Todos os anos, representantes de produtores rurais de cada estado brasileiro realizam protestos, marchas e negociações buscando uma solução para um problema que é crônico no agronegócio brasileiro: o endividamento agrícola. Embora algumas conquistas sejam obtidas temporariamente, como renegociações e abatimentos, as dificuldades climáticas e econômicas, bem como a falta de um seguro agrícola abrangente, forçam os agricultores a requisitar novas soluções governamentais ou enfrentar a ruína financeira.
O problema é tão crônico que o próprio valor total oficial devido por agricultores no Brasil é desconhecido. Segundo Antônio da Luz, assessor econômico do Sistema Farsul, esse número é difícil de ser obtido porque o sigilo bancário dificulta o acesso a informações das dívidas contraídas no sistema financeiro brasileiro tomadas a partir de dinheiro do Tesouro. "Além do crédito oficial existem os empréstimos feitos por empresas e bancos privados, o que nos obriga a trabalhar apenas com estimativas."
O último levantamento detalhado foi realizado em 2008 pelo deputado Luis Carlos Heinze (PP/RS), que na época era relator da medida provisória 432, que renegociava dívidas rurais. Segundo os dados averiguados pelo parlamentar, naquele ano a soma dos valores devidos pelos produtores ao sistema financeiro alcançava R$ 90 bilhões. Apenas em 2008, 2,8 milhões de contratos foram renegociados, prorrogando R$ 75 bilhões. No entanto, segundo a Comissão de Agricultura da Câmara, no mesmo ano, os débitos do setor alcançaram a casa dos R$ 100 bilhões devido a catástrofes climáticas que prejudicaram as lavouras.
Atualmente, de acordo com a Subcomissão de Endividamento Agrícola da Câmara dos Deputados, a dívida acumulada dos produtores brasileiros deve chegar a R$ 140 bilhões. Mas um levantamento mais preciso já está sendo elaborado pelo órgão, que foi instituído na metade de 2011. Segundo o presidente da subcomissão, deputado federal Dionilso Marcon (PT/RS), foram requisitadas informações para conhecer os números reais das dívidas agrícolas. "Precisamos ouvir as entidades ligadas à agricultura, gestores púbicos, representantes das instituições financeiras entre outros que possam contribuir na discussão, além de também debater com os governos federal e estadual", enfatiza.
Segundo o deputado federal Nelson Padovani (PSC-PR), relator da subcomissão, a principal causa do endividamento seria a falta de um seguro agrícola para cobrir as despesas dos produtores quando há interferências climáticas na produção, como excesso de chuva, seca ou geadas, e também a falta de preços para os produtos. Dados do Ministério da Agricultura mostram que 55% das perdas na atividade agrícola são por falta da chuva, e outros 30% pelo excesso de água. "O que está acontecendo se deve à falta de prevenção, que seria o fundo para catástrofes. Por isso, o governo tem que entender que a ajuda não é uma despesa, e sim um investimento", afirma o parlamentar.
Para Padovani, a questão do endividamento está se agravando. O deputado lembra que, no passado, o governo já fez operações de renegociação, alongamentos por meio dos programas de securitização como o Pesa (Programa Especial de Saneamento de Ativos) e, mais recentemente, a Lei 12.249/10, que reabriu os programas de refinanciamento. "Mas tudo isso não alcançou o homem do campo, pois nos valores das dívidas foram embutidos muitos juros e multas, impossibilitando o pagamento, mesmo com negociações", afirma.
A principal mudança para evitar o endividamento seria a promoção de um seguro agrícola mais abrangente. Hoje em dia, de acordo com Antônio da Luz, os sistemas de securitização rural públicos no Brasil são falhos porque cobrem apenas o dinheiro que foi tomado dos bancos, e não toda a produção. Além disso, o setor privado dificilmente aceita assegurar os sinistros agrícolas devido aos custos muito altos. "Isso significa que, quando há uma frustração de safra, há endividamento. O agricultor gasta muito para produzir, e, quando tem uma safra ruim, precisa de quatro a cinco boas para empatar as perdas", destaca.
Segundo o economista, um seguro agrícola mais abrangente seria viável economicamente. "O Sistema Farsul já calculou com corretoras, e chegamos à conclusão de que a análise de risco e retorno é positiva. Os sinistros são recorrentes na agricultura, mas dificilmente atingem todas as regiões ao mesmo tempo."
As informações são do Jornal do Comércio, adaptadas pela Equipe AgriPoint.
Volume do endividamento desafia produtores rurais
Dificuldades climáticas, falta de seguro agrícola e ineficácia de políticas governamentais levam a dívida dos produtores rurais a se acumular ano após ano. Estimativas apontam que o montante do endividamento já chegou a R$ 140 bilhões.
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