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Abençoada caninha

POR MARIO SÉRGIO ZONI*

ESPAÇO ABERTO

EM 08/11/2006

4 MIN DE LEITURA

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Apesar da grande qualidade de algumas cachaças produzidas, a caninha referida no título é a Cana de Açúcar, que hoje causa tanta preocupação a muitos técnicos, e que para mim causa grande satisfação. Não sei se estou olhando a questão sobre uma ótica desfocada, apesar de já conviver com a questão desde a década de 70, quando antes da Universidade, vi a primeira usina a ser construída na Zona da Mata Mineira (Visconde de Rio Branco) causar intensa substituição de áreas de pecuária por áreas de plantio, fato que hoje se repete em diversas áreas pastoris do Brasil.

Vejo hoje que este grande avanço da cultura da Cana de Açúcar é uma grande bênção para o setor da Pecuária de Leite, por resolver uma questão que se arrasta há muitas décadas, e que provavelmente perduraria por muito tempo sem encontrar soluções que atendessem todos os interesses envolvidos.

A questão referida é a coexistência de personagens muito diferentes no que tange a tipos de produtores de leite, e conseqüentemente a forma como os mesmos exercem a atividade. Muitos preferem polemizar colocando a questão numa lógica simplista em que há os grandes e os pequenos produtores, porém para quem trabalha com pecuária de leite há muitos anos, talvez pudéssemos relacionar os produtores como três personagens.

O primeiro é o progressista, é aquele produtor que independente do tamanho ou do tipo de exploração, está sempre buscando ferramentas tecnológicas, informações, suporte técnico para evoluir na atividade. Pode ser capaz de grandes mudanças, tais como as demonstradas pelos produtores atendidos pela EMBRAPA Sudeste ou pelos produtores atendidos pelo GESPEC da Cooperativa Castrolanda, desde que devidamente motivados.

São produtores que estão buscando resultados por hectare superiores a 25.000 litros por ano, e que sabem que o lucro e realização obtidos são muito superiores ao que o arrendamento da terra para o plantio de Cana da Açúcar.

O segundo e maior grupo é o dos intermediários, são produtores que sempre estão passos atrás dos progressistas esperando para ver se não vai dar certo, se não vai ser muito caro, se, se, se. Como o grande motivador na área rural é a inveja construtiva, em que o vizinho bem sucedido é agente motivador de mudanças, muitos destes produtores acabam tomando gosto pelo progresso e mesmo com alguma hesitação acabam adotando muitas das atitudes do produtor exemplo e acabam também evoluindo.

São produtores que ao invés de olhar o quanto sobra, preferem ver como gastar menos. Para estes produtores o arrendamento pode ser um grande atrativo, pois enxergam no ganho uma fonte segura de recebimento.

O terceiro personagem é o sobrevivente. É aquele produtor que explora de forma quase pré-histórica sua propriedade, é intensamente refratário a mudanças e tem no baixo desembolso a sua obsessão. Trabalha com baixíssimas médias de produção, com baixa taxa de ocupação, não usa adubação de pastagens a não ser a queimada na primavera. Para estes produtores o arrendamento pode ser a salvação, por receber por hectare um valor muito superior ao que receberia com a produção. Tem como vantagem adicional a correção de solo e adubação que a usina faria na terra.

Com o grande avanço da Cana de Açúcar sobre áreas de pecuária, os sobreviventes e muitos intermediários verão com relativa razão, que o arrendamento é uma boa forma de ganhar dinheiro onde atualmente não conseguem ganhar.

De certa forma, o que se esperava com a Instrução Normativa 51, que disciplinaria o setor, e caracterizaria os diferentes, distinguindo o Leite produzido pela qualidade e cuidados de produção e que ao longo do tempo formaria diferentes grupos de produtores pelo tipo de Leite a ser comercializado, e que fatalmente tiraria um grande número de produtores do mercado formal e mesmo do informal, está sendo conseguido com a Cana de Açúcar.

Esta esperada mudança, baseada em legislação difícil de ser implantada e mais difícil de ser cumprida, poderia demandar grandes esforços no sentido de treinar os produtores possíveis de evolução, e principalmente enormes investimentos para realocar os alijados pelo mercado.

Desta maneira, esta entrada da Cana de Açúcar está promovendo estas mudanças da forma mais barata e sem traumas possíveis, onde os excluídos pela baixa ou nenhuma competência, estão felizes em poder arrendar suas propriedades por um valor que consideram satisfatório. Não acredito que um produtor eficiente ache que o arrendamento seja um bom negócio, pois ganhos de R$ 600,00 por hectare ao ano são muito inferiores ao que podem obter explorando a propriedade de forma correta.

E o maior e grande benefício seria o de finalmente tirar do mercado os produtores que não têm custos de produção, pois não têm a mínima idéia do que seja isto, e são geralmente massa de manobra ou " formadores de preço médio" como os compradores preferem falar.

Os famosos "tiradores de leite" (o leite é em letras minúsculas mesmo) não sabem quanto custa a criação, quanto custa um hectare de pastagem, não investem em cuidados para a produção de Leite com sanidade bacteriológica, e todas as pequenas e complexas atividades que envolvem a produção de Leite, com os seus devidos custos.

Os verdadeiros produtores que permanecerem na atividade poderão finalmente trabalhar em um mercado competitivo porém saudável, onde os compradores terão que buscar fornecedores que sabem o quanto realmente custa produzir e não tirar um litro de Leite.

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GUILHERME GONÇALVES TEIXEIRA

CLÁUDIO - MINAS GERAIS - MÉDICO VETERINÁRIO

EM 20/11/2006

Mário,

Qualidade microbiológica do leite (não "sanidade bacteriológica") é um dos fatores mais importantes no ciclo de produção, e é claro que as principais zoonoses que atacam nosso rebanho são consideradas. E como bem eu disse, é importante levar a esse produtor o conhecimento não apenas sobre este tema, mas vários outros que não cabe aqui relacioná-los.

Logicamente a idéia que eu defendo não é a de medidas "paleativas" mas políticas de oportunidades. Sendo técnico da área, sempre busco eficiência na produção, com otimização das áreas exploradas, seja de baixa, média ou de grande escala.

Em Minas Gerais existem programas interessantes com produtores de baixa escala (dentre eles, "tiradores de leite") que vêm dando ótimos resultados, assim como o projeto da Embrapa Sudeste, como você mesmo disse.

Portanto, há sim mecanismos de levar a esse público o conhecimento para a adequação da produção.
MÁRIO SÉRGIO FERREIRA ZONI

PONTA GROSSA - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 17/11/2006

Guilherme,

Conheço bastante a realidade da produção leiteira de Minas Gerais até por ter passado grande parte da minha vida na Zona da Mata. O fato de um produtor ser pequeno, médio ou grande não faz a menor diferença, pois conheço muitos produtores progressistas que são micro ou pequenos produtores (veja o exemplo fantástico dos produtores envolvidos com o projeto da Embrapa Sudeste), assim como conheço muitos "tiradores de leite" que são latifundiários.

Essa lenga-lenga de ajuda oficial em modelos paternalistas já se exauriu, e nem tem mais sentido debater sobre algo que não tem viabilidade econômica por não haver fonte de recursos suficientes para amparar os ineficientes; por isso que vejo para estes produtores com baixa expectativa uma boa alternativa de faturamento mensal.

Por fim acho a expressão "sanidade bacteriológica" envolve muito mais que qualidade bacteriana do leite, envolve controle de zoonoses como a brucelose e tuberculose, que muitos produtores não têm a mínima idéia do que seja.
GUILHERME GONÇALVES TEIXEIRA

CLÁUDIO - MINAS GERAIS - MÉDICO VETERINÁRIO

EM 10/11/2006

O estado de Minas Gerais possui um rebanho bovino de cerca de 20 milhões de cabeça, das quais 8 milhões são de vacas produzindo anualmente aproximadamente cerca de 6 bilhões de litros de leite. Esta bovinocultura está presente em 330 mil propriedades rurais, gerando cerca de 700 mil empregos diretos. Isto representa uma média de 60 cabeças, sendo 24 vacas por propriedade e com uma produção de no máximo 100 litros/dia, caracterizando para Minas, uma predominância de pequenos pecuaristas que se enquadram, na maioria dos caso, na chamada agricultura familiar.

Gostaria de saber para onde irão estes "tiradores de leite" se isso realmente acontecer. Suas terras são aptas ao cultivo da cana? E a questão social não é relevante? Será que se estes produtores forem capacitados, fomentar o cooperativismo entre eles, garantir uma assistência técnica de qualidade, sua produção não poderá somar à produção do país, e quem sabe um dia possamos ser os maiores exportadores de lácteos do mundo.

Acho que não podemos condenar um grupo de pessoas pela falta de acesso à educação e conhecimento, se as oportunidades não chegaram até eles. O que temos que fazer é levar o conhecimento até eles; qualidade microbiologica de leite não está relacionada ao nivel tecnológico, e sim à higiene.
ANTÔNIO ROBERTO POLITO MEDEIROS

GUAXUPÉ - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 10/11/2006

Quando você fala que os verdadeiros produtores de leite são aqueles que permaneceram na atividade, embora seja óbvia sua afirmação, dá a entender que os produtores que não resistiram à tentação da caninha, foram incompetentes. Não acredito que você tenha tido esta intenção, e concordo que a caninha tenha contribuído para a saída do produtor de leite insatisfeito para o arrendamento de terra para cana. Mas não concordo que o motivo seja só por ineficiência.

Muito dos progressistas, como você os chama, como dos intermediários e dos sobreviventes que mudaram de ramo, foram empreendedores que, embora conhecedores do seu ramo de negócio, cansaram dos juros altos que corroem o patrimônio pela falta do capital para aumentar a produtividade e se tornar competitivo, cansaram dos altos e baixos preços do leite ocasionados não pela simples lei da oferta e da procura, que todos nós conhecemos, e sim pelo comprador predador, pelo leite fraudado, pela imposição dos supermercados, pela política cambial e suas conseqüências nas importações, pelo Mercosul, etc, etc.

Cansaram também de tentar saber seu custo de produção, por desconhecerem as variações climáticas, pela má qualidade da matéria-prima que maus fornecedores lhe venderam, pela má qualidade do sêmen que lhe entregaram, pelo baixo nível técnico de alguns profissionais (graças a Deus que tive o Humberto e o Reny), pelo baixo nível da mão-de-obra, que depois de treinada te abandona, pela incerteza do passivo trabalhista, pela incerteza da energia elétrica e o leite azedo, ete, etc.

O cansaço amadurece o produtor, e diante de uma oferta tentadora e certa de uma caninha, às vezes é melhor saboreá-la e descansar...

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Antônio,

Realmente a intenção não foi completamente esta, até porque existem diversas razões para um produtor abandonar a propriedade, tais como doença, problemas relacionados com herança, inadequação ambiental, etc...

Quanto ao conhecimento do ramo de negócio, discordo da afirmação de que todos os produtores são empreendedores capazes, pois saber tirar leite não é saber produzir leite. Este aparente problema de semântica, na verdade, é o diferencial que permite um produtor migrar de uma condição de rentabilidade negativa para uma situação de geração de lucros e remuneração do capital, mesmo quando há desafios e percalços no caminho.

Quanto ao mercado, realmente a porteira para fora muitas vezes causa desânimo, por isso, defendo a necessidade de copiarmos idéias e estratégias como as da Fonterra e da Dairy Farmers. Só com cooperativas fortes e parceiras teremos um mercado mais sadio, onde as empresas privadas competirão com players vinculados realmente ao produtor.
MARCO POLO BOTELHO JUNQUEIRA JUNIOR

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 09/11/2006

Prezado Mário,

Concordo com o seu posicionamento, e realmente espero que esta visão se consolide. O que mata o setor hoje são justamente os produtores que subsidiam a produção e que também compõem a tal massa de manobra.
FERNANDO ANDRADE GARCIA

ENTRE RIOS DE MINAS - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 09/11/2006

Caro Mário,

Gostaria de parabenizá-lo, pois você falou tudo nesse artigo. Concordo em número, gênero e grau. Tenho acompanhado seu trabalho e admiro sua postura profissional de ponta, um técnico atualizado e que leva informações a seus clientes, ciente do papel pedagógico que nós, técnicos, temos em nosso apertado setor.

Então ergamos nossas taças plenas de leite de qualidade, e como você bem disse: Viva a caninha, que abrirá as portas silenciosamente e sem querer para a profissionalização da pecuária leiteira brasileira!

Na Cayuaba, estamos sempre buscando ser dos produtores progressistas.

Um forte abraço.
JOSÉ DE JESUS SANTOS

SANTO ANASTÁCIO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 08/11/2006

Nós precisamos mesmo de profissionais no setor para poder valorizar o nosso produto e não ficar nas mãos dos outros, como hoje, que não temos sequer o direito de colocar preço no que lutamos muito para produzir.

Mas com certeza essa situação vai mudar muito em breve, pois não pode continuar como está por muito tempo.
MÁRCIO F. TEIXEIRA

ITAPURANGA - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 08/11/2006

Prezado Mário,

Olhando pelo aspecto prático, acredito que você está certo. Porém, analisando a situação daqueles produtores que estão lutando para sobreviver, e tendo a produção de leite como uma atividade que deveria ser prioridade dentro da sociedade e do governo brasileiro, principalmente para os agricultores familiares (pequenos e médios), acredito que o processo relatado é excludente e injusto.

Para se conseguir ganhos por hectare e para poder ser competitivo e ser "bom" produtor, tem que existir uma série de fatores "motivadores" para se produzir. Além disso, grande parte dos produtores, bons, não tem capital suficiente para imprimir um ritmo de crescimento (urgente) para competir com empresas canavieiras que possuem incentivos (vários) e que, na minha opinião, geram um resultado social (digo emprego e distribuição de renda) duvidoso. Sem falar do desastre das áreas desmatadas e das queimadas para o plantio da cana.

Primeiro, antes de exigir que os produtores sejam competitivos, o estado e a sociedade deveriam priorizar as necessidades do campo além de prestar os serviços e a capacitação necessários ao desenvolvimento técnico e financeiros das famílias.

<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Márcio

Conforme já declinei no artigo, não acredito neste mundo dividido em pequenos e grandes. Por trabalhar com produtores de leite há muitos anos, acredito que há os eficientes, que chamei de progressistas, e os ineficientes que são os sobreviventes, e permeando os dois grupos um grande universo de produtores buscando algo que ainda não definiram.

Quanto à lenga-lenga do auxílio ao pequeno por ser pequeno, acredito não existir a menor viabilidade financeira e técnica, até porque esta idéia de atuação e ingerência governamental só encontra eco em saudosistas.

Os produtores que estão sendo assistidos pelo programa da Embrapa Sudeste são micro e pequenos produtores que ao se transformar em eficientes encontram viabilidade técnica e financeira para sua família.

Quanto à ação desmatadora e poluidora das usinas, acredito que não se aplica ao cenário que vemos, até porque as áreas citadas são áreas de pecuária e portanto já desmatadas.
CLÁUDIO GUILHERME VON HOHENDORFF

FLORIANÓPOLIS - SANTA CATARINA - ESTUDANTE

EM 08/11/2006

É bem assim, mandam o motorista do caminhão buscar o leite, e ainda pagam só depois de um mês. E pior, os pequenos agricultores são os que sofrem mais. Daí é que vem um dos sustentos da sua família, o leite.

Teria que ter um apoio do governo, no sentido de valorizar o pequeno agricultor, com sementes, planejamento de terreno, infra-estrutura, o mínimo para uma boa excelência do leite. Depois até poderia cobrar do grande tomador de leite, através de taxação.

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