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Congressos Pan-Americanos do Leite

ESPAÇO ABERTO

EM 24/03/2006

8 MIN DE LEITURA

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Por René Dubois1

O Brasil hospedou a 2a edição do Congresso Pan-Americano do Leite em 1985. 21 anos depois volta a albergar a 9a edição desse mesmo evento.

O I Congresso Pan-Americano do Leite realizou-se em Buenos Aires, em abril de 1982. Teve uma boa divulgação e o temário foi cuidadosamente elaborado. Notáveis conferencistas, de renome internacional, foram convidados, muitos dos quais da Inglaterra. Comentava-se, na época, em tom de brincadeira, que o grande sonho do argentino era ser inglês, razão pela qual ostentava com orgulho, uma réplica do "Big Ben" em Buenos Aires.

O Evento certamente teria um número bastante elevado de participantes, não fora a eclosão da guerra das Malvinas poucos dias antes. Foi um excelente congresso, mas pouco concorrido. Dele participei, mas muitos companheiros do Brasil, que estavam inscritos e com passagem comprada, deixaram de fazê-lo, com receio da guerra. Buenos Aires estava tensa e as manchetes de todos os jornais estavam monopolizadas pelo noticiário da guerra.

A iniciativa pioneira das lideranças da cadeia produtiva do leite da Argentina, no início da década de 80, foi semente que frutificou. Em duas décadas a realização de nove congressos representa um respeitável acervo. Eis a relação dos 9 Eventos:

• I Congresso - Buenos Aires, Argentina - abril de 1982
• II Congresso - São Paulo, Brasil - 13 a 17 de maio de 1985
• III Congresso - Punta Del Este, Uruguai - 6 a 9 de março de 1989
• IV Congresso - Guadalajara, México - 22 a 24 de abril de 1991
• V Congresso - Medelín, Colômbia - 1995
• VI Congresso - Buenos Aires, Argentina - 1997
• VII Congresso - Havana, Cuba - 2000
• VIII Congresso - Miami, USA - 2004
• IX Congresso - Porto Alegre - Rio Grande do Sul, Brasil - a ser realizado de 20 a 23 de junho de 2006.

O Brasil foi escolhido para sediar o II Congresso. Criou-se um Comitê Organizador e coube-me a honra de presidi-lo. Durante 3 anos trabalhou-se intensamente. Além dos diversos elos da cadeia produtiva do leite, de entidades públicas e privadas interessadas nesse tema, as lideranças de todas as profissões ligadas à saúde foram convocadas a participar. O temário foi dividido em quatro itens: - 1. Política do Leite; 2. Produção Leiteira; 3. Industrialização Leiteira; 4. Nutrição humana.

A solenidade de abertura, presidida pelo governador Franco Montoro, realizou-se no auditório do Palácio Bandeirantes, com a presença do Ministro da Agricultura Pedro Simon, na noite de 13 de maio de 1985. As demais sessões e a exposição paralela realizaram-se no Palácio das Convenções Parque Anhembi, durante os dias 14 a 17.

Ressalta-se que a qualidade do leite naquela época, sobretudo no Brasil, era bem diferente da atual. Melhorou muito nestas duas últimas décadas, não só na qualidade como também no que diz respeito à organização dos produtores e à sofisticação dos produtos lácteos.

Na penúltima década do século passado, uma ponderável parte do leite líquido ainda era comercializado sob a forma de leite cru, com produção e comercialização desenvolvidas à margem da legislação sanitária, sem um mínimo de requisitos higiênicos, sanitários e tecnológicos. Conseqüentemente, com grandes riscos para a saúde pública.

Temas interessantes foram levantados e debatidos, como a concorrência entre produtos lácteos e sucedâneos artificiais. A margarina contra a manteiga, as bebidas lácteas contra os refrigerantes etc. Enquanto a indústria leiteira investia 1 dólar em propaganda a de refrigerantes investia 57 dólares. Somente São Paulo e Rio de Janeiro consumiam juntos mais refrigerantes do que se consumia de leite em todo o Brasil, embora o preço do refrigerante fosse, naquela época, superior ao do leite.

Alguns temas, pelo seu valor intrínseco, potencializados pelo brilho de grandes expositores, ensejaram momentos empolgantes aos milhares de congressistas. Difícil destacar qual teria sido o mais notável. O Ministro Pedro Simon, o ex-Ministro Alysson Paulinelli e o Governador Franco Montoro, equivaleram-se pela forma oportuna e lúcida com que fizeram suas colocações.

Dois exilados políticos chilenos, banidos de sua pátria pela ditadura de Pinochet, tiveram singular destaque. O Engenheiro Agrônomo Jacques Chonchol, ex-Ministro da Agricultura do Chile e exilado na França, professor da Universidade de Paris e autor do famoso livro "Le Defit Alimentaire" (O Desafio da Alimentação) e o Médico Veterinário, Cláudio Solís Solís, ex-Secretário da Agricultura do Governo Regional de Aisén - Chile, exilado no Brasil onde exercia a Gerência Técnica de Marketing da Fundação Bradesco Pecplan.

