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Foco no lucro

ESPAÇO ABERTO

EM 16/08/2004

7 MIN DE LEITURA

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Por Fernando Enrique Madalena1

Se o que interessa ao produtor de leite é obter lucro e boa rentabilidade do capital investido, então o sistema de produção tem que ser pautado apenas nesses parâmetros..

É verdade que nem todo mundo tem fazenda para ganhar dinheiro. Alguns a tem para lazer, outros para driblar o fisco, outros pelo ambiente para criar a família, e outros como meio de subsistência. Mas o denominador comum à maioria dos proprietários, grandes ou pequenos, é que eles querem ganhar dinheiro com o investimento realizado. Em conseqüência, o único critério válido para se avaliar a atividade rural é o desempenho econômico, auferido pelo lucro e pelo retorno do capital investido. Todo o mais, se as vacas dão muito ou pouco leite, se a produção por hectare é alta ou baixa, se se usa ou não uma máquina determinada, tudo isso são apenas indicadores técnicos, importantes, sim, mas apenas indicadores, do desempenho econômico. O que vale mesmo é lucro e rentabilidade.

Pois apesar disto ser tão óbvio, é freqüentemente ignorado. Outro dia li um trabalho holandês, baseado nos custos de produção de 700 fazendas. Quando Evandro Holanda, na época meu orientado, foi à procura de literatura brasileira ao respeito, achou dados de só 7 fazendas, nas que baseou o seu artigo "Leite caro não compensa". Alguma razão deve haver para que num país como o Brasil, com amplos recursos para pesquisa, não apareçam os dados econômicos que interessam. Da nossa parte, como acreditamos ser a transparência o melhor caminho para o diálogo, temos procurado incluir os aspectos econômicos nos Encontros de Produtores de gado Leiteiro F1. "Las cuentas claras y el chocolate espeso", dizem os espanhóis.

Estes Encontros são realizados de dois em dois anos, e já vamos para o 50 (clique aqui para ver o programa). De início, a motivação era falar do cruzamento F1 de Holandês x zebu leiteiro, o da primeira geração, que as pesquisas da nossa equipe na EMBRAPA tinham mostrado ser o mais econômico nas condições de produção prevalecentes na Região Sudeste, em decorrência da heterose cumulativa nas várias características que determinam o lucro do gado leiteiro. Mas a platéia pediu, e foi atendida, que outros temas relativos à produção econômica de leite fossem também abordados. Assim, neste encontro, além de ponderarmos o que se sabe e o que não se sabe sobre F1, o Dr. Roberto Teodoro, da EMBRAPA, apresentará avaliação econômica de cruzamentos de Jersey ou Pardo Suíço x Holandês/Gir, mostrando que o cruzamento Jersey x Holandês/Gir está plenamente justificado para quem não aproveita os machinhos, já que o lucro por dia de vida útil foi 53% maior que no cruzamento de Holandês/Gir.

