O assunto abordado na semana passada gerou vários comentários vindos através do site, por e-mail e até por telefone.
Apenas para esclarecer, o artigo não aprova a redução de preços pagos ao produtor e não busca passar a imagem de que o valor atual do leite está acima do que deveria. Na verdade, os preços continuam não cobrindo os custos de produção, porém chegaram a um patamar em que a pressão de baixa fica mais fácil de ser concretizada. O que se pretendia com o artigo da semana anterior era alertar sobre a possibilidade nova de baixa antecipada nos preços deste ano.
Um dos manifestos sobre o artigo, feito por telefone, perguntava se a argumentação não acabaria por contribuir com a referida baixa nos valores pagos pelo leite. A resposta a esta dúvida é não, pois experientes compradores de leite vem alertando desde janeiro que este ano os preços subiriam e cairiam antecipadamente, como já havia ocorrido no ano 2001.
No entanto, antes que houvesse indícios do fato, como é o caso do comportamento dos preços no mercado final, falar sobre a possibilidade de movimento de baixa antecipadamente seria especulação.
Neste mês de abril, os preços do longa vida no atacado permaneceram praticamente estáveis, enquanto no varejo houve aumento significativo nos preços médios na capital e ligeira queda no interior do Estado de São Paulo. Ou seja, parte dos aumentos aos consumidores pode ter sido fruto da ação do varejo, visando ampliação de margens antevendo uma queda nos preços do atacado.
Esta pequena retração no varejo do interior foi confirmada por um dos leitores do artigo da semana passada, através de e-mail.
O alerta, portanto, é o seguinte: o aumento nos preços do leite ao produtor, não acompanhado de aumentos nos valores do atacado, implica em pressão de baixa nas cotações da matéria prima. A indústria não trabalhará no vermelho para garantir condições melhores aos produtores.
Outro comentário de leitor questionava se a análise da variação nos preços do leite, com base em valores regionais isolados, não estaria errada. Sem dúvida estaria errada. No entanto, comparou-se preços médios regionais para se definir as porcentagens que foram divulgadas e não os valores mais elevados.
Foram usadas, na análise, as médias previstas para o aumento dos preços de abril, desconsiderando os valores mais elevados. Se um produtor que recebe R$0,36/litro chegou a receber R$0,27/litro, a variação percentual ao longo do ano foi de quase 30%. Na média geral, foi o que ocorreu.
A grande sacada da indústria, quando oferece regionalmente preços mais elevados, é que acaba desestruturando qualquer cooperativa ou associação que vem se fortalecendo. E conseguem. Isso está ocorrendo principalmente em algumas regiões do interior de São Paulo e de Goiás. Há casos de oferta de preços de R$0,48/litro para produtores que produzem 400 litros por dia.
Evidentemente que receberá pela produção de um mês e depois o preço cai como caiu no ano passado, ficando em médias de preços anuais inferiores às suas necessidades.
Todos concordam com outro comentário de que os preços deveriam ser formados a partir do produtor. Nada mais justo. No entanto, não é assim que ocorre na realidade. A impressão, por parte dos consumidores, de que os preços são mais elevados do que deveriam ser, já foi passada pelo Jornal Nacional, onde produtores dificilmente terão espaço em sua defesa, como já foi colocado na semana passada.
Quando o preço do leite se reduzir a patamares inferiores, a indústria lavará suas mãos, pois alegará que o produtor recebeu 30%, 40% e até 50% a mais e, por este motivo (retração no consumo), os preços caíram. Reduzem suas margens num mês e ganham em vários outros meses às custas do produtor desinformado.
Os preços de R$0,50/litro foram citados por um simples motivo. Não falaram que os preços de Goiás no ano passado, ao produtor, caíram de R$0,46 para R$0,25/litro por causa da retração do mercado? Pelos levantamentos da Scot Consultoria, o maior preço médio pago em 2001 em Goiás aos produtores foi R$0,38/litro. Portanto, quantos produtores acabaram recebendo o "preção" que foi divulgado? Mas na hora de baixar para R$0,25, provavelmente foi para a maioria.
Um outro leitor alegou ainda que há muita variação entre as marcas de longa vida e os preços de diversos supermercados, o que torna errada a análise apresentada no Jornal Nacional. De fato, há muita variação entre as marcas, por isso a Scot Consultoria faz uma análise considerando diversos fornecedores, desde os mais consagrados até os menos conhecidos. Na verdade, no atacado, os preços variaram 28% entre os valores de hoje e os de alguns meses atrás. Por conta do varejo, pressão e manipulação, atinge-se os 35% divulgado pela Globo.
A situação específica deste mês de abril vai a favor de quem se interessa por preços baixos pagos pela matéria prima. Ao produtor é interessante o resultado do ano inteiro e não apenas de um mês. Num momento como o atual, com a crise nos preços se aproximando, o produtor tem basicamente duas saídas:
- Arriscar uma aposta no mercado, pois há remota possibilidade de que realmente haja uma escassez do produto e os preços não recuem como parece que recuarão.
- Ou forçar, no momento de alta nos preços, o estabelecimento de contratos de fornecimento com valores pré estabelecidos, como muitos já vem fazendo.
Não há uma solução milagrosa, pois se faltar leite é evidente que o governo abrirá as portas para entrada de leite do mercado externo, ainda mais em ano eleitoral.
Os contratos hoje parecem ser uma boa alternativa, mas para quem acredita que seja a solução de todos os problemas, pergunte a algum citricultor o que acontece com os contratos quando ocorre baixa acentuada no mercado.
Por parte do produtor os contratos deverão ser feitos com criteriosa análise das diversas situações que podem ocorrer no mercado.
Talvez, o maior benefício da formação de contratos seja a eliminação de variações em torno de 20 a 30% nos preços ao consumidor, em uma economia praticamente estável. Reduzindo este problema, gradualmente haverá possibilidade de se aumentar o valor final dos preços do leite, o que seria bom para toda a cadeia produtiva.