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Falta transformar o consumidor em um aliado do produtor

POR MARIA LUCIA GARCIA

ESPAÇO ABERTO

EM 12/12/2002

5 MIN DE LEITURA

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Encerramos o ano com os preços de leite pago ao produtor no mesmo valor em relação ao dólar, apesar de terem aumentado em reais; ou seja, entre 10 e 15 centavos de dólar. Já a qualidade do leite, embora monitorada pelas grandes empresas e cooperativas, ainda não vem sendo bonificada. A contratação do leite in natura já está em discussão e será implantada em Goiás com o apoio do governo do estado e deverá se difundir, apesar da resistência da indústria. Não fosse o aperto dos custos de produção que estamos passando com a soja, o milho e os insumos veterinários e agrícolas com seus preços lá para as cucúias, acho que já estaríamos fazendo inveja à Nova Zelândia que está pagando mais centavos de dólar por litro a seus produtores!

Apesar de uma multinacional ter sinalizado afoitamente em plena desvalorização do real e com expectativas climáticas de entrada tardia das águas a queda de 3 centavos no litro de leite pago ao produtor, os preços vêm aumentando, porém tendendo à estabilização. Razões? Várias: queda real da produção, condições desfavoráveis à importação em geral, disposição dos produtores para lutar pela fatia de renda que lhes cabe no negócio do leite. Como produtora, estou ciente da saia justa em que se encontra a economia do país, a ponto do excesso de produção de leite ocorrer não apenas pelo aumento da produção, mas também pela queda do consumo. Só para nos atermos ao leite fluido, em 1996 seu consumo no Brasil chegou a 135 litros anuais por pessoa, hoje está em 125. Caiu, portanto, mais de 7% em 6 anos. Se considerarmos que a população cresceu mais de 12% neste tempo, a queda é maior...

Creio, porém, que dificilmente se repetirá depois de 2001 a crise detonada pela ação de cartel das grandes empresas compradoras de leite a partir de 1999, com a diminuição arbitrária do período da entresafra e dos preços de leite pagos ao produtor. A crise, se num primeiro momento faliu muitos produtores, num segundo momento socializou a consciência da interdependência de todos os elos da cadeia do leite. Foram esclarecidas e compreendidas todas as mazelas, ineficiências e truculências envolvidas neste conflito, sobretudo de distribuição de renda. Todos os envolvidos ficaram visíveis em seus oportunismos e manobras em relação aos demais, inclusive o produtor em seu descompromisso com a eficiência, a qualidade e a profissionalização de seu negócio. E o que foi muito importante, o governo, através do legislativo e do executivo, se envolveu definitivamente na história. Desde então estamos todos alertas para limites que não podem e não devem ser ultrapassados sob pena de propagar prejuízos: ontem foi o produtor, hoje é a indústria que não tem leite e precisa importar pagando mais caro e, mais recentemente, os supermercados que estão perdendo fornecedores importantes.

Algumas indústrias estão se voltando para redes alternativas de venda em que o leite não tenha que bancar constantemente preços baixos para fins de promoção, e outras exigências dos supermercados, como a manutenção de funcionários para carregar as gôndolas e outros serviços. Uma transferência de responsabilidades ou "desvio de função" cada vez mais visível à medida que cresce dentro deles a população de funcionários "alheios" em franca competição com os fregueses. O ato de comprar despreocupado e explorador que o supermercado nos propiciava, se transformou numa verdadeira batalha, tal a promiscuidade e a competição instalada entre compradores, limpadores, gondoleiros e promotores. Suspirando em meio a cotoveladas e carretas transportadoras na loja onde faço minhas compras, me resigno diante do fato de que a nossa circunstância moderna é cada vez mais o mercado em todas as suas formas, sendo o auto-atendimento radicalizado do supermercado atual a forma física de mercado mais primitiva e grosseira, pois já não guarda o menor resquício da boa e velha hospitalidade do comercio de loja.

A experiência mostra que a rentabilidade de um negócio só focada nos custos e no mix de produtos pode levar também à falência se a partir de um certo ponto não se teima em buscar a rentabilidade nos preços de venda. É o que algumas indústrias estão fazendo ao deixar os supermercados. Esse movimento passa por estratégias de comercio inovativas que têm tudo para quebrar essa monotonia concentradora e saturada dos supermercados. Eles certamente perderam a noção de limite, em vários sentidos, além do que chamou a atenção de Jorge Rubez no MilkPoint. Viraram certamente os donos da bola, ou seja, à qualquer ameaça de empatar ou perder o jogo, tiram a bola do campo. É então quando os que com eles jogam, começam a combinar uns com os outros: - Não tem Mineirão, não? Então vamos de "várzea' mesmo, deixar de jogar é que não vamos! Cada vez mais nos negócios os limites se impõem, não tem como ganhar completamente e sempre, só um lado.

