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Análise sobre o relacionamento entre produtor e a indústria

ESPAÇO ABERTO

EM 07/06/2005

4 MIN DE LEITURA

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Por Renato H. Fernandes1

Sim, certamente o relacionamento entre indústria e produtores está melhorando. Mas gostaria de tecer alguns comentários sobre os indícios apresentados pelo Marcelo Carvalho em seu artigo: O relacionamento entre produtor e indústria está mesmo melhorando? (clique aqui para ler).

Há cinco anos atrás o produtor tinha liberdade de escolher o insumo e o fornecedor de sua preferência, apresentar a nota fiscal, receber o adiantamento do valor e ser descontado, parceladamente, do valor do leite. Portanto, o Clube de Compras não é nenhuma novidade e é, até certo ponto, um retrocesso, pois restringe a gama de fornecedores.

A divulgação prévia dos preços pode ser considerada um avanço. Mas, no quadro de oligopsônio (concentração do mercado na mão de poucos compradores), ou mesmo, monopsônio regional, existente no Brasil, ao divulgar seu preço, a empresa líder em volume captado sinaliza um posicionamento (benchmarking) para as suas "concorrentes". E isto é o que se viu, neste início de junho, quando houve o anúncio da redução de preço em R$ 0,02 já para junho e de tendência de outra queda de mesmo valor em julho (recomendo a leitura de "Será que o pico de preços está próximo?",clique aqui para ler). Em suma, já que a pancada vem mesmo, com o aviso, talvez dê tempo pra tentar se esquivar.

O Educampo é sim um grande avanço. Quem já fez parte de um núcleo nunca mais vai encarar agropecuária da mesma forma. Só que, o projeto tem a integração da cadeia como uma das premissas básicas e, não por acaso, seus melhores resultados vêm de grupos ligados a cooperativas. Há uma série de problemas nos grupos ligados aos grandes laticínios e, por isso mesmo, já há até um arremedo do programa que foi criado justamente pra que não se precise contemplar a integração da cadeia.

Ao assistir uma palestra sobre o Conseleite no congresso da SOBER em 2003 e, como praticamente todos os presentes, fiquei maravilhado. Talvez, em casos como o da Bahia, onde a importação de lácteos (de outros estados) é muito forte, possa haver maior dificuldade no estabelecimento dos preços de referência. Mas, apesar de confessar que não tenho notícias mais recentes, creio que esta é uma idéia com potencial enorme para a solução de muitos dos conflitos da cadeia, em todo o país, justamente por ser a única que, efetivamente, reúne agentes com interesses em parte divergentes para discutir soluções para o setor. Por isso mesmo, sua implantação noutras regiões não está ocorrendo de forma tão rápida quanto poderia ser desejável.

A granelização foi um passo importante, ao reconhecer a existência de importantes ganhos de eficiência e qualidade embutida na gestão dos fornecedores, em especial na concepção do processo de captação de leite. No entanto, os ônus para os produtores foram altíssimos, muito do que foi prometido não foi cumprido e muitos produtores foram alijados da atividade no decorrer de sua implantação. Além disso, cinco ou seis anos após seu início, ainda há problemas de falta de regularidade na coleta, cujos prejuízos são imputados aos produtores e não houve (pelo menos aqui na Bahia) nenhuma ação conjunta que contemplasse a falta de estradas e o sofrível fornecimento de energia elétrica, como se esquecêssemos destes elos da cadeia. E se parte para o passo seguinte, que é o incentivo (imposição?) à mecanização da ordenha.

Realmente, a maioria das iniciativas que fornecem os indícios da melhoria da relação entre os elos é encabeçada pelos laticínios e, logicamente, têm raiz na necessidade de gerenciar melhor as redes de suprimento. A exemplo da adoção do pagamento baseado na qualidade, que não foi citado no artigo do Marcelo. Mas talvez este seja o calcanhar de Aquiles de muitas destas iniciativas, pois, infelizmente, o que tem acontecido é muito mais um processo contínuo de imposição de novas regras do que a construção conjunta de novos padrões de relacionamento. Com a louvável exceção de um grande laticínio ter encomendado uma pesquisa qualitativa junto a seus fornecedores, abordando o relacionamento entre as partes.

É muito claro o paradoxo citado por Marcelo, segundo o qual os elos mais fortes normalmente ficam com uma parte maior do valor gerado na cadeia e, portanto, sua predisposição para alterar o formato do relacionamento entre as partes é naturalmente baixa. Este paradoxo justifica a percepção de que os avanços na integração, com certeza, não têm total prioridade quando ocorrem reviravoltas de curto prazo no mercado. E parece haver uma espécie de conflito interno nas empresas, pois as novas medidas devem necessariamente gerar ganhos e, em muitos momentos, acaba sendo mais cômodo e seguro insistir nas velhas práticas e imputar as perdas ao elo mais fraco da cadeia. O que fica explicitado pelo fato de nenhum grande laticínio ter a praxe de apresentar um contrato de fornecimento, ou sequer um regimento, onde estejam claramente descritas todas as obrigações e direitos de cada parte.

No sentido oposto, os produtores acabam por assumir uma postura defensiva ("gato escaldado...") e até mesmo maniqueísta em relação aos laticínios. Sendo mais do que esperado o resultado da enquete, que demonstra a percepção pelo elo produtor de que continua perdendo, ou ganhando menos do que merece.

Conclusão

Finalizando, não posso deixar de concordar com Marcelo quanto aos indícios de melhoria da gestão da rede de suprimentos. Mas os indícios não são mais do que indícios e o processo de melhoria no relacionamento entre os elos da cadeia produtiva caminha devagar e com muitos sobressaltos inúteis e desnecessários. Faltando para a indústria a decisão concreta de abrir mão da possibilidade de agir oportunisticamente. O que motivaria os produtores, uma vez convencidos de que isto realmente ocorreu, a engajar-se no processo de integração sem a postura defensiva e maniqueísta que hoje prepondera.
____________________________________
1 Renato H. Fernandes é administrador da Fazenda Araras, Veredas, Bahia



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MARCIO TEIXEIRA ARRUDA

PARÁ DE MINAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 27/04/2009

O Artigo e excelente, gostei muito e gostaria de saber como consigo um Projeto de Laticnio, para pesquisa de Universidade. Abraços. Márcio Arruda.
LUCIANO FERES JACOB

SÃO SIMÃO - GOIÁS - EMPRESÁRIO

EM 08/06/2005

Realmente Renato, vejo a necessidade de um contrato firmando os direitos e deveres de cada uma das partes. Porém aqui na minha região temos cinco compradores e até hoje tudo que foi dito foi cumprido pelo menos no meu caso.



Vejo uma necessidade de uma fiscalização no processo de análise do leite, ou seja, deveríamos ter a duplicidade das amostras para podermos avaliar a seriedade destas análises.



Agradeço, muito bom o artigo

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