Um outro assunto de grande interesse é o nível econômico de suplementação com ração. Este assunto é muitas vezes discutido com radicalismo, até apelando. Outro dia declarei a uma revista que "Somente os países do Primeiro Mundo podem se dar ao luxo de tratar o gado leiteiro com altas quantidades de ração porque subsidiam pesadamente a produção" e me citaram em outra, com grande destaque, mas tirando as altas quantidades, o que deturpa totalmente a frase. Tratar com altas quantidades de ração é antieconômico para a imensa maioria dos produtores de leite. Aí embaixo, na seção Radar Técnico, está citado o experimento do Dr. Duarte Vilela e colaboradores, onde vacas Holandesas comendo capim + 3 kg de concentrado produziram 25% menos leite, porém deram 30% mais margem bruta, que as que comiam ração completa. Tratar com ração se justifica em muitas circunstâncias, mas o que interessa é saber quanto e quando. Foi injusta a deturpação, porque há 40 anos que compreendi, lendo os trabalhos de Heady e Dillon, de Iowa, que cada sistema de produção tem seu nível ótimo de concentrados, e por isso, no meu relatório final a EMBRAPA, de 1982, do projeto de assistência técnica da FAO/PNUD que dirigia, a minha primeira recomendação foi de "incluir estudos sobre os níveis mais econômicos de utilização de alimentos concentrados". Até hoje esses estudos não foram feitos na extensão requerida, e em vez de discutir com base em resultados reais brasileiros, se prefere usar argumentos teóricos, adjetivos, exemplos inventados e até plagio de trabalhos de outras realidades. Por isso teremos grande satisfação em assistir, no 50 Encontro, à palestra do Dr. Firmino Deresz, que com a sua equipe, na EMBRAPA, são dos poucos que pesquisam sobre o assunto. À sua conclusão anterior, que 1 kg de ração aumenta apenas 0,6 kg de leite em vacas em pastejo intensivo, acrescentam agora resultados sobre o efeito na reprodução. Com esses dados se pode fazer a conta de se vale ou não a pena suplementar, de acordo aos preços do leite e da ração.

Que ordenhando com apojo as vacas dão mais leite, é bem sabido, inclusive por resultados brasileiros. A novidade que o Dr. Fabiano Junqueira acrescentou, na sua dissertação de mestrado na UFMG, conduzida na Fazenda Calciolândia, foi auferir os tempos despendidos no apojo e no aleitamento artificial. Verificou que estes tempos foram semelhantes, de forma que ordenhar com apojo nos dois primeiros meses da lactação resultou em margem bruta de R$ 106 por vaca a mais que ordenhar sem o bezerro.

A pesar do que se propala, sem dados, que os sistemas devem ser especializados, os poucos resultados existentes sugerem exatamente o contrário. Assim, o Dr. Augusto Cezar Moraes, que também apresentará os resultados da sua dissertação de mestrado na UFMG, sob orientação da Profa. Sandra Gesteira Coelho, mostra que um rebanho leiteiro F1, da EPAMIG, teve, em 2002 e 2003, respectivamente, lucros de 0,094 e 0,256 R$/litro de leite, dos quais nada menos que 25% correspondiam aos bezerros vendidos a desmama. Outros resultados do rebanho da EPAMIG, inclusive sobre custo da recria de novilhas com diferentes suplementos proteinados, serão apresentados pelo Dr. José Reinaldo Mendes Ruas.

Uma característica marcante dos nossos Encontros é a participação de produtores, pois queremos aprender com eles as dicas do sucesso. Por isso, porém, só convidamos quem lucra com o leite, que para ensinar a perder dinheiro tem palestrante de sobra por aí. Este ano virão Hélio e André Braga Alvim, que aplicam o sistema de F1 na sua Fazenda São Sebastião, na Zona da Mata de Minas Gerais, o Dr. Maurício Coelho, que pratica com êxito programa de produção com mestiças em Passos, MG, representantes da firma de assistência técnica PRODAP, com exemplos de produção econômica com gado mestiço e representantes da Cooperativa de Unaí, que está executando programa de produção em larga escala de novilhas F1 por meio da TE. O Dr. Ronaldo Lazzarini Santiago, da Colonial Agropecuária, informará sobre os resultados que vem sendo obtidos no projeto NeloGir, surgido da idéia do Dr. Gabriel Donato de Andrade de se aproveitar parte da grande população Nelore para absorvê-la com Gir e outras raças de zebu leiteiro, cuja expressão numérica é muito reduzida face à demanda por F1. Ricardo Ventura, mestrando da UFMG e laticinista, virá dar algumas "dicas" de como os pequenos e médios laticínios podem entrar no jogo. Quem sabe esta não venha a ser uma saída para certos produtores, aqueles com condições, de melhor defenderem o seu trabalho?

Os aspectos de fomento também têm espaço nos nossos encontros. Minas Gerais teve a sabedoria de manter, por mais de uma década, e em diferentes governos, na Secretaria da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e seus órgãos, a EPAMIG e a EMATER-MG, uma visão de pesquisa, extensão e fomento pecuário realista, baseada nos sistemas de produção econômicos, que desembocou no PROPEC, um programa de crédito subsidiado para produção e aquisição de fêmeas F1, com participação dos bancos de fomento. O Dr. Elmer Almeida, da EMATER-MG, informará sobre o andamento desse programa.

Cada vez mais técnicos em Minas Gerais vêm se preocupando com o lucro na produção de leite, na Secretaria, na EMBRAPA, nas assessorias privadas, na UFU, na UFMG, dentre outras, e na PUC-Minas, que desta vez hospeda o evento. Mesmo tendo um dos melhores rebanhos de Holandês do Estado, eles tiveram que aceitar a realidade econômica e partiram para um programa de cruzamento F1, que será explicado pelo Prof. Miguel Alonso Valle. Nos últimos anos, muitos outros também têm encontrado na produção de novilhas F1 uma tábua para sair do vermelho.

Em fim, fique quem quiser com a problemática do leite caro; por aqui preferimos a "solucionática" - como diz o Rei Dadá- para a realidade do produtor, e vamos caprichar nessa pauta antes que o leite saia também destas bandas. É isso aí. Produtor, olha o bolso: foco no lucro.

___________________________________________________________________
1 Professor da UFMG

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PAULO ROBERTO VIANA FRANCO

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 18/09/2004

Nós representamos o programa PROLEITE, da Prefeitura de Juiz de Fora, e a grande preocupação é com cruzamentos desordenados entre matrizes mestiças com Nelore, sem planejamento e/ou acasalamento, mas no futuro irão aproveitar essas fêmeas como matrizes produtoras de leite, com conseqüências desconhecidas. A divulgação do uso de F1 deveria ser mais esclarecida, para não confundir nossos produtores. Há 10 anos estamos pregando que o importante é a vaca dar lucro e/ou o negócio dar lucro, pois leite todas dão, não importando o sistema de produção.
EDINALDO BRASIL TEIXEIRA

SALVADOR - BAHIA - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 26/08/2004

Acredito que a alimentação de vacas leiteiras possa ter um meio termo, usando subprodutos (Casca de frutas, resíduo de cervejaria, raspa de mandioca, farelo de trigo e refinazil) e pasto bem adubado com pastejo rotacionado.

Edinaldo Teixeira
CLEBER MEDEIROS BARRETO

SOBRAL - CEARÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 18/08/2004

É preciso convicção e clareza de ação e idéias para provocar mudanças positivas no setor leiteiro brasileiro. O que realmente interessa é a rentabilidade da atividade leiteira ou de qualquer outra. Quando iniciou-se os Encontros de Produtores de F1, as novilhas tinham um mercado bem mais modesto do que o atual. Portanto, a pesquisa deve estar a serviço dos produtores e os bons resultados econômicos e zootécnicos gerados por ela devem benficiá-los, como no caso da F1. Qualquer outra alternativa que se tenha para que os produtores de leite sejam eficientes (rentabilidade e sustentabilidade), como os resultados mais recentes de avaliações econômicas da Embrapa para outros cruzamentos, precisa mostrar viabilidade econômica, justificando mais trabalhos nesta área. No mais, "é preciso que alguém fale com firmeza e embasamento científico sobre as melhores alternativas para produção rentável de leite, como faz o Prof. Fernendo".
JOSÉ MAURÍCIO DE SOUZA CAMPOS

VIÇOSA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE OVINOS

EM 17/08/2004

Meu Querido Professor Madalena,

Parabenizo pela determinação com que o Sr. defende suas idéias. Entretanto, acredito que as Instituições Públicas à semelhança das nossas Universidades, Empresas de Pesquisas e de Extensão devem desenvolver seus trabalhos no sentido de dar oportunidade a todos e não de estabelecer situações excludentes.

Tenho tratado este assunto "opções genéticas" da forma que aprendi com o senhor no meu curso de Doutorado. Naquela época fui presenteado pelo senhor com seu trabalho "La utilización sostenible de hembras F1 em la producción del ganado lechero tropical" e no capítulo 1 o senhor conceitua como Sistema de Produção " um conjunto de decisões e normas técnicas aplicadas ao uso dos fatores produtivos, trabalho, terra e capital, para obtenção de determinado produto, neste caso os provenientes do gado leiteiro". Eu acrescentaria a este conceito que ele deve ser ainda sustentável, e que o seu desempenho econômico permita que o produtor e sua família vivam dignamente da atividade.

Na avaliação do desempenho econômico a variável que deve ser considerada não é o custo de produção por litro de leite, mas a taxa de retorno do capital com a terra. Não adianta ser eficiente e pobre.

A pecuária de leite continua passando por profundas transformações, que se iniciaram nos anos 90, obrigando a todos reverem diariamente seus conceitos.

Dentro destas transformações não acredito que o desafio seja fazer um produtor que apresenta capacidade de explorar 100 vacas F1 viver dignamente da atividade, o grande desafio é fazer os milhares de pequenos e médios produtores sobreviverem dentro do contexto atual da nossa pecuária de leite. Assim, na minha modesta opinião, este assunto não pode ser considerado dentro de um conceito único. São também dignos, inteligentes e merecem o respeito aqueles que procuram enfrentar estes desafios.

Pobres serão aqueles que acreditam que só existirá um modelo de sistema de produção de leite no Brasil. Dentro do conceito de sistema de produção de leite não cabe ainda, no Brasil, discussões conclusivas se o sistema deve ser a pasto ou confinado; se deve explorar raças puras de clima temperado, ou um determinado tipo de cruzamento. São estas várias situações que se apresentam que fazem da pecuária de leite, sem dúvida nenhuma, uma das atividades mais interessantes para desenvolvermos nossos trabalhos de ensino, pesquisa e extensão.

A utilização de fêmeas F1, que o senhor com a sua competência, determinação, e persistência defende, deve ser avaliada com uma opção no sentido de ajudar a resolver as grandes dificuldades que nos pesquisadores e produtores de leite temos que enfrentar no Brasil. Mais uma vez parabenizo-o e desejo sucesso no V Encontro.
Aqui em Viçosa continuo trabalhando.....


Abraços do seu sempre aluno,


José Maurício de Souza Campos.
Professor de Bovinos de Leite - DZO/UFViçosa


<b>Resposta do autor</b>

Meu caríssimo José Maurício,

Muito obrigado pela sua mensagem. Sempre lembro com afeto as nossas discussões, você mais que um aluno foi um amigo dileto que em muito enriqueceu a nossa concepção da pecuária. Você tem toda razão quanto a pauta, e na verdade a nossa é mais ampla. O lema do 4o Encontro foi "Leite à la mineira, econômico, ecológico e social" e esse foi também o enfoque no livro Produção de Leite e Sociedade, mas neste momento achou-se mais conveniente centrar o Foco no Lucro. Exatamente por isso, para não tirar o foco, não gostaria de dicutir nada que tenha adjetivos o conotações emocionais. Seja rico ou seja pobre, o produtor tem que lucrar. Pode ser con gado confinado, a pasto, da raça que quiser, mas tem que ganhar dinheiro com a atividade. Nós apenas mostramos algumas maneiras de faze-lo. Se ha outras, ótimo, mas que se mostre o desempenho econômico.

Venha abrilhantar o encontro e com certeza discutiremos muito mais. (Olha que você também era determinado, hein).
Um grande abraço,

Fernando

LEOVEGILDO LOPES DE MATOS

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 16/08/2004

Parabéns Prof. Madalena. Mais claro e direto, impossível. Quanto ao encontro, nossos técnicos e produtores deveriam fazer o possível e o quase impossível para participarem.
Abraços,

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