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Filmes de horror : mistérios do fim do ano

POR MARCELLO DE MOURA CAMPOS FILHO

ESPAÇO ABERTO

EM 26/12/2003

6 MIN DE LEITURA

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Nesse final do ano, o produtor de leite já vinha assistindo um filme de horror, cujo enredo mostra grande redução dos preços pagos ao produtor enquanto os preços dos insumos que utiliza subiram significativamente.

E de repente, como uma bomba, estoura o caso da Parmalat, e um novo filme de horror entra em cartaz.

A multinacional italiana, Parmalat, que em 2002 faturou US$ 9,1 bilhões, em dezembro de 2003 não honrou o vencimento de uma dívida de US$ 180 milhões. As dívidas da empresa estão avaliadas em US$ 6,2 bilhões, mas a imprensa italiana especula que o rombo pode chegar a US$ 10 bilhões. Se descobriu que os fundos da Parmalat estavam sendo aplicados num emaranhado de fundos estrangeiros e empresas ocultas. A situação da Parmalat se complicou dia 18 de dezembro, quando a empresa admitiu que o Bank of America declarou inexistente uma conta de investimentos da ordem de 3,95 bilhões de euros, que ela afirmara possuir em setembro. Segundo o banco, a carta que atestava que a empresa possuía esse recurso fora falsificada. O caso está sendo investigado por promotores de Parma e Milão. A promotoria italiana afirmou que vai investigar o fundador e ex-presidente da empresa, Calisto Tanzi, juntamente com outros 20 executivos. Essas notícias foram veiculadas em jornais e revistas brasileiros.

Já vimos um filme de mistério parecido com esse: o caso da Enron, multinacional norte americana, em cujo final, infelizmente o culpado não era o mordomo, mas os executivos da empresa com complacência de auditores e financeiras.

No Brasil, onde está há 26 anos, fechou 2002 com prejuízo de R$ 178 milhões e de janeiro a setembro de 2003 a Parmalat apresentou prejuízo líquido de R$ 79 milhões. Nestes anos a empresa comprou laticínios, transferiu laticínios, abriu laticínios, vendeu laticínios, procurando sempre regiões onde podia pagar o leite por preço mais baixo, e de lá atingir o mercado de São Paulo A movimentação da Parmalat no mercado dava a impressão da sutileza de um elefante se movimentando numa loja de cristal: causou estragos, contribuindo para desestabilizar a situação do produtor, sendo fator preponderante para o desmanche de várias cooperativas pequenas e grandes e, pelos prejuízos liquídos de 2002 e 2003, parece que também prejudicou a própria empresa.

O produtor de leite brasileiro assiste esse filme, preocupado com seu final, com as consequências de uma possível falência ou concordata da Parmalat, pois a empresa é a segunda compradora de leite no País, perdendo apenas para a Nestlé. Se a empresa sair do mercado, quem absorverá a captação desse leite? Aumentará a concentração dos compradores? A saída da Parmalat contribuirá para aviltar mais os preços aos produtores?

Outro filme de mistério que entrou em cartaz nesse fim de ano, é o da Tangará. A revista Época nº 292, de 22 de dezembro de 2003, apresenta matéria com o título "De quem é o leite?", onde mostra que ninguém sabe quem é o dono da Tangará, nem o vice-presidente da empresa José Aloisio Teixeira. Segundo ele, seu irmão Salomão Teixeira vendeu a empresa para a suíça Alicorp Holdings S.A, com sede em Genebra. Essa empresa suíça, a Alicorp, tem o controle centrado em ações ao portador, sendo que seu representante legal, o advogado Marc Joory, detém 99,86% das ações. Os restantes 0,14% das ações estão na mão de uma secretária e de uma estagiária. Mas Joory diz que não é o dono e nega-se a revelar o verdadeiro nome do real proprietário da Alicorp e da Tangará.

Segundo a matéria da revista, a Tangará é fornecedora de leite em pó para o programa Leve Leite da prefeitura de São Paulo, desde a gestão Celso Pitta, e hoje fornece 1.600 toneladas por mês. O senhor Salomão Teixeira de Souza , que vendeu a Tangará para a suíça Alicorp, foi dono também da Nacional Comércio e Empreendimentos, que foi fornecedora do Leve Leite em outras gestões, talvez a primeira a fornecer leite em pó para o Leve Leite quando o programa foi implantado na Gestão Maluf. Outra curiosidade é que o antigo nome da AD'Oro S.A , que fornecia frangos para a prefeitura de São Paulo na Gestão Maluf e que pertencia à família da mulher de Maluf, era Alicorp Comércio e Importação Ltda. José Aloisio Teixeira, vice-presidente da Tangará diz que a Alicorp, antigo nome da AD'Oro, não tem nada a ver com a Alicorp suíça, proprietária da Tangará. Pode ser realmente simples coincidência, mas considerando que o nome é incomum, é uma curiosa coincidência.

Para o produtor de leite brasileiro, o horror desse filme de mistério está no fato da Tangará ser uma das 50 maiores importadoras do País, talvez a maior importadora de leite em pó. E o suspense do filme, nesse fim de ano em que, por causa do desemprego e queda de renda da população há queda no consumo de leite e lácteos, e sem a liberação pelo Governo dos recursos previstos para financiar a estocagem de leite, os preços ao produtor se aviltam, é saber se essa misteriosa Tangará continuará importando leite.

