A pecuária nacional tem se intensificado a cada dia, seja nos setores de consultoria e contratação de pessoas especializadas, visando melhorar as áreas de sanidade, manejo e nutrição.
O manejo nutricional é o mais sujeito a mudanças. Por exemplo, em meados de 2000 a proporção volumoso : concentrado era de 60% : 40% nos confinamentos, sendo que hoje em dia existem dietas de baixo grão (até 40% de concentrado energético na dieta total), médio grão (41 a 69%) e alto grão (acima de 70%).
Dietas com altos teores de concentrados energéticos apresentam vantagens em comparação às dietas ricas em volumosos, pois são de fácil depósito e manejo, proporcionam rápido acabamento de carcaça e ganho de peso elevado em animais confinados. Com esse tipo de dieta, o cordeiro que antes ficava de 60 a 90 dias confinado, é terminado em 45 - 60 dias. Porém, apesar dessas vantagens, os animais ficam expostos a algumas afecções digestivas, como acidose, intoxicação por uréia, timpanismo e urolitíase.
A urolitíase é uma enfermidade que ocorre com freqüência em pequenos ruminantes. Os concentrados energéticos, em especial os grãos (milho, sorgo, trigo, arroz, soja etc.), são muito ricos em energia, proteínas e fósforo, porém, são pobres em fibra efetiva, predispondo ao surgimento da urolitíase. Quando as dietas são predominantemente constituídas por grãos ocorre diminuição do tempo de ruminação (cerca de quatro vezes menos que em uma dieta rica em volumosos), diminuindo, então, a produção de saliva.
A alta ingestão de fósforo aumenta a quantidade do mesmo na corrente sanguínea, aumentando sua excreção via urina. A reciclagem do fósforo ingerido se dá pela produção de saliva, a qual é reduzida juntamente com a diminuição do tempo de ruminação. Ao invés de ser excretado pela saliva, o fósforo passa a ser eliminado pela urina, predispondo à formação de cálculos, levando ao quadro de urolitíase. Portanto, quanto maior for o período e capacidade da dieta em estimular a ruminação, menor será o teor de fósforo sangüíneo, e por conseqüência, menor será a eliminação de fósforo pela urina.
O fósforo urinário em altas concentrações em algumas circunstâncias se torna insolúvel, formando cristais que amalgamados, formam cálculos capazes de obstruir a uretra dos pequenos ruminantes. Porém, as quantidades de fósforo excretadas via urina são baixas em ovinos que recebem grandes volumes de forragens ou fibras na dieta total.
A literatura cita que teores de fósforo acima de 0,8% promoveram o surgimento da urolitíase em 73% dos ovinos estudados, sendo que ocorreu maior predisposição naqueles da raça Texel. Os machos são mais acometidos do que as fêmeas devido ao maior comprimento e menor diâmetro de sua uretra. Normalmente, os locais de obstrução são o processo uretral (apêndice vermiforme) e a flexura sigmóide, a qual corresponde ao "S" peniano. Os cálculos geralmente são formados por sais de cálcio ou fosfato. Porém, em pH urinário ácido ocorrerá a formação de cálculos de silicato, e em pH alcalino, de cálculos de estruvita e fosfatos. O pH da urina dos ruminantes tende a ser alcalino. Tal fato, associado à alta ingestão de fósforo predispõe à formação de cálculos de estruvita e fosfatos, principalmente. No entanto, a dieta exerce influência direta no pH urinário.
Animais com urolitíase podem apresentar bruxismo, dor ao urinar, contrações abdominais constantes, urinar em "gotas", presença de sangue na urina e cristais nos pêlos ao redor do prepúcio, semelhantes a areia.
Figura 1: Ovino com urolitíase - nota-se o edema na região prepucial.
Fonte: Google imagem, 2008.
O tratamento deverá ser feito e acompanhado por um médico veterinário, uma vez que o risco de ruptura de uretra ou bexiga é grande nos casos de urolitíase.
Para evitar o surgimento de urolitíase os técnicos têm recomendado o uso de cloreto de amônio para acidificar a urina e prevenir o surgimento dos cálculos. A utilização excessiva deste sal pode desencadear o surgimento de efeitos colaterais, tais como a diminuição do consumo de matéria seca e acidose sistêmica.
Bibliografia consultada
PUGH, D.G. Clínica de Ovinos e Caprinos. São Paulo: Roca, 2004. p.300-305.
RADOSTITS, O. M.; GAY, C. C.; BLOOD, D. C.; HINCHCLIFF, K. W. Clínica veterinária: um tratado de doenças dos bovinos, ovinos, suínos, caprinos e eqüinos. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. 1737 p