A produtividade das propriedades leiteiras brasileiras é baixa comparada aos competidores estrangeiros, incluindo os do Mercosul. Além disto, existe vasta informação na literatura mostrando tendência de concentração da produção com a eliminação de grande contingente de produtores, principalmente os pequenos e os produtores familiares.
O presente trabalho indica não existir relação direta entre tamanho e eficiência na produção de leite, o que está de acordo com a literatura internacional. No estudo, tomando-se como referência a Região da Zona da Mata Mineira, ficou demonstrado que produtores de economia familiar podem sobreviver com a produção de leite. Demonstrou-se ainda que os produtores estariam melhores, caso aumentasse a produtividade da terra, dos animais, o volume produzido e realizasse melhor alocação dos recursos.
Por meio de simulação, foram estudadas diversas situações para produtores da região de Juiz de Fora. Em um levantamento realizado pela Emater-MG e pela Embrapa Gado de Leite em 55 propriedades obteve-se um sistema médio de produção de leite com as seguintes características:
Tabela 1: Características médias de propriedades da Zona da Mata Mineira*
*Foram estudadas 55 propriedades na região de Juiz de Fora - MG.
As variáveis da Tabela 1 foram usadas no modelo de simulação. Três simulações foram realizadas e seus resultados encontram-se na Tabela 2, em que se têm valores estimados de custos de produção, renda mensal e retorno esperado do capital.
Simulação 1. Sistema de produção conforme Tabela 1.
Simulação 2. Sistema anterior com aumento da produtividade das vacas em lactação passando de 7,9 para 10,12 l/vaca/dia.
Simulação 3. Mesma simulação 1, reduzindo o intervalo entre partos de 18 para 15 meses.
Simulação 4. Mesma simulação 1, permitindo variação do tamanho e na composição do rebanho.
Tabela 2: Resultados das Simulações
*HZ - Holandês - Zebu.
A simulação 1 estima a performance atual dos sistema de produção médio da região de estudo. O custo de produção estimado foi R$ 0,38, a renda mensal R$ 159,17 e o retorno sobre o capital de 2,72%. Isto pode constituir-se em forte incentivo para o produtor deixar o campo, considerando-se o custo de oportunidade da mão-de-obra familiar igual a um salário mínimo. É que a média de pessoas na família é 4,4, deixando uma renda per capita de R$ 36,18.
O estudo mostrou que é possível para o produtor melhorar sua renda com melhor alocação de recursos e melhor produtividade dos animais. Quando o modelo simula o aumento de produtividade dos animais (Simulação 2), os resultados mostram quanto a produtividade animal pode influenciar a taxa de retorno do capital investido. Para um incremento de 28,10% (passando de 7,9 para 10,12 l/vaca/dia), o retorno sobre o capital incrementa em 164,71% e a renda per capita vai para R$98,86.
Na redução do intervalo entre partos (18 para 15 meses - Simulação 3) os resultados mostram a importância desse índice zootécnico na rentabilidade da propriedade. O retorno sobre o capital incrementa em 153,68% em relação à situação atual do sistema mostrado pela simulação 1.
Na alocação de recursos (Simulação 4), o modelo aloca recursos para aquisição de animais, aumentando o número de vacas e não recriando animais. Com incremento de 83,33% no número de vacas, obteve-se, nas condições de simulação, um incremento de 356,25% de retorno sobre o capital. Nesse caso, a renda per capita passaria para R$ 200,00.
Parece bastante evidente que produtores familiares da região de Juiz de Fora, nas atuais condições, têm incentivo para deixarem a produção de leite ou mesmo para migrarem para a cidade. Contudo, eles podem manter-se na produção de leite, desde que aumentem a produtividade dos animais, reduzam o intervalo entre partos e aumentem o volume de produção.
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1José Luiz Bellini Leite é pesquisador da Embrapa Gado de Leite