Toda essa digressão é para chegar ao que estou pensando: falta agora socializar o consumidor, convergência final de toda a cadeia do leite. Torná-lo consciente das vantagens para a sua saúde em consumir lácteos em vez de outros produtos que se não fazem mal, também não fazem bem à saúde; em preferir os lácteos produzidos no Brasil que estão ficando cada vez melhores e mais variados. Temos que persuadi-lo de que, assim fazendo, também estará contribuindo para fortalecer a produção de leite, gerar emprego e renda decente para mais brasileiros. Só envolvido pela produção, o consumidor começará a enxergar atrás de um copo de leite, de um iogurte, de um queijo, a complexa e delicada atividade de produzir leite de boa qualidade, a face humana que está por trás de cada produto.

No momento em que isso acontecer, não teremos mais a Míriam Leitão na televisão se congratulando com o consumidor porque os supermercados estão colocando leite importado mais barato a sua disposição, nem Wiliam Tabchoury da Láctea Brasil lhe dando aula sobre a produção de leite no Brasil. O consumidor informado e solidário saberá que isto está sendo feito à custa da sangria para o exterior de dólares que o país não tem para desperdiçar com leite que produz aqui a bom custo. Saberá que o preço barato do leite importado não corresponde ao preço que é vendido no país de origem, portanto está aqui ilegalmente numa manobra de dumping. Saberá também que muito do que é anunciado sobre importação de leite não passa de manipulação de "interessados" em abaixar os preços do leite produzido no país e disso tirar proveito próprio sem considerar os demais interessados. Com isso ficará sabendo também que o Brasil vem dando saltos de produtividade e eficiência no setor leiteiro inimagináveis até há bem pouco tempo. Ao se solidarizar com a produção nacional consumindo nosso leite e lácteos certamente estará fazendo n��o só a prosperidade do produtor mas do Brasil, sem esquecer da sua saúde. A Nova Zelândia que se cuide! Com o consumidor ao nosso lado em breve chegaremos lá!

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RENATO FONSECA

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 14/12/2002

Muito feliz o artigo da produtora Maria Lucia A. Garcia. Tenho a impressão que nós, produtores, estamos encontrando qual deve ser o foco de nossas ações para reverter a atual situação que nos mantem reféns de preços aviltantes. Não somos contra os supermercados, mas contra utilizarem o nosso produto visando exclusivemente os seus interesses. Assim como não somos contra as importações, mas contra a prática descarada de dumping contra o Brasil. Hoje, creio que os laticínios perceberam que a marcha dos acontecimentos acabaria por derrotá-los também. Transformaram-se, ainda que circunstancialmente, em nossos aliados. Vamos tirar partido dessa situação, como propõe, de forma inteligente, o artigo mencionado. Parabéns!
MARCELLO DE MOURA CAMPOS FILHO

CAMPINAS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 14/12/2002

Parabéns pelo artigo. Realmente é preciso conscientizar o consumidor da importância sócio-econômica do leite para o País. No Canadá, onde houve consulta pública ao consumidores, estes manifestaram sua preferência por pagar mais caro pelo leite produzido no País do que o importado, por ter certeza da qualidade do produto que consomem e pela importância do produto na geração de empregos. O fato do Brasil ser o campeão de repetência do continente, apesar de se passar de ano muitos alunos sem condições de aprovação, tem muito a ver com consumo de 125 litros por habitante ano, muito abaixo das recomendações do mínimo recomendado pela OMC para garantir o pleno desenvolvimento físico e neurológico do ser humano. E se no Brasil, através da produção nacional,atingirmos os níveis preconizados pela OMC, além da economia de divisas, estaremos gerando nas fazendas brasileiras que produzem leite cerca de 800.000 novos empregos, ajudando no combate a fome e a combater a violência urbana.

Se o consumidor for esclarecido de tudo isso, sem dúvida será um grande aliado do produtor.

E o Novo Governo, que prioriza o combate a fome, a segurança alimentar, a geração de empregos e redes de proteção social, tem tudo para ser aliado do produtor de leite nacional, não permitindo a importação de leite de países onde a atividade é subsidiada sem que haja compensações tarifárias adequadas, combatendo a fraude e assegurando a qualidade do leite, e implantando uma Câmara Nacional do Leite, onde participem representantes de todos os elos do agronegócio e do próprio Governo para discutir, a cada ano, a política de preços, tendo o Governo o papel de mediador para evitar abuso de poder econômico e más práticas comerciais por qualquer das partes.

Mas para que tudo isso seja realidade, para que consumidores e Governo sejam de fato aliados dos produtores de leite é preciso duas coisas:

1) Que as entidades de classe desenvolvam um trabalho eficaz junto aos consumidores e Governo

2) Que os produtores de leite participem das entidades de representação, de forma a dar a essas entidades a força política e recursos necessários para relizar esse trabalho.

Se os produtortes não participarem de suas entidades, estas não terão como fazer o trabalho necessário junto ao público e ao Governo, e o século XXI será igual ao século XX para a pecuária leiteira nacional: o Brasil importará significativas quantidades de leite e lácteos e o produtor brasileiro continuará recebendo preços vis. É inutil esperar que consumidores e Governo venham ser nossos aliados, se nós produtores de leite não conseguirmos nos unir e fortalecer nossas entidades de representação.

Marcello de Moura Campos Filho
Leite São Paulo

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