Despertou curiosidade a presença, em um mesmo simpósio, de dois renomados conferencistas que professavam ideologias opostas, mas que estavam unidos pelo mesmo objetivo técnico e científico: Eli Mayer, Chefe dos Serviços Veterinários de Israel, o principal responsável por tornar aquele país o de maior produtividade leiteira do planeta e Jean Ramón Gonzalez - Diretor do Centro de Pesquisas Genéticas "Los Naranjos" de Cuba, instituição que produziu a vaca recordista mundial de leite.

A forte participação de conferencistas brasileiros, cuja lista é grande demais para ser citada neste artigo, demonstrou que, na área do leite, o nosso país era (e continua sendo) detentor de grandes valores, nada devendo aos grandes vultos internacionais que se fizerem presentes.

Evidenciou-se a opinião unânime do valor econômico, social e político do leite. Alimento que nutre a capacidade cerebral, cujo consumo deve ser um direito permanente de justiça para todas as crianças do mundo. Ressaltou-se a dívida dos que comem para com os desnutridos. É a dívida para com os pobres, os anônimos do Terceiro Mundo.

Transcrevo a seguir, na integra, as Conclusões e as Recomendações do II Congresso Pan-Americano do Leite, 21 anos depois da sua publicação:

Conclusões e Recomendaçãoes
(São Paulo, 17 de maio de 1985)

a) Conclusões

1) Na América Latina, a desnutrição e a fome estão diretamente ligadas não somente à capacidade de produção de alimentos mas, fundamentalmente, ao poder aquisitivo da população. O baixo poder aquisitivo da grande maioria das populações do continente americano é a causa primeira do baixo consumo de leite, e até da ausência desse consumo, em nossos países.

2) Em termos de educação alimentar, principalmente nas escolas primárias e secundárias, muito pouco se tem feito para estimular o consumo de leite, elemento básico de uma dieta que possa suprir as necessidades mínimas recomendadas pelos organismos internacionais de saúde.

3) Os meios de comunicação de massa estão voltados quase completamente ao incentivo do consumo de bebidas "fantasiosas" em detrimento do consumo de leite, deturpando os hábitos alimentares da população.

4) A omissão dos governos americanos tem sido a principal causa do subdesenvolvimento em que se encontra o setor.

5) O alto nível de ocorrência de doenças do rebanho leiteiro, especialmente as enfermidades da glândula mamária, são fatores que impedem o desenvolvimento da produção leiteira, influindo decisivamente na industrialização, na nutrição e na saúde pública.

6) A falta de garantia de que o leite suplementar produzido será vendido com lucro para o produtor, lucro que supere o gasto do investimento, é a principal razão do quadro de desestímulo hoje existente entre os produtores.

7) A falta de apoio creditício e a retirada dos subsídios do leite em muitos países do continente, levam à falência muitos produtores, estimulando o êxodo rural e a concentração de população marginal nas áreas urbanas.

8) A importação de leite em pó e subprodutos lácteos desestimula a produção interna de leite fluído, criando e mantendo a dependência estrutural.

9) A indústria leiteira latino americana se caracteriza por abastecer-se de leite in natura a preços baixos, transformando-o em queijo, manteiga, iogurte e outros derivados, e vendendo esses produtos a preços fora do alcance da maioria da população. Assim sendo, sem que o consumidor seja beneficiado, o produtor financia a indústria.

10) O poder de decisão governamental ignora quase sempre os estudos feitos democraticamente nos congressos que representam a verdadeira opinião dos setores técnicos e econômicos que convivem diretamente com os problemas de produção, industrialização e nutrição.


b) Recomendações

1) Subsidiar o consumo do leite, principalmente para as crianças em idade escolar, alocando tal investimento como um custo social plenamente justificável.

2) Tornar obrigatório nas escolas primárias e secundárias os ensinamentos de educação alimentar, com especial ênfase ao consumo do leite, a partir do aleitamento materno e até a completa formação física e mental.

3) Incentivar, através dos meios de comunicação de massa, o consumo de leite, obrigando por lei às indústrias de bebidas "fantasiosas" a destinar parte de sua propaganda a esse incentivo.

4) Aumentar a participação dos governos americanos na política de produção e abastecimento de leite, uma vez que ficou evidenciado que somente os governos são capazes de promover tal desenvolvimento.

5) Desenvolver em todos os países latino americanos programas que permitam o controle das mamites e suas conseqüências, tratando preferencialmente dos seguintes pontos: atenção especializada ao produtor, controle adequado do equipamento e da técnica de ordenha, controle estrito da produção, venda e administração dos produtos farmacológicos e de limpeza, especialmente os antibióticos.

6) Garantir o lucro do produtor através de uma política de preços mínimos e da formação de estoques reguladores que estimulem os investimentos privados do setor.;

7) Criar um documento legal que dê prioridade ao leite nos investimentos governamentais de crédito, subsídio e isenção de impostos para o produtor.

8) Proibir a importação de leite em pó e subprodutos lácteos de alto consumo quando a produção interna de leite fluído for compatível com a demanda.

9) Por ação dos governos, disciplinar as relações produtor-indústria-consumidor, estabelecendo uma política de preços harmônica para os três setores.

