Não é difícil diferenciar a manqueira ocasionada pela Luxação da Patela das demais claudicações. O animal acometido apresenta extensão do membro posterior durante uma fase da locomoção, semelhante à uma câimbra, recuperando em seguida o movimento normal da marcha. Em termos técnicos, pode-se descrever o evento como: "fixação rígida das articulações da soldra e do jarrete em posição de extensão". Algumas vezes, a muralha do casco chega a apresentar sinais de desgaste, devido ao atrito com o solo durante o período de extensão do membro.
A Luxação de Patela é uma desordem funcional das articulações, fêmuro-tibial e fêmuro-patelar, podendo ocorrer em ambos os membros. A síndrome pode ser temporária ou permanente, ocorre em ambos os sexos, em diferentes idades e raças. Os fatores predisponentes são ainda motivo de discussão, mas acredita-se que a desordem esteja associada a fatores nutricionais, topografia acidentada, traumatismos e hereditariedade.
Alguns pesquisadores correlacionaram a Luxação da Patela com o período da gestação, alegando que o aumento de peso e demanda metabólica do feto, no terço final da gestação, pode predispor à fixação dorsal patelar (Luxação da Patela) nas vacas gestantes.
O tratamento da Luxação de Patela é cirúrgico, a técnica é simples e os animais apresentam uma rápida recuperação. A cirurgia pode ser realizada nos animais em estação ou em decúbito lateral. É importante enfatizar que, quando a técnica é usada corretamente, os animais não irão mais apresentar a claudicação após a cirurgia. Após a intervenção uma antibióticoterapia sistêmica pode ser utilizada. O prognostico é muito favorável e complicações são raras.
Pesquisadores da Universidade de Auburn - USA, avaliaram durante 6 anos, os fatores associados à idade, raça, sexo e o tratamento cirúrgico dos animais acometidos com Luxação da Patela. O tratamento cirúrgico solucionou a desordem em 90% dos casos. Observou-se também que a raça Brahman apresentou uma maior prevalência da desordem fêmuro-tíbio-patelar.
Pesquisadores da Escola de Veterinária da UFMG avaliaram a técnica cirúrgica de desmotomia tíbio-patelar medial, em 402 bovinos adultos. Foram operados animais de diferentes raças e sexos, portadores de luxação patelar uni ou bilateral. Os animais foram operados em estação, sob anestesia local; apenas os animais de temperamento rebelde foram previamente tranqüilizados com clorpromazina (dose de 0,4-0,6 mg/Kg de peso corpóreo, por via intramuscular). Após a cirurgia, os animais recuperam a locomoção normal.
Em um estudo realizado em 30 fazendas no estado de Goiás, foram avaliados os fatores de risco associados à enfermidade. Observou-se maior ocorrência em fêmeas de dois e três anos, com baixo escore corporal, em lactação e prenhez. Regiões com solo de baixa fertilidade apresentaram maior incidência. Os autores relaram ainda alguns casos de recuperação espontânea.
Em resumo, a Luxação da Paleta é uma desordem que merece atenção para realização do correto diagnóstico. A divulgação dos sintomas desta enfermidade é de grande relevância para que o tratamento seja rapidamente estabelecido e a situação de desconforto seja solucionada. A correção cirúrgica deve ser realizada por um veterinário.
Figura 1. Desenho* do procedimento realizado durante a desmotomia.
* Greenough, P.R.; Weaver, A.D. Lameness in Cattle. 3ed. Saunders: W.B. Company, 1997. p.269.
Fonte:
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Greenough, P.R.; Weaver, A.D. Lameness in Cattle. 3ed. Saunders: W.B. Company, 1997. 336 p.
Silva, O.C., et al. Aspectos Epidemiológicos e Ocorrência de Fixação Dorsal de Patela em Bovinos. Ciência Animal Brasileira, v.5, n. 3, p.149, 2004.