Uruguai: NZFSU expande produção

O setor leiteiro foi o que mais cresceu no Uruguai dentre todos os setores agrícolas. Além da maior produção nas fazendas já existentes, o forte aumento nos litros captados também é explicado pela expansão da produção da New Zealand Farming Systems Uruguay, empreendimento lançado em 2006 e que tem gerado grandes expectativas. Hoje, é o maior produtor de leite do país e representa 8% da captação total.

Publicado por: MilkPoint

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O setor leiteiro foi o que mais cresceu no Uruguai dentre todos os setores agrícolas. Além da maior produção nas fazendas já existentes, o forte aumento nos litros captados também é explicado pela expansão da produção da New Zealand Farming Systems Uruguay (NZFSU), empreendimento lançado em 2006 e que tem gerado grandes expectativas. Hoje, é o maior produtor de leite do país e representa 8% da captação total.

A curta história da NZFSU tem sido particularmente difícil. Além do risco relacionado a um investimento com tecnologias novas para o país, somaram-se sérios problemas climáticos e financeiros (o recurso captado no mercado de valores neozelandês foi impactado pela crise financeira global de 2008/2009).

Assim, entre meados de 2010 e começo de 2011, o grupo Olam, de Cingapura, comprou 86% das ações, em um investimento estimado em US$ 110 milhões. Simultaneamente, a Olam estendeu um crédito milionário para a NZFSU completar seu projeto produtivo. Isso implica concretizar a área de irrigação projetada e por em funcionamento mais fazendas leiterias até completar 50, além de montar uma planta de rações e outros investimentos.

O crédito foi ampliado e dívidas foram pagas. Até o final de 2011, a Olam estendeu novamente o crédito desembolsando um efetivo de US$ 200 milhões, integrando capital e via empréstimo.

Com a chegada da Olam, a PGG Wrightson se desvinculou da gestão da NZFSU. Porém, continua como fornecedor principal no setor de sementes. Foi a PGG que administrou o projeto no Uruguai. Desde seu início, a NZFSU é cotada na Bolsa da Nova Zelândia.

Não se tratou somente de mudança de mãos, assunção de perdas e novo financiamento: a chegada da Olam implicou uma mudança na estratégia produtiva. O modelo neozelandês não funcionava no clima uruguaio: duas secas duras em poucos anos expuseram suas debilidades. Fixou-se uma nova estratégia: a produção leiteira deveria incorporar altos níveis de suplementação, incluindo reservas forrageiras e concentrados.

A NZFSU ainda não conseguiu estabelecer um lucro líquido. O exercício de 2010/11 teve perdas devido à seca, o que limitou a irrigação e obrigou um uso maior que o previsto de concentrados, que, por sua vez, ficaram mais caros.

Com nova seca entre 2011/12, a meta será empatar. "A produção ao longo de 2011 foi muito boa, mas o clima é uma 'montanha russa'", disse o informe da empresa aos acionistas. "Usaremos mais concentrado do que o esperado. Porém, produzimos nossos próprios silos de sorgo e milho e também silos de pastagens, o que é uma vantagem. Inicialmente, o projeto previa muito sorgo, para pastagem direta e para silo. Com a irrigação, começamos a expandir a área de milho para silo, que já começamos a colher com bons rendimentos: 17 a 22 toneladas de matéria seca por hectare. São quase 400 hectares que expandiremos a quase 1.000 no próximo ano", disse David Beca, especialista em produção leiteira.

"Antes de chegar ao Uruguai, dirigia o desenvolvimento de um estabelecimento leiteiro no Brasil. Cinco anos atrás, assessorei a Olam, quando começaram a analisar investimentos no setor lácteo da Nova Zelândia, e depois, os assessorei em sua estratégia para integrar a cadeia leiteira, deixando de ser somente compradores de produtos passando a ser produtores. O investimento no Uruguai é parte dessa estratégia".
"Tiveram enormes problemas climáticas no início. Trataram de instalar um sistema produtivo que era, como sabemos, modelado principalmente com base no sistema neozelandês. Olhando para trás, trata-se de um ambiente diferente ao do Uruguai e, inclusive, ao de outros países onde tenho experiência, como Austrália ou África do Sul, países do Hemisfério Sul, onde não é possível ter vacas produzindo bons níveis de leite - em portanto, bons lucros - sem um nível razoável de suplementação, em particular de concentrados".

Ele disse que a PGG Wrightson não impôs esse modelo exatamente, "porque sempre esteve apoiando o projeto. Tinham a convicção, que era geral, de que aplicavam o modelo correto. Logo, entendemos que necessitava de ajustes. Um aspecto chave é que temos que produzir e consumir grandes volumes de pasto por hectare: isso é o que fundamentará a rentabilidade futura, tal como era no plano inicial. Além disso, cremos que o sistema deve implicar em um maior estoque e carga, para manter a intensidade do pastoreio e ter uma boa resposta aos suplementos forrageiros e, particularmente, aos concentrados da dieta".

Beca disse que se busca uma dieta que inclua 5 a 7 quilos por dia por vaca em média, de concentrado (pode variar, segundo a época). "A ideia é que 35% da dieta anual esteja coberta por concentrados".

Ele também citou a questão genética. "No começo, pensamos que as vacas que tínhamos não eram adequadas para uma produção rentável pelo sistema projetado, mas hoje, estamos adequados. Talvez tenham mais genética dos Estados Unidos do que seria adequado para essas condições, mas já não consideramos um problema. O rebanho uruguaio tem uma alta proporção de genética do Estados Unidos, onde se seguem criando vacas para confinamento, que consomem a mesma dieta todos os dias e não têm que caminhar as distâncias que caminham as vacas nas fazendas uruguaias".

"As vacas neozelandesas são criadas para produzir quase sem concentrado e para pastar de forma mais agressiva. Pensamos que a vaca correta para o Uruguai é uma mescla, com uma porção significativa de genética dos Estados Unidos, mas também como uma genética mais orientada ao pastoreio, de forma que devemos cruzar ambas".

A NZFSU possui hoje 27.900 hectares de terra própria e arrenda 5.600 hectares. Em outubro de 2010 e agosto de 2011, vendeu dois estabelecimentos (Don Pepe, 2.400 ha com terra arrozeira, e Los Naranjos, de 945 ha) por um valor conjunto de US$ 11 milhões. "Seguimos fazendo algumas operações de terra, para melhorar nossos esquemas de irrigação, mas não estamos comprando superfícies importantes. Estamos muito cômodos com o tamanho atual do negócio".

A área leiteira é de 15.000 hectares e se aumenta na área de irrigação. "Queremos chegar a irrigar 40-50% da área leiteira para melhorar a viabilidade das pastagens e limitar o impacto das secas. Não chegamos a isso e devo dizer que a recente seca de novembro a janeiro foi um desafio maior. Pensamos que em um ano teríamos um aumento substancial na área irrigada".

Para levar eletricidade aos estabelecimentos, a NZFSU fez um acordo com a Administração Nacional de Usinas e Transmissões Elétricas (UTE) sobre as obras correspondentes, devendo investir vários milhões.

Na última primavera, a NZFSU tinha 32.000 vacas em ordenha e abriu sete fazendas (chegou a 39). "No outono, iremos a 45 fazendas, com 38.000 vacas, para chegar à primavera com 49 fazendas. No próximo verão, pensamos em completar a irrigação e alcançar 45.000 vacas em ordenha. Assim, faltaria somente uma etapa a mais: melhorar a fertilidade e, com a infra-estrutura completa, estaríamos a um ano do que consideramos um número estável de vacas e produção. O objetivo final é produzir 300 milhões de litros de leite anuais".

Segundo David Beca, a Olam está satisfeita com 86% das ações que possui na NZFSU: "A chave agora é que a empresa alcance um funcionamento bom e rentável. Necessita-se de mais capital para completar o projeto e, em princípio, pensou-se em ampliar o capital com todos os acionistas contribuindo. No final do ano passado, fizemos uma proposta, mas vimos que os acionistas minoritários não respaldariam. Assim, a Olam decidiu estender seu crédito, com a visão de que esse ano se completará a ampliação do capital e a Olam deixará de ser um credor. Hoje, não temos preocupação pelo financiamento".

Como pagarão os US$ 110 milhões de crédito, que vence no final do ano? "Não usamos tudo, mas, para a Olam, a ampliação de capital implicará em converter o que hoje é empréstimo em capital acionário convocando os acionistas minoritários a capitalizar em sua proporção. Por isso, não se considera a necessidade de ir ao mercado de capitais".

Questionado sobre se há um projeto industrial a longo prazo para processar leite, ele respondeu: "Não. Enviamos todo o leite à Conaprole e não há planos de montar uma planta. Estamos cômodos com a atual capacidade de processamento e, no caso da Conaprole, está ampliando para garantir que pode processar o leite".

Outras indústrias têm entrado em contato com a NZFSU para captar parte de sua produção. É possível? "Não podemos descartar nada e é muito difícil prever o futuro. Dependerá da oportunidade e do que se ofereça. O mais importante para nós é garantir que nosso leite possa ser processado e que nos paguem bem por ele. A Conaprole é quem tem nos dado isso. Temos contato regular com a Conaprole e estamos muito ajustados a nossos planos mútuos. É importante para eles e para nós ter confiança nos respectivos projetos futuros. A relação com a indústria tem sido muito positiva e sentimos que tem sido muito bons sócios, captando todo o leite e, por sua vez, eles têm sido muito competitivos, pagando um bom preço".

A reportagem é do El País, traduzida e adaptada pela Equipe MilkPoint.
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José Ultímio Junqueira Junior
JOSÉ ULTÍMIO JUNQUEIRA JUNIOR

RIBEIRÃO PRETO - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 04/04/2012

Lugares diferentes... climas diferentes... desafios diferentes... vantagens competitivas diferentes... não seria implantando o sistema idêntico ao da NZ que teriam sucesso ! quem sabe não serve de alerta para buscarem as adaptações necessárias na Bahia...
Qual a sua dúvida hoje?