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Stuart Donald, da Nova Zelândia, analisa o potencial do leite brasileiro

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 09/06/2004

11 MIN DE LEITURA

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Stuart Donald, neozelandês, é engenheiro agrônomo e sócio da empresa de consultoria agrícola Agri Frontiers, especializada em auxiliar empresas que tenham interesse de investir ou fazer negócios no Brasil, bem como empresas brasileiras com interesse de colocar seus produtos no exterior.Também, tem prestado consultoria a empresas nacionais e a um governo estadual, visando desenvolver a indústria leiteira. Prestou também consultoria para a DPA.

Sua experiência o credencia para o trabalho. Donald, formado na Inglaterra, morou nos 5 continentes, onde implantou projetos de produção agrícola e pecuária, e trabalhou em multinacionais como Cargill e Monsanto. Nessa última, já no Brasil, era o responsável pela área de biotecnologia. Em 2003, fundou a Agri Frontiers.

Antes dessa passagem pelo Brasil, já havia trabalhado por aqui há vários anos atrás, como engenheiro agrônomo nas fazendas da Agropecuária CFM, no interior do Estado de São Paulo.

Em entrevista exclusiva ao MilkPoint, Donald conta um pouco de sua experiência no setor agrícola e as novas tendências para a cadeia produtiva do leite no Brasil.


MilkPoint: O Sr. tem uma trajetória de vida pouco comum, ao ter morado em todos os continentes. Como isso se deu e como veio parar no Brasil?

Stuart Donald: Quando me formei, fui trabalhar em uma empresa de consultoria, em Londres, que atuava em regiões tropicais. Depois, consegui um emprego no Brasil, na Agropecuária CFM que, na época, era do Frigorífico Anglo. Eu administrei 3 fazendas do grupo, que atuavam em pecuária de corte, leite, cereais e cana-de-açúcar. Após isso, recebi uma oferta da mesma empresa em que trabalhei em Londres, para implantar um projeto de pecuária de corte em Papua Nova Guiné, na Ásia. Depois de 4 anos lá, fui para a Cargill, desenvolver a área de sementes e outros negócios na Zâmbia, na África. Depois, fui para Minneapolis, na sede da Cargill, onde fiquei por 1 ano, sendo novamente enviado ao Brasil para coordenar o marketing e a nova área de biotecnologia. Com a aquisição pela Monsanto, em 1999, fui para a empresa e gerenciei os negócios de biotecnologia e algodão. Tïnhamos uma joint-venture com o Grupo Maeda e a Delta Pine, a qual eu coordenava. Fiquei na Monsanto até 2002, quando sai e abri a Agri Frontiers.

MilkPoint: Como o Sr. analisa a cadeia produtiva do leite no Brasil?

Stuart Donald: A produção de leite no Brasil é bastante interessante. A cadeia é formada por muitos pequenos produtores de leite, o que complica ou muda o cenário comparando com a Nova Zelândia. Sendo assim, os pequenos produtores sempre terão um desafio a ser encarado para que eles tenham um lucro sustentável e um produto de qualidade. Cada vez mais os consumidores e a indústria estão exigindo leite de melhor qualidade e mais barato. É um grande desafio para o pequeno produtor, que está mal capitalizado e mal estruturado para atender todas estas exigências do mercado. A maioria dos setores do agronegócio mundial investe em propriedades maiores, o que os tornam capazes de melhorar a eficiência, a produtividade e a qualidade do produto a ser comercializado. Eu acho que o grande desafio no Brasil é mudar o conceito de produção. É impossível, nesse ambiente, que um produtor de 1 a 5 vacas, por exemplo, tenha sustentabilidade e entregue um produto de altíssima qualidade.

MilkPoint: Mas qual seria a solução para os pequenos produtores?

