do leite IFCN, que tem por base os preços do leite em pó e da manteiga.
Observa-se que o Brasil apresenta variações com tendências bastante similares a do mercado internacional, o qual se caracteriza por intensa volatilidade de preços a partir de 2006. Com reflexos até o presente (Setembro de 2011), esta evolução do preço mundial apresenta três fases distintas. A primeira, até 2006, o preço mundial se situava numa faixa histórica, de US$ 11-25 / 100 kg de leite.
A segunda ocorreu a partir de novembro de 2006 e, nos 38 meses que se seguiram, os preços passaram a ter um comportamento mais volátil num intervalo entre US$ 30 e US$ 53 / 100 kg leite. Com esta mudança no nível de preços no mundo, a sua volatilidade tem afetado os preços de leite de outros países. Na maioria dos casos o preço mundial do leite é o driver mais forte para os preços do leite local.
A terceira começa em novembro de 2009 quando temos visto preços em alta, mas relativamente estáveis em um nível médio US$ 45 dólares, com variação de US$ 8 para mais ou para menos.
No caso brasileiro, esta ´sincronia´ e baixa variabilidade do nosso preço com o preço referência internacional pode ser também em razão da política de comércio exterior, de forma que, desde 2009, praticamente não estamos sujeitos às flutuações de preços lá fora em função dos impostos de importação e licenciamentos não automáticos, que dificultam a entrada de produto.
Fonte: IFCN 2011; CEPEA 2011.
Figura 1. Evolução do preço do leite ao produtor: Brasil versus estimativa do preço mundial, convertidos em US$ por 100 kg (ECM).
A valorização do Real ante o Dólar corroeu a competitividade do leite brasileiro. Com valores em Dólar, no primeiro semestre de 2011, o Brasil historicamente experimentou um preço médio ao produtor dentre os países considerados de preços altos, acima dos US$ 50 por 100 kg de leite.
Em Real, as médias anuais dos preços do leite no Brasil tiveram variação menor, de aproximadamente 10% nos últimos quatro anos, indicando a influência do câmbio nos preços convertidos em Dólar.
Custos do Leite no Mundo em 2010
Um dos estudos IFCN é a comparação anual de sistemas típicos de produção de leite entre as diferentes regiões do mundo que, em 2011, analisou 157 sistemas.
Para simplificar, os sistemas foram agrupados de acordo com 8 grandes regiões. A Figura 2ilustra, na forma de médias, produtividade e custos de produção.Em termos da produtividade, os sistemas típicos podem ser classificados em 3 grupos:
(1) Alta produtividade - acima de 8 mil kg de leite/vaca/ano - em países da Europa Ocidental, Oriente Médio e América do Norte;
(2) Produtividade mediana - entre 4 a 6 mil kg/vaca/ano - no Leste Europeu, América do Sul e Oceania; e
(3) Produtividade abaixo dos 4 mil kg - na Ásia e África.
Fonte: Conferência IFCN 2011.
Figura 2. Média dos custos de produção do leite em 2010 e níveis de variação, agrupados em oito diferentes regiões. Em US$/100 kg de leite ECM.
O indicador de custo de produção é definido pelo conceito do custo econômico. Tecnicamente, consiste no seguinte: custo operacional efetivo da atividade leiteira mais os custos de oportunidade dos recursos próprios (mão de obra, terra e capital imobilizado) menos os retornos não leite (bezerros, descarte de vacas e outros) e de subsídios diretos.
Os resultados da Figura 3 mostram uma perspectiva global dos custos de produção do leite.São médias obtidas com base nos 157 sistemas de produção típicos, dos 49 países considerados representativos de 90% da produção do leite de 2010.
Fonte: Conferência IFCN 2011.
Figura 3. Média dos custos de produção do leite em 2010 e níveis de variação, agrupados em oito diferentes regiões. Em US$/100 kg de leite ECM.
Em cinco regiões a média dos custos ficou entre US$ 30 e 35 por 100 kg de leite: África, Leste Europeu, América do Sul, Ásia e Oceania.
Na Europa Ocidental, América do Norte e de países do Oriente Médio são regiões em que ainda se observa os custos mais altos, acima de US$ 45 por 100 kg de leite (ECM). Os sistemas de produção nessas regiões se caracterizam particularmente por modelos de produção com grandes fazendas, altas produtividades por vaca e confinamentos. O que vem se observando, contudo, é a existência de sistemas de produção capazes de produzir ao redor dos US$ 35.
Dos resultados desta última conferência do IFCN, começa a ficar mais evidente a constatação de que existe uma tendência de convergência dos custos de produção. Numa perspectiva global, dois pontos podem ser destacados:
(1) Países que, historicamente, eram classificados como de baixo custo tendem a apresentar custos maiores. É o caso do Brasil, por exemplo.
(2) Alta produtividade e grandes fazendas não necessariamente apresentam custos menores. Nessas situações, geralmente os preços são também mais altos.
(3) O surgimento de sistemas com custos em nível médio (sistemas com custos abaixo dos US$ 35, em 2010), em países historicamente classificados como de custos altos, como Estados Unidos e Europa Ocidental.