ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

A renda do brasileiro e seus gastos com lácteos

POR ARYEVERTON FORTES DE OLIVEIRA

E GLAUCO RODRIGUES CARVALHO

ESPAÇO ABERTO

EM 21/09/2006

7 MIN DE LEITURA

1
0
Nas discussões correntes sobre cenários e rumos do complexo agroindustrial do leite, as informações de mercado são elementos cruciais para o desenvolvimento das estratégias empresariais, relações entre agentes nas cadeias produtivas e políticas públicas. Informações sobre o perfil e as tendências do consumo de bens ajudam a definir investimentos para a produção e a inovação em lácteos e para o marketing das empresas.

Esse artigo trata de uma imersão nos dados de consumo final da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE para entender características e diferenças regionais no consumo de produtos lácteos. Ademais, compreender e antever tendências nos mercados consumidores são atividades importantes para o direcionamento de esforços na ampliação de pesquisas como as relacionadas com os aspectos funcionais e nutricionais o leite.

Para provocar a discussão, são apresentadas estimativas de um parâmetro básico para a análise econômica: a elasticidade renda da despesa com produtos lácteos. Este conceito econômico representa uma medida da intensidade da variação percentualmente do dispêndio monetário com aquisição de um produto a partir da elevação de um ponto percentual na renda de um consumidor típico de uma região. Essa informação evidencia bem as diferenças na propensão a consumir dos brasileiros.

Nossa história registrou uma elevação abrupta no consumo de produtos lácteos e outros alimentos no Brasil durante os primeiros anos do Plano Real. Neste período foi registrada uma significativa elevação na renda real das famílias, especialmente das classes mais pobres, cujos valores monetários que carregavam nos bolsos deixaram de ser corroídos pela inflação. Nos momentos anteriores e posteriores à estabilização de preços, quando a renda real não sofreu alterações significativas, o consumo aparente de produtos lácteos permaneceu relativamente estagnado.

Figura 1. Consumo per capita aparente de produtos lácteos no Brasil, em litros.


Fonte: CNA, OCB/CBCL, Leite Brasil e Embrapa Gado de Leite (2005)

A elevação do consumo devido ao aumento abrupto da renda real é um sinal de que um significativo efeito renda persiste no consumo dos lácteos. Quanto maior o crescimento da renda per capita, especialmente nas faixas de população mais pobres, maior tende a ser o impulso à elevação do consumo. Deve ser lembrado também que um espaço significativo para crescimento do consumo de lácteos advém do crescimento populacional, que tem sido em torno de 1,5% ao ano.

A estagnação do consumo de lácteos observada na Figura 1 pode ter sido determinada pela estagnação da renda. Além disso, como pode ser observado na POF, do total de despesas das famílias brasileiras, cerca de 93,26% são caracterizadas como despesas correntes. A conclusão, portanto, é que a renda das famílias encontra-se altamente comprometida com gastos rotineiros. Na comparação com a POF de 1995-1996, verificou-se forte incremento no destino da renda para gastos com habitação, principalmente aluguel, e transporte.

Contudo, nos últimos anos contribuiu também o lançamento de uma série de produtos concorrentes dos lácteos, como sucos prontos e bebidas a base de soja, usados largamente no desjejum das famílias brasileiras. O setor tem respondido a concorrência com o lançamento de campanhas de marketing em prol do consumo. Essas campanhas têm cunho institucional ou empresarial, cujo alicerce encontra-se na inovação de produtos.

Qualquer que seja a ação, no entanto, sua efetividade será maior ou menor em função das diferenças regionais no consumo de produtos primários, determinadas por diferenças nas preferências de consumidores e na distribuição da renda por faixas da população. No Brasil, os lácteos ocupam entre 9,4 e 12,3% da despesa com alimentos, segundo a POF do IBGE. E este é um espaço ocupado por empresas competitivas e que têm sido bastante agressivas no lançamento de produtos.

Diante da diversidade, o consumidor se tornou mais exigente quanto à qualidade dos produtos, aos preços e à marca, uma decorrência também da melhoria dos hábitos de consumo e de seu poder aquisitivo.

Os dados da POF do IBGE, realizada entre 2002 e 2003, serviram de base para estimarmos valores para elasticidades renda do dispêndio com produtos lácteos. O procedimento para estimar a elasticidade-renda das despesas com alimentos seguiu Hoffmann (2000) (1), que estimou os valores para a POF 1995-1996.

A POF 2002-2003 revela que nas áreas pesquisadas, a desigualdade e a pobreza são maiores no Nordeste e Norte do Brasil, onde políticas de distribuição de renda podem provocar mudanças mais significativas na composição da cesta de alimentos. Hábitos de consumo por classes de renda e região são observados em todo o Brasil, como se verifica na Tabela 1.

As despesas com alimentação aumentam sua participação nas regiões Norte e Nordeste, notadamente nos níveis de renda mais baixos. Diferenças regionais de participação dos gastos nas despesas tornam-se bem menos significativas para famílias que percebem um rendimento médio maior que mil reais. Essas informações induzem ao raciocínio de que acréscimos de rendimento aumentam o consumo de alimentos em intensidade cada vez menor à medida que se acumulam.

Tabela 1. Participação das despesas com alimentação por classes de rendimento monetário e não monetário mensal familiar, para 2003, em porcentagem.


Políticas públicas que reduzem preços dos alimentos, como isenção fiscal ao longo da cadeia produtiva, têm importância aumentada nas regiões onde a participação da alimentação nas despesas é maior. A aquisição de laticínios, em quilogramas, difere substancialmente entre as regiões do Brasil.

A Tabela 2 apresenta os dados de consumo de leite e derivados per capita anual, segundo a POF. Os valores originalmente em quilos do produto foram convertidos em equivalentes litros de leite, para que a visão de mercado contemple os produtos em termos de significância para o escoamento da produção primária. Os mercados do Nordeste e Norte diferem dos demais no consumo de um volume considerável de leite na forma em pó.

Tabela 2. Equivalente litros de leite, per capita, destinados aos produtos da POF.


Os valores mais elevados ocorrem no Centro-Oeste, no Sudeste e no Sul do país, e este consumo, nos domicílios com rendimentos mais elevados, são maiores que o dobro do consumo em domicílios com rendimento mais baixo. A aquisição de laticínios é substancialmente maior nas regiões Sudeste e Sul. A aquisição de queijos e requeijões é maior no Sudeste e Sul, enquanto a aquisição de leite de vaca fresco é menor no Sudeste.

A elasticidade da despesa com leite em pó integral foi negativa no primeiro estrato de renda. Isto classifica o bem como inferior, ou seja, elevações no nível de renda levam a reduções no dispêndio com o mesmo. A Tabela 3 mostra que as elasticidades-renda do dispêndio decrescem para níveis de renda mais elevados.

As elasticidades pelo agregado leite e derivados e pelo agregado leite de vaca mostraram-se baixas. O leite em pó foi o produto com menor elasticidade-renda, chegando a sofrer queda no consumo para aumentos de renda em classes que recebem entre zero e R$ 1.200,00. O dispêndio com queijos foi bem mais elástico.

Tabela 3. Elasticidades-renda no Brasil, em %, por faixa de renda.


As tabelas 4 e 5 mostram que o consumo de leite em pó é mais elástico nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. No Nordeste, a demanda é bastante elástica no segundo estrato de renda. Queijos apresentaram elasticidades elevadas nas duas regiões, mas para os níveis de renda mais elevados as demandas foram inelásticas, como em outras regiões do país.

Tabela 4. Elasticidades-renda na região Norte, em %.


Tabela 5. Elasticidades-renda no Nordeste, em %.


A tabela 6 mostra a elasticidade-renda do dispêndio na região Centro-Oeste. As elasticidades de leite de vaca são baixas, especialmente para o segundo estrato de renda, que possui renda média entre R$ 375 e R$ 639.

As elasticidades dos queijos foram mais elevadas que as de outros produtos, mas o valor não chegou a ultrapassar a unidade. As menores elasticidades ocorreram para o leite integral em pó, com valores próximos de zero. Comportamento semelhante foi observado na região Sul do Brasil, como se verifica na Tabela 7.

Tabela 6. Elasticidades-renda no Centro-Oeste, em %.


Tabela 7. Elasticidades-renda no Sul, em %.


A região Sudeste, que congrega o maior mercado consumidor do país, apresenta valores de elasticidades para o agregado de leite e derivados próximos a 0,5, ou seja, o dispêndio aumenta 0,5% com uma elevação de 1% na renda. O leite integral em pó foi um bem inferior nesta região e o dispêndio com queijos tende a crescer pouco com crescimento da renda. O leite de vaca se mostrou bastante inelástico.

Tabela 8. Elasticidades renda no Sudeste, em %.


Em síntese, estes resultados indicam que as elasticidades-renda para o agregado de leite e derivados no Brasil mostrou-se inelástica, ou seja, será necessário um salto de renda mais significativo, como o verificado no pós Plano Real, para que o consumo de lácteos evolua mais fortemente. Além disso, melhorias de renda nas classes mais baixas e desoneração tributária dos produtos poderão contribuir mais para a expansão do consumo de lácteos.

Por fim, estratégias institucionais de longa duração, que promovam a imagem do leite perante a população, podem auxiliar para elevar a elasticidade renda de lácteos e incrementar a presença destes produtos no hábito de consumo dos brasileiros.

(1) HOFFMANN, R. Elasticidades-renda das despesas com alimentos em regiões metropolitanas do Brasil em 1995-96. Informações Econômicas, v.30, n.2, p.17-23. 2000.

ARYEVERTON FORTES DE OLIVEIRA

GLAUCO RODRIGUES CARVALHO

1

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

THIAGO

NITERÓI - RIO DE JANEIRO - PESQUISA/ENSINO

EM 01/02/2014

Que beleza de estudo! Parabéns. Me ajudou muito a construir um início de racional para uma pesquisa sobre a viabilidade de uma empresa.

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do MilkPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

MilkPoint Logo MilkPoint Ventures