Décio José Schnack¹

Desde o momento em que chegou ao Brasil a notícia sobre os atos praticados pela administração da Parmalat na Itália os produtores de leite no Brasil vivem angustiados. Aqueles que são ou eram fornecedores da multinacional por motivos óbvios e os demais pelo risco da concentração das indústrias de laticínios no Brasil. Além dos produtores não podem ser esquecidos os prestadores de serviço, tais como transportadores, empresas e profissionais conveniados e, naturalmente, os funcionários, todos estão apreensivos.

As notícias veiculadas pela imprensa nos dão conta de que a empresa pagou as contas dos produtores do mês de dezembro. Em parte esta notícia é verdadeira, mas somente em parte. Acontece que do valor depositado no Banco do Brasil em janeiro para atender os compromissos parte do valor depositado foi retido pelo banco para liquidação de dívidas anteriormente contraídas pela Parmalat com a Instituição Financeira. Com esta retenção muitos produtores ficaram sem receber e, em conseqüência, não conseguem solver seus compromissos junto a fornecedores de insumos. Isto irá causar uma verdadeira tragédia se não for encontrada uma solução. Segundo se tem conhecimento a empresa recorreu à Justiça onde logrou êxito a ação interposta, no entanto, o banco valendo-se de prerrogativas legais continua questionando a decisão da Justiça e não liberando os recursos que na realidade estão destinados aos produtores. Mais uma vez a história se repete, o castigado e prejudicado é o produtor que está na ponta mais fraca.

Enquanto o produtor rural for tratado desta forma, dificilmente teremos tranqüilidade para produzir neste país. A solução que vem sendo colocada para os produtores é através de financiamento, no entanto, isto apenas prorroga o desfecho que todos sabem: a redução da produção de leite no país. Cabe perguntar: de que forma uma atividade de margem reduzida entre o custo de produção e o preço de venda do produto poderá auferir resultados para o resgate de mais esta dívida, que lhe é imposta com o rótulo de solução para a liquidação de suas dívidas, geradas pelo não recebimento do valor de sua produção de 30 ou 60 dias?

É imperiosa a intervenção das autoridades no sentido de encontrar uma solução que permita a continuidade da atividade e que sejam punidos os responsáveis por esta situação de penúria de produtores, funcionários e prestadores de serviço relacionados com a empresa.

Os efeitos e conseqüências de mais esta crise na economia brasileira são de extensão inimaginável pelo simples fato que não está restrita a uma determinada região ou atividade econômica. Os efeitos negativos se refletirão sobre vários setores da economia, razão pela qual se tornam necessárias ações conjuntas das entidades de classe e governantes de todos os níveis em defesa do desenvolvimento da produção primária.

1 - Produtor e Diretor da Assoc. Produotes Leite "B" do V. Taquari (RS)