Stuart Donald: Mundialmente, os pequenos produtores estão sumindo. A única maneira deles conseguirem sobreviver é juntando esforços, por exemplo para comprar em conjunto, utilizar maquinário em conjunto ou vender o leite em conjunto. Os pequenos produtores também devem se unir e criar uma cooperativa, para que juntos consigam produzir leite em maior escala. Mas a cooperativa precisa ser bem administrada, precisa ser uma empresa de negócios, o que sem sempre ocorre aqui. Na Nova Zelândia, por exemplo, todos os produtores participam de alguma cooperativa, sendo que quase a totalidade do leite é captado e industrializado por uma única cooperativa, a Fonterra. Aqui no Brasil há um número muito grande de cooperativas. Muitas vezes, acabam agregando custos e não valor. Mas, além disso, deve haver ainda um mecanismo que incentive os produtores de leite a expandirem a produção, ganhando escala de produção.

"Aqui no Brasil há um número muito grande de cooperativas. Muitas vezes, acabam agregando custos e não valor."

MilkPoint: O Sr. acha que o pagamento diferenciado por volume é a solução?


Stuart Donald: O pagamento por volume está reduzindo o número de produtores? Eu acho que o que vai mandar mais são as exigências de qualidade do produto. Com mais exigências nas fazendas, os produtores que não tiverem capacidade de cumprir estas medidas irão desaparecer. A indústria esta mudando, mas temos vários contrastes aqui no Brasil. Temos muitas pessoas ganhando dinheiro com leite e tem pessoas perdendo dinheiro, talvez eles não saibam que estão perdendo dinheiro. Por ser uma atividade familiar, não há o controle necessário. Para que esta atividade seja sustentável, especialmente porque o custo de vida está subindo, o produtor precisará expandir a produção, pois o preço do leite não mudará muito em dólar, pois seguirá uma tendência mundial e precisa ser competitivo. Pelo contrário, a tendência para commodities é ter o preço reduzido. É necessário abaixar os custos ou produzir mais leite. Há dois desafios: o primeiro é dos pequenos produtores expandirem a produção e talvez juntar-se com os vizinhos, criar escala; o outro desafio é que é preciso produzir o que a indústria solicita. Por enquanto a maior parte do leite fica aqui no Brasil, mas isso deve mudar aos poucos.

"Temos muitas pessoas ganhando dinheiro com leite e tem pessoas perdendo dinheiro, talvez eles não saibam que estão perdendo dinheiro."

MilkPoint: Na sua concepção, o Brasil terá importância no mercado internacional de lácteos?


Stuart Donald: Sim, claro, o Brasil, que, já é um grande produtor de leite, tem tudo para aumentar a produção de leite e elevar as exportações. O Brasil dispõe de condições que favorecem o seu crescimento no setor, entre eles: terras férteis, tradição agropecuária, clima adequado e tecnologia apropriada.

MilkPoint: Porque o setor leiteiro não cresce no mesmo status que os setores de corte e soja, por exemplo?

Stuart Donald: Não cresce devido à falta de exportações. Grande parte do leite produzido no País é consumido pelo mercado doméstico e o mesmo não cresce, conseqüentemente a produção não se desenvolve à mesma taxa. Já a demanda mundial está crescendo e sempre vai crescer. A exportação gera mais lucros, mas também quando se exporta é necessário atender os padrões de qualidade exigidos pelo mercado externo. Para exportar ao mercado europeu e asiático, por exemplo, os padrões de qualidade são bem mais altos que no Brasil. As empresas devem elevar os padrões de qualidade para que elas possam colocar o produto no mercado estrangeiro. O Frigorífico Bertin, por exemplo, para atender todas às exigências do mercado internacional, irá exigir as melhores carnes para exportação e determinarão uma série de regras para o seu fornecedor. Caso as regras impostas pelo frigorífico não sejam atendidas, ele não comprará. Os produtores, assim, investem no processo de produção. Vários setores já estão crescendo nesta prática, entre eles o gado de corte, o algodão, a soja e o frango. As exportações trazem benefícios para os setores agrícolas. Além do lucro, a questão da diversificação do risco é importante, pois depender só do mercado interno ou externo aumenta os riscos da atividade. Eu acho que a mesma coisa deveria acontecer com o setor leiteiro. Tem que acontecer, pois não acho que dependendo do mercado doméstico, o Brasil terá avanço significativo na produção e o nível de profissionalismo que precisa ter.

"Não acho que dependendo do mercado doméstico, o Brasil terá avanço significativo na produção e o nível de profissionalismo que precisa ter."

MilkPoint: Caso isso aconteça, o ambiente de negócio da pecuária de leite pode mudar?


Stuart Donald: Sim, pois o produtor que responder pela melhor produção terá um preço melhor sobre o produto. O que falta são as empresas ligadas ao setor buscarem mercados exportadores. O grande problema é que o mercado de leite é dominado por algumas companhias líderes. A chegada da DPA no País é interessante, mas ainda não sabemos a visão deles. Se eles entrarem na exportação do leite, como parece, podem movimentar os produtores de leite. Vão precisar de volume e ter um padrão de qualidade avaliado em sólidos totais, gordura, proteína, células somáticas, etc. As cooperativas e pequenas empresas que fornecerão leite para a DPA precisarão se adaptar a isso. Há também oportunidades para empresas menores exportarem os seus produtos para o estrangeiro, desde que busquem mercados de nicho. Como os frigoríficos brasileiros, que estão mandando o produto para supermercados na Europa. É esperar que a mesma coisa possa acontecer com o leite. As exportações podem causar impactos positivos no mercado doméstico de produção.

"A chegada da DPA no País é interessante, mas ainda não sabemos a visão deles. Se eles entrarem na exportação do leite, como parece, podem movimentar os produtores de leite."

MilkPoint: Como o Sr. vê os sistemas de produção de leite no Brasil?


Stuart Donald: É preciso lembrar que, em se tratando de Brasil, é quase impossível generalizar. Há um grupo de produtores bastante interessante, com 100 a 200 vacas, e que são eficientes e produzem leite a baixo custo, utilizando pastagens intensivas com ou sem suplementação. Há também confinamentos que ganham dinheiro, mas minha visão é que um confinamento é mais um comerciante de grãos do que produtor de leite, pois depende muito das cotações dos grãos e da ração, em comparação ao preço do leite.

MilkPoint: O Sr. acha que o sistema mais interessante é o pastejo?

Stuart Donald: Depende. Acho que perto das grandes cidades, o confinamento tende a ser a melhor opção, por caso do alto preço de terra. Mas o sistema a pasto é em geral interessante, pois temos área e tecnologia para exploração de pastagens com produtividade e qualidade. Existe a tecnologia para conseguir altos retornos com sistemas de leite a pasto, como é feito na Nova Zelândia. Porém, o conceito tem que mudar. Produtores de leite a pasto tem que pensar mais em retorno ou lucro por hectare que volume de leite por vaca. Isso porque o sistema de leite a pasto depende em maximizar o produção de pasto de alta qualidade por hectare e não altas produtividades de leite por vaca. A pastagem tem que ser tratada como um cultura de milho, por exemplo, aonde se utiliza variedades melhoradas, aonde se fertiliza e com controle das pragas. O pasto tem que ser manejado com rotação. Outro fator importante para os sucesso do sistema é parar a produção para 2-3 meses durante o periodo mais seco. Esta prática ajuda a minimizar os custos de suplementação etc. e facilita o manejo do rebanho em termos de reduzir a incidência de mastite e concentrar a parição na mesma época. Com este modelo, é possível produzir leite eficientemente e com qualidade.

"Produtores de leite a pasto tem que pensar mais em retorno ou lucro por hectare que volume de leite por vaca."

MilkPoint: Como o Sr. vê o "boom" do agronegócio nos últimos tempos?


Stuart Donald: O Brasil sempre teve um grande potencial agrícola, porque tem uma massa de terras impressionante, além de um potencial para desenvolver novas áreas e clima favorável. Por estas razões que diversas empresas mundiais investem no País, há muitos anos. Eles tinham a perspectiva de que o Brasil poderia ser um grande potencial na área agrícola. Nos últimos 5 anos, realmente, o agronegócio tem crescido muito, mas é preciso levar em conta que parte do efeito é fruto da estagnação dos outros setores, visto que a economia está parada. Uma das razões para o crescimento do agronegócio foi a abertura de suas fronteiras para importar novas tecnologias e produtos de países que antes não podiam estar no País. Quando estive no Brasil pela primeira vez, não pude importar um computador. Tive que comprar um modelo brasileiro, muito defasado. Isso mudou. Está ficando mais fácil trazer novidades ao Brasil e também para empresas investirem no Brasil. Essa troca de tecnologias é muito benéfica ao país.

MilkPoint: Qual a imagem do Brasil no exterior?

Stuart Donald: Muitas companhias estrangeiras já conhecem o Brasil, mas muitas ainda têm um pouco de receio de investir no País, porque elas se sentem inseguras com a instabilidade econômica e política, como se viu no caso da eleição do Lula, precedida por momentos de grande nervosismo no mercado. Os juros altos, o risco-país, MST, impostos altíssimos também são fatores que desestimulam os novos investidores. O Brasil, hoje, não é para todo mundo. A minha consultoria é exatamente isso, buscar investimentos bons e sólidos para empresas que desejam investir no Brasil. Há sempre parceiros e investimentos rentáveis. Não podemos generalizar, há sempre boas oportunidades, mas também riscos. Morei em todos os continentes e optei por ficar aqui, pois as possibilidades de crescimento são maiores. O grande desafio para o Brasil nos dias de hoje é infra-estrutura para dar conta do crescimento das exportações e também melhorar o ambiente para que o setor privado invista e trabalhe. O setor privado, doméstico e internacional, tem uma grande capacidade de fazer a economia crescer, mas o governo precisa fazer sua parte. O governo tem que focar em criar um "framework" justo com regras claras e que ofereça condições adequadas para o setor crescer. O governo tem que resolver com mais agilidade problemas e barreiras que afetam o crescimento do setor. Por exemplo, a falta de uma Lei de Biotecnologia que funcione está causando um grande atraso em investimentos em ciência, a chave de uma agropecuária moderna e competitiva. Outras áreas que precisam de atenção são o regime de impostos, que tem ser simplificado, e a redução de burocracia, que impede investimento.

"O grande desafio para o Brasil nos dias de hoje é infra-estrutura para dar conta do crescimento das exportações e também melhorar o ambiente para que o setor privado invista e trabalhe."

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RONALDO AUGUSTO DA SILVA

BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 14/06/2004

Permitam-me fazer os seguintes comentários, sobre os quais eu gostaria de ter a réplica do Sr. Stuart Donald.
Há uma incoerência absoluta (não relativa), na resposta à segunda pergunta. O pequeno produtor, o "roçeiro", que pratica a pecuária de subsistência, utilizando a mão-de-obra familiar, produzindo no período de chuva normalmente o dobro de leite do período da seca, por vários fatores, tem um custo baixíssimo. Por consequência, a qualidade do leite produzido é muito baixa. É impossível, como disse o Sr. Stuart, que esse microprodutor alcance qualidade nesse nível de produção.
Muito bem, a produção em escala maior pressupõe investimento. A remuneração desse investimento implica em aumento do custo, total e por unidade produzida (litro). Como conciliar, portanto, produção, produtividade qualidade com menor custo? Entenda-se menor custo como aquele tomado em relação ao custo do personagem caracterizado no início destes comentários, o qual o governo insiste, irresponsavelmente, em financiar e incentivar, sem avaliar os riscos para a saúde, advindos do consumo de leite contaminado. Então a política do governo está errada? Tenho certeza que sim! Não obstante, - e permita-me solicitar números representativos do custo de produção do leite, nacionais e internacionais, - como substituir esse agente produtor altamente pulverizado e substituí-lo por unidades de alta produção e qualidade, com custo inferior ao dele.
Ronaldo Augusto

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