10) Os Governos dos países americanos devem levar em conta com a maior seriedade as conclusões e recomendações emanadas deste II Congresso Pan-Americano do leite e de outros conclaves pertinentes.

Este documento, amplamente divulgado após o Evento, demonstra a significativa mudança, para melhor, ocorrida em duas décadas. Muitos dos problemas existentes naquela época foram solucionados. Mas a cada solução alcançada novas mudanças são impostas, constituindo a eterna problemática da vida. O IX Congresso que vai se realizar em junho deste ano, na Cidade de Porto Alegre, é o fórum adequado para a "metabolização" das idéias que vão gerar as novas alternativas a serem transformadas em conquistas.

Deixo consignado os votos de sucesso total no IX Congresso Pan-Americano do Leite.


_______________________________
1 Médico veterinário

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PAULO MAURICIO B. BASTO DA SILVA

JARAGUÁ DO SUL - SANTA CATARINA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 25/03/2006

Comecei na atividade leiteira em 1.984 quando fui trabalhar na Fleischmann Royal Nabisco, detentora da tradicional marca Leite Glória. Naquela época, pouco mais de 20 anos atrás, o mercado era dominado pelo leite pasteurizado "barriga mole". O leite Longa Vida era pouco comum, restrito a poucas empresas como CCPL e Parmalat. Existiam poucos produtos nas prateleiras, quase nenhuma diversificação.



A qualidade do leite não era assunto muito sério no meio laticinista, assim como o governo controlava, como fez durante 50 anos, os preços da matéria-prima e produto final. Tudo dependia da aprovação do governo, ou seja, forte intervenção estatal com forte controle de preços, desestimulando a competitividade e qualidade dos produtores e empresas.



Era uma época de inflação alta, em que ocorriam diversos planos econômicos, Tivemos a crise do carro a álcool e o leite era um produto político, fato este que prejudica a cadeia até hoje.



O consumo de leite <i>per capita</i> subiu de 85 para cá, mas ainda é baixo num país que pouco investe em educação e saúde e com grande número de pobres e miseráveis, mostrando grande oportunidade no mercado interno se a renda do trabalhador crescer.



O país era importador de lácteos e o mercado não era tão concentrado em grandes redes como agora, o que provocou achatamento de margens. Grandes e médias empresas deixaram de existir ou estão em grandes dificuldades, as cooperativas de leite, antes relativamente fortes, agonizam de um modo geral.



O próximo Congresso tem tudo para resgatar e refletir sobre estes 21 anos no Brasil e discutir novas idéias para o futuro deste negócio que tem grande espaço para crescer no país e fazer do Brasil um forte exportador de leite e derivados.
JOSELIO MOURA

BRASÍLIA - ESPÍRITO SANTO - PESQUISA/ENSINO

EM 25/03/2006

Excelente artigo do doutor Dubois, que resgata a história dos Congressos Pan-Americanos do Leite e evidencia o quanto está atual tudo o que foi debatido pelos renomados conferencistas do Congresso realizado em São Paulo.



Eu tive o privilégio de ser o Presidente da Comissão de Política do Leite, cujos temas foram intensamente debatidos. Esse material do Dubois deveria ser bem mais divulgado. Parabéns ao site MilkPoint pela publicação.



Josélio Moura

Presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária
NAGATO NAKASHIMA

CURITIBA - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 25/03/2006

Doutor Rene Dubois,



Quisera eu ter a experiência para tecer comentário ao vosso artigo, porém gostaria de ressaltar que além da necessidade "produzir com qualidade" é necessário que o sistema produtivo seja socialmente perfeito, ecologicamente correto é também economicamente justo.



Com isto é preciso que na cadeia produtiva do leite, o produtor não seja sacrificado ao ponto de ser eliminado pelo sistema. No sistema atual tanto na cadeia produtiva do leite como no da carne, o maior sacrificado é o produtor. Desta maneira dificilmente atenderemos os preceitos da Agenda 21, da Assembléia Geral das Nações Unidas, como também poderá ser objeto de barreira comercial aos nossos produtos.



Nagato Nakashima

Médico Veterinário

Consultor de Agronegócio
MARIA LÚCIA COSTA METELLO

CAMPO GRANDE - MATO GROSSO DO SUL - EMPRESÁRIO

EM 25/03/2006

Doutor René,



Parabéns pelo maravilhoso relato sobre os congressos de leite. Tomara que a 9<sup>a</sup> edição repita o sucesso da edição realizada em São Paulo.



Mais do que nunca, o tema "Leite" requer atenção e cuidados especiais haja vista a delicada situação que se encontra. O momento é propício para a busca de soluções, unindo-se os profissionais dos setores públicos e privados, tendo em vista ser este um rico e importante alimento para a população humana.



No entanto, devemos ter sempre em mente os bons tratos na criação, especialmente a dignidade à vida e o respeito aos direitos dos animais.



Parabéns!



Maria Lúcia Costa Metello

CRMV/MS 0429

OAB/MS 4.348

Presidente da Sociedade de Proteção e Bem-Estar Animal Abrigo dos Bichos

Conselheira Fiscal da Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária - Campo Grande, MS

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