O produtor de leite nada pode fazer, a não ser assistir esses filmes de horror, com mistério e suspense, esperando o fim dos mesmos.

E o Governo? Se manterá passivo, como simples espectador ou se tornará atuante nos filmes, garantindo um final feliz para os produtores brasileiros, ou seja, nesse início de 2004 tomar as providências para que a colocação do leite produzido no País não avilte mais ainda os preços ao produtor, tomando medidas como liberação imediata dos recursos para financiamento da estocagem de leite e medidas para restringir importações de leite, fundamentais para criar as condições para uma recuperação dos preços ao produtor compatível com uma atividade sustentável? Permitirá em 2004 a produção de novos filmes de horror para o produtor de leite brasileiro?

Em 1991 o Governo tinha uma intervenção total no agronegócio do leite, tabelando os preços. Depois lavou as mãos, deixando o agronegócio por conta das "forças do mercado", dentro de um modelo de liberalismo inspirado por Adam Smith. Com certeza se Adam Smith fosse vivo hoje, faria uma revisão do seu livro "A Riqueza das Nações", pois era inteligente o bastante para ver a diferença da realidade do mundo quando escreveu o livro e a realidade do mundo globalizado de hoje, com empresas com alta concentração de poder econômico, chegando às vezes a ser maior que o PIB de alguns países. Outros economistas mais modernos, agraciados com o Prêmio Nobel, como Gunnar Mirdal e Joseph Stglitz mostram que não é mais possível acreditar no liberalismo puro e que certa dose de intervenção estatal é necessária, que é bom a atividade econômica se reger por economia de mercado, mas com certa dose de regulação dos governos, para corrigir o desequilíbrio das forças econômicas e evitar abuso de poder econômico.

Se o Governo continuar achando que o agronegócio do leite brasileiro deve-se reger apenas pelo "livre mercado", sem assumir um papel mais ativo (papel esse que deveria ser discutido da recém criada Câmara Setorial do Leite e Derivados), acreditamos que filmes de horror para o produtor de leite continuarão acontecendo. Entendemos que é necessário, em função do que o leite e derivados representam para o País em termos econômicos e sociais, a formulação de uma política sólida e consistente para o agronegócio do leite brasileiro. Por isso, a Leite São Paulo propôs na Câmara Setorial de Leite e Derivados, a formação de um Grupo Temático para discutir todos os aspectos envolvidos, inclusive o papel do governo e formular essa política, encaminhando a proposta ao MAPA.

Temos convicção que só a formulação de uma política sólida e consistente na Câmara Setorial de Leite e Derivados, e o Governo adotando essa política, impedirá a produção de novos filmes de horror para o produtor de leite e para o agro negócio brasileiro. Mas para um final mais feliz para os filmes em cartaz, acreditamos que são necessárias algumas medidas emergenciais, e a Leite São Paulo encaminhou suas sugestões ao Presidente Lula e ao Ministro Roberto Rodrigues, entre as quais está a imediata liberação dos recursos para retenção de estoques de leite, restrições à importação de leite em pó e soro e redução temporária de impostos

MARCELLO DE MOURA CAMPOS FILHO

Membro da Aplec (Associação dos Produtores de Leite do Centro Sul Paulista )
Presidente da Associação dos Técnicos e Produtores de Leite do Estado de São Paulo - Leite São Paulo

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NEVIO PRIMON DE SIQUEIRA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 27/12/2003

Realmente é muito triste saber da insolvência da Parmalat, nem tanto por ela, mas pelos colegas produtores que estão ligados a ela e aos seus colaboradores. Estou torcendo para que não haja prejuízos (mais prejuízos) aos mesmos. Não era uma coisa muito difícil de acontecer no meu entender, pois pelo modo de operar no mercado, eu nunca fui muito com "a cara dela", mas fazer o que? Cada um tem seu modo de trabalhar, mas quando uma empresa sai comprando tudo que é laticínio, em áreas não produtoras de leite (que o valor pago pelo leite é baixo), não tem muita qualidade no produto (sei que tem produtores que acreditaram e investiram para produzir um produto melhor, porém não todos, e os que investiram não tiveram o retorno esperado), para lançar o produto em mercados distantes como longa-vida, eu via isso como oportunismo, e um parceiro oportunista um dia vai ser oportunista na minha parte do bolo também. Não culpo os colaboradores da Empresa aqui do Brasil, que conheço alguns que são gente muito boa, e acredito que também eram iludidos com "planos de gestão" e acreditavam na empresa como sendo uma das melhores do setor. Infelizmente seus proprietários rezavam em outro missal. Vendiam um peixe e comiam outro. Colegas produtores e consumidores. Quando uma empresa entra em um mercado, comprando ou fazendo uma concorrência desleal com os seus concorrentes, fazendo com que eles fechem as portas ou vendam suas unidades a ela, e depois ficam sozinhas no mercado da região, cuidado. O efeito rebote pode atingir a todos. Devemos prezar a lealdade até entre concorrentes, pois se ela existir, ela estará presente também para seus fornecedores, clientes, funcionários, etc. Sabemos que atualmente ninguem faz milagre. Se hoje dá, amanhã toma em dobro (não estou me referindo a caridade). É uma questão de valores. Vamos prezar os valores positivos como lealdade, respeito, confiabilidade, etc.Um abraço e um ótimo 2004 a todos. Névio

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