Tudo está interligado: nutrição, reprodução, gestão e conforto. Prova disso é o que já sabemos sobre estresse térmico em vacas. Elas comem menos, tem menor eficiência alimentar (com isso produzem menos leite), menor eficiência reprodutiva e maior incidência de patologias - enfatizo aqui as claudicações que erroneamente são traduzidas para o português como laminites (lameness = claudicação, laminitis = laminite).
Sobre vacas secas, já sabemos das inúmeras vantagens do resfriamento eficiente nessa categoria como maior produção de leite na lactação seguinte (2 a 3 litros por dia), maior peso de bezerras nascidas, maior produção dessas bezerras quando em sua fase produtiva...
Mas porque ainda temos TANTOS problemas com estresse térmico nas fazendas?
Ser produtor de leite é uma árdua tarefa de escolher qual problema resolver primeiro, e isso pode ser bom ou ruim.
Quando entendemos que cada problema resolvido é uma oportunidade em potencial para aumentar a eficiência, a atividade se transforma em um oceano azul de oportunidades. Mas se encaramos como “mais um problema”, passa a ser vista como um pesadelo sem fim. Ambas situações estão presentes em todas as fazendas ao longo do ano.
Voltando ao estresse térmico, no início da primavera (setembro), as vacas estão saudáveis e com alta produção de leite. Normalmente, nesse período, o DEL (dias em lactação) do rebanho é o mais baixo do ano e as taxas de concepção estão em valores máximos. E chega a hora de preparar o solo e plantar.
É preciso chuva em volumes suficientes e em frequência adequada para garantir o crescimento da planta. Climatologicamente, o ciclo recomeça. Os problemas para as vacas iniciam: aumento da umidade e calor, o estresse que se instala e aqueles que ainda não apareceram.
A produção das fazendas costuma diminuir em meados do verão (janeiro/fevereiro), quando a colheita se aproxima, os estoques de silagem estão baixos e não para de chover. Em geral janeiro se anuncia como o mês de maior precipitação do ano (ao menos no Sudeste, todo ano é assim). Não dá para construir, pois as chuvas não permitem.
O caixa da fazenda está comprometido para a ensilagem e mesmo terceirizando o corte, o ponto de silagem vai passar (não para de chover e está uma lama só). Com isso, é torcer para as vacas resistirem a mais um ciclo de primavera / verão, sem um sistema para o enfrentamento do estresse térmico.
É possível evitar? É possível não passar por isso?
É muito difícil quebrar esse ciclo sem um planejamento prévio para que, no outono e inverno, todas as inovações relacionadas ao conforto animal sejam feitas: sala de espera com resfriamento ou sala de banho, construção de confinamento, pedilúvio, limpeza dos corredores e acessos (no caso de semi-confinamento e sistemas a pasto).
Lembrando que na aquisição de ventiladores há um prazo para a entrega que pode ser de meses, além da ligação da energia. Melhor se preparar para isso também.
Ou seja: o combate ao estresse térmico começa agora, ou já deveria ter começado.
Se um dos problemas a ser resolvido for o estresse térmico, seguramente resolverá uma cascata de outros problemas como consequência de vacas mais saudáveis e mais produtivas. O caixa da fazenda agradecerá no verão com a produção adicional de ao menos 2 a 3 litros por vaca por dia.
Ao pensarmos na fazenda de forma interligada, onde reprodução anda junto com conforto, nutrição e com a gestão, é importante lembrar que no inverno, em geral, todas as peças dessa complexa engrenagem estão rodando bem ou no seu potencial máximo.
Por que não cuidar da engrenagem conforto que vai ser solicitada em meados de setembro/outubro? Por que não, desde já, se preparar para ter um verão menos desafiador? Se não é possível fazer grandes intervenções, que tal começar pelo resfriamento da sala de espera, que não demanda tanto tempo ou dinheiro?
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