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Queijo de leite cru ou queijo de leite pasteurizado?

LIPA/UFV

EM 26/05/2023

8 MIN DE LEITURA

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A produção de queijos no Brasil a partir de leite cru ou leite pasteurizado é um objeto de grande debate legal entre os diferentes setores da cadeia produtiva do leite.

Os queijos artesanais brasileiros, tradicionalmente produzidos com leite cru, enfrentaram restrições na produção e comercialização devido a regulamentações voltadas para a indústria e para segurança alimentar dos consumidores. No entanto, nos últimos anos, os queijos artesanais produzidos com leite cru têm ganhado espaço e buscado reconhecimento legal para serem comercializados com a segurança jurídica dos produtos elaborados com leite pasteurizado.

Neste contexto, o processamento de alimentos, isto é, a fabricação de queijos em pequenas agroindústrias familiares é uma alternativa altamente benéfica para famílias que vivem em regiões rurais. A utilização de tecnologias simples, acessíveis e eficientes, aliadas à comercialização a preços acessíveis, torna a produção de queijos artesanais em pequenas agroindústrias familiares uma atividade lucrativa para os pequenos produtores. Essa prática, além de gerar empregos e renda, também impulsiona o desenvolvimento regional e melhora significativamente a qualidade de vida das famílias envolvidas (Lopes et al., 2006).

Neste contexto, esse artigo técnico tem como objetivo apresentar pontos importantes sobre a produção, comercialização e consumo de queijos produzidos com leite cru ou pasteurizado.

 

Queijo de leite cru X Queijo de leite pasteurizado

O queijo de leite cru é produzido a partir de leite não pasteurizado. Ao utilizar leite cru, o queijo desenvolve características únicas, como aromas e sabores mais complexos, resultantes da atividade de bactérias naturalmente presentes no leite. Essas bactérias constituem um microbioma específico do queijo, conferindo-lhe características sensoriais distintas.

Por outro lado, o queijo de leite pasteurizado é produzido a partir de leite que passou pelo tratamento térmico, que visa eliminar bactérias patogênicas e reduzir a carga microbiana geral. Desta forma, a pasteurização garante a segurança microbiológica do produto, eliminando potenciais microrganismos que poderiam colocar em risco a saúde do consumidor. No entanto, esse processo também pode eliminar algumas bactérias benéficas presentes no leite cru, resultando em um queijo com sabor e aroma menos acentuado e mais padronizado.

Bom, você pode estar perguntando: Então se eu consumir queijo de leite cru eu vou passar mal, uma vez que essas bactérias patogênicas estarão presentes? Neste caso, é importante estar ciente de que cada tipo de queijo produzido com leite cru requer um período específico de maturação para garantir a conformidade com os padrões microbiológicos estabelecidos. É crucial observar que durante o processo de maturação ocorre a morte desses microrganismos patogênicos, minimizando impactos na saúde dos consumidores.

Por isso é essencial compreender o método tecnológico aplicado em cada queijo e determinar a melhor abordagem a ser adotada para cumprir os requisitos da legislação atual. Em nível federal, o Regulamento de Inspeção Industrial de Produtos de Origem Animal (RIISPOA) do Ministério da Agricultura, determina no Decreto 9.013/2017 no Artigo. 373 que:

“§ 6º Fica excluído da obrigação de pasteurização ou outro tratamento térmico o leite que se destine à elaboração de queijos submetidos a um processo de maturação a uma temperatura de superior a 5 ºC (cinco graus Celsius) durante um período não inferior a 60 dias.

§ 7º O período mínimo de maturação dos queijos que trata o § 6º pode ser alterado, após a realização de estudos científicos conclusivos sobre a inocuidade do produto ou em casos previstos em RTIQ (Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade).” (BRASIL, 2017)

Neste contexto, a utilização de matéria-prima inadequada, juntamente com más condições higiênico-sanitárias durante a fabricação e comercialização, contribui para transformar os queijos frescos produzidos com leite cru em produtos de alto risco para a saúde dos consumidores (Zegarra et al., 2009; Almeida et al., 2012; Torres-Vitela et al., 2012).

O queijo Minas Frescal, por exemplo, apresenta alta susceptibilidade a contaminações microbianas, que podem ocorrer durante a obtenção do leite ou por contaminações durante e /ou após o processamento, especialmente quando produzidos de forma artesanal (Rocha et al., 2006, Zegarra et al., 2009). Neste caso, é fundamental a aplicação do processo de maturação para garantir a estabilidade do produto.

Além disso, a regularização sanitária desses estabelecimentos e a aplicação de robustos processos de boas práticas de ordenha e produção contribui para a melhoria dos padrões microbiológicos dos produtos fabricados de modo a reduzir os riscos para a saúde pública e possibilita a inserção do produto no mercado formal facilitando sua comercialização e garantindo a continuidade da atividade (Lombardi & Correio, 2014).

Em paralelo, o queijo produzido com leite de boa qualidade, reduz o risco de microrganismos indesejáveis, como por exemplo, os coliformes, que provocam estufamento precoce (olhaduras), além de aroma e sabor comprometidos (Figura 1).
 

Figura 1. Exemplo de um queijo com olhaduras produzidos por microrganismos indesejáveis.

queijo de má qualidade
Fonte: Macalé
 

A etapa de pasteurização do leite desempenha um papel crucial na produção de queijos, visando eliminar os microrganismos potencialmente prejudiciais encontrados no leite cru, e garantindo a segurança do consumidor (Ressutte et al., 2018).

Existem dois métodos de pasteurização: lenta (62-65 °C/ 30 min) e rápida (72 °C / 12-15 segundos). Além disso, existe o processo de esterilização do leite pelo método UAT (ultra alta temperatura) ou no inglês UHT (ultra high temperature) (135-145 °C / 2-5 segundos). No entanto, a utilização de leite UHT não é recomendada para a fabricação de queijos, devido à desnaturação das proteínas do soro do leite que se associam as micelas de caseínas e afetam negativamente formação da coalhada, resultando em uma redução no rendimento de queijos.

No processo de coagulação, etapa inicial da fabricação do queijo, a quantidade de íons de cálcio é um fator crucial para formação do gel (Beliciu et al., 2012). Na fabricação de queijos utilizando leite pasteurizado, é comum a adição cloreto de cálcio, com o objetivo de repor o cálcio que se tornou insolúvel durante o processo de pasteurização. Essa adição ajuda a aumentar a firmeza da coalhada e reduz o tempo de coagulação. Ação esta que não é necessária na produção de queijos produzidos com leite cru.

Além disso, conforme destacado anteriormente, os queijos produzidos com leite cru apresentam aromas e sabores mais intensos, resultantes da atividade de diversas bactérias naturalmente presentes nesta matéria-prima.

Por outro lado, em queijos produzidos com leite pasteurizado há a necessidade da adição de microrganismos (culturas láticas específicas e padronizadas) para o desenvolvimento das características sensoriais desejáveis do respectivo queijo durante a maturação, o que permite uma maior uniformidade e padronização da qualidade do produto (Paula et al., 2013).

Conclusão

Portanto, percebemos que, a produção de queijos no Brasil envolve diversos desafios regulatórios na busca de legislações mais robustas que atendam os pequenos produtores e tragam maior reconhecimento legal para queijos artesanais produzidos com leite cru.

Em paralelo, a adoção das boas práticas de fabricação e a pasteurização do leite são ações fundamentais para garantir a inocuidade desses alimentos. Ambas as formas de produção têm seus defensores e apreciadores.

Os amantes do queijo de leite cru valorizam sua complexidade de sabor e conexão com as tradições locais, enquanto os adeptos do queijo de leite pasteurizado optam por sua segurança alimentar e uniformidade de características.

Em resumo, a escolha entre queijo de leite cru e queijo de leite pasteurizado depende dos gostos e preferências pessoais. Ambas as opções oferecem experiências sensoriais distintas e contribuem para a diversidade e riqueza da indústria de queijos. O equilíbrio entre tradição, qualidade, segurança e viabilidade econômica é essencial para impulsionar o setor de queijos e beneficiar todos os setores da cadeia de lácteos.

 

Autores

Lucas Soares Silva (Graduando em Ciência e Tecnologia de Laticínios e membro do Laboratório de Inovação no Processamento de Alimentos- LIPA/DTA/UFV).

Fernanda Fonseca Barbosa (Graduanda em Engenharia de Alimentos e membro do Laboratório de Inovação no Processamento de Alimentos- LIPA/DTA/UFV).

Profa. Dra. Érica Nascif Rufino Vieira (Professora do Departamento de Tecnologia de Alimentos da UFV e coordenadora do Laboratório de Inovação no Processamento de Alimentos- LIPA/DTA/UFV).

Prof. Dr. Bruno Ricardo de Castro Leite Júnior (Professor do Departamento de Tecnologia de Alimentos da UFV e coordenador do Laboratório de Inovação no Processamento de Alimentos- LIPA/DTA/UFV).

 

Agradecimentos

Os autores agradecem a CAPES - Código Financiamento 001; à Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG) pelo financiamento do projeto APQ-00388-21; ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo financiamento do projeto (429033/2018-4) e pela bolsa de produtividade à B.R.C. Leite Júnior (n°306514/2020-6).

 

Referências:

BELICIU, C. M.; SAUER, A.; MORARU, C. I. The effect of commercial sterilization regimens on micellar casein concentrates. Journal of Dairy Science, v. 95, n. 10, p. 5510–5526, out. 2012.

BRASIL. Decreto nº 9.013, de 29 de março de 2017. Regulamenta a Lei nº 1.283, de 18 de dezembro de 1950, e a Lei nº 7.889, de 23 de novembro de 1989, que dispõem sobre a inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal. [S. l.], 29 mar. 2017. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/mpa/legislacao/legislacao-geral-da-pesca/decreto-no-9-013-de-29-03-2017.pdf/view. Acesso em: 23 maio 2023.

BELICIU, C. M.; SAUER, A.; MORARU, C. I. The effect of commercial sterilization regimens on micellar casein concentrates. Journal of Dairy Science, v. 95, n. 10, p. 5510-5526, 2012.

PAULA, Junio César Jacinto de; CARVALHO, Antônio Fernandes de; FURTADO, Mauro Mansur. Princípios básicos de fabricação de queijo: do histórico à salga.. Revista do Instituto de Laticínios Cândido Tostes, [S.l.], v. 64, n. 367, p. 19-25, dez. 2013. ISSN 2238-6416. Disponível em: <https://www.revistadoilct.com.br/rilct/article/view/76/82>. Acesso em: 23 maio 2023.

LOMBARDI, E. C.; CORREIO, M. T. N. P. R. Qualidade microbiológica do leite e do queijo Minas Frescal processados em duas fábricas de laticínios sob inspeção municipal em Uberlândia MG. Veterinária Notícias, v.20, n. 2, p.71-78, 2014

LOPES, M. A.; CARMO, E. A.; LIMA A. L. R.; CARVALHO, F. M. Análise de rentabilidade de uma empresa com opção de comercialização de queijo ou leite. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.58, n.4, 2006.

ROCHA, J. S.; BURITI, F. C. A.; SAAD, S. M. I. Condições de processamento e comercialização de queijo-de-minas Frescal. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.58, n.2, p.263-272, 2006

RESSUTTE J. B.; STELLA T. R.; POZZA M. S. S.. Madrona GS. Análise microbiológica de queijo tipo colonial produzido a partir de leite cru e pasteurizado. In: Anais do 6º Simpósio de Segurança Alimentar. 2018 Mai 15-18. Gramado, Brasil.

ZEGARRA, J. J. Q.; CAMPBEL, R. C.; BOTTEON, M.; OLIVEIRA, B. C. R. S; BOTTEON, P. T. L.; SOUZA, M. M. Pesquisa de microrganismos em utensílios, leite e queijos de produção artesanal em unidades de produção familiar no município de

Seropédica, Rio de Janeiro. Ciência Animal Brasileira, v. 10, n. 1, p. 312-321, 2009.

Fonte da foto de capa: